Revista 10: Campanha Que Rio Queremos

08/11/2019 - 6:02

Desenvolvida para questionar, proteger e alertar sobre o destino que estamos dando aos nossos rios e, consequentemente, à bio-diversidade e à vida humana, a Campanha Anual de Comunicação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) ‘Que Rio Queremos? Cuidar é melhor que destruir’ visa reforçar a principal preocupação do Comitê em todas as suas esferas de atuação. Seu objetivo é propor reflexões e mudanças de conduta: que deixemos de ser uma sociedade que mata rios para sermos uma sociedade que abraça e revitaliza seus corpos d’água.

A campanha tem como mote os rompimentos de barragens de mineração, que impactaram severamente as Bacias dos Rios Doce e Paraopeba, respectivamente em 2015 e 2019, mas não se limita a esse assunto. “A sociedade tem que escolher. Ou ela preserva ou ela degrada e mata os rios. E não é só a mineração que degrada e polui, nós temos ainda uma quantidade enorme de esgoto nos nossos rios. Tem o problema com os agrotóxicos, de uma série de produtos que ainda têm um efeito danoso sobre as águas. É preciso entender que não sobrevivemos com a destruição de um bem tão essencial quanto as águas, quanto o rio”, afirma o presidente do Comitê, Marcus Vinícius Polignano.

Semana Rio das Velhas 2019

Marcando o lançamento da campanha ‘Que rio queremos? Cuidar é melhor que destruir’, a Semana do Rio das Velhas 2019, realizada entre os dias 24 e 29 de junho, contou com uma programação repleta de atividades, que percorreu o Alto, Médio e Baixo Rio das Velhas. A Semana acontece todos os anos e é um momento de união e integração entre os povos da bacia e parceiros do CBH Rio das Velhas.

Um dos pontos altos da Semana foi a Exposição de Fotos que ficou entre os dias 24 de junho e 08 de julho na Estação Central do metrô de Belo Horizonte. A ideia foi apresentar, de maneira lúdica, o rio que temos, o rio que queremos e o que o CBH Rio das Velhas tem feito em ações de recuperação e preservação de área.

Dentre os muitos que passam ali, dia e noite, a exposição chamou a atenção da aposentada Ivanilde Fernandes. Os problemas e desafios do Rio das Velhas a fizeram lembrar da sua terra natal, na Bacia do Rio Jequitinhonha. “O rio que eu quero é um rio bem largo igual eu tinha quando era criança no interior de Minas [em Rubim]. Hoje em dia o rio lá secou e ficou só a terra. Desmatou tudo também né!? Antes, ao redor do nosso rio era cheio de árvore, mas foram tirando, tirando, até o rio secar. Acho bacana [a exposição no metrô] porque as pessoas veem e sabem como está a situação, o que precisa ser feito para mudar”.

Além da Exposição de Fotos, a Semana Rio das Velhas 2019 percorreu ainda os municípios de Curvelo, Buenópolis e Lassance com uma série de atividades que buscaram chamar a atenção para a necessidade de preservação da bacia:

Coletiva de Imprensa para lançamento da campanha ‘Que rio queremos? Cuidar é melhor que destruir’: Concedida pelo presidente do Comitê, Marcus Vinícius Polignano, buscou apresentar a diversos veículos de comunicação e à sociedade o conjunto de atividades que impactam negativamente o rio e a vida no território, assim como os dados sobre o que o Comitê já investiu em ações de recuperação na bacia.

Palestra ‘Como nascem os rios na cidade? A experiência do CBH Rio das Velhas na valorização e revitalização de nascentes urbanas’: Realizada na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte, tratou-se de um bate-papo educativo sobre o que é um comitê

Atividades da Semana Rio das Velhas 2019. 

Travessia orientada por áreas de nascentes em Belo Horizonte – Uma realidade possível para o rio que queremos nos centros urbanos: A ação levou participantes para uma visita por três nascentes revitalizadas pelo CBH Rio das Velhas, que integram as bacias do Ribeirão Arrudas e Ribeirão Onça. Presentes em pontos diversos da cidade, as nascentes recuperadas com uso do recurso da cobrança pelo uso da água demonstraram três estágios diferentes de conservação e os desafios e vulnerabilidades que enfrentam ao estarem inseridas dentro do contexto urbano de uma grande cidade, como Belo Horizonte.

104° Reunião Plenária do CBH Rio das Velhas: Realizada em Curvelo, o encontro trouxe para o debate pautas importantes como a qualidade da água em diversos pontos da calha do Rio das Velhas, o trabalho realizado em saneamento pela Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) em Curvelo e pelo SAAE (Serviço Autônomo de Saneamento Básico) em Itabirito, e a situação das barragens de rejeitos no Alto Rio das Velhas.

Reunião Ordinária do Subcomitê Santo Antônio-Maquiné e Presidência do CBH Rio das Velhas: No encontro, realizado em Curvelo, conselheiros do Subcomitê local debateram com a gestão do Comitê e da Agência Peixe Vivo o andamento das últimas ações em execução na região.

Fórum de Desenvolvimento ‘Um olhar para a agricultura, educação e o comércio de Buenópolis’: Mais de 500 pessoas participaram do encontro, promovido pela prefeitura municipal, pelo Sebrae Minas, Sicoob/Fundação Credinor, Emater e apoiado pelo CBH Rio das Velhas, ocasião em que foi divulgada a campanha ‘Que rio queremos? Cuidar é melhor que destruir’.

Ações de encerramento em Lassance: Para finalizar a Semana do Rio das Velhas 2019, diversas atividades culturais e de educação ambiental foram realizadas no município de Lassance, no Baixo Rio das Velhas. Doações de mudas, degustação de produtos da culinária local e apresentação das ações desenvolvidas pelo Comitê na região marcaram o encerramento.

Atividades de Educação Ambiental com o Projeto Manuelzão: Na comunidade de Curimataí, em Buenópolis, a ‘Unidade Móvel de Educação Ambiental’ do Projeto Manuelzão levou informações aos moradores com exposição sobre os peixes da Bacia do Rio das Velhas, demonstrações de disponibilidade da água e de amostras de água de lugares preservados, como a Bacia do Rio Cipó, e alterados, como a Lagoa da Pampulha e o Ribeirão Arrudas.

Seminário ‘Que rio queremos?’: Realizado nas comunidades de Pé de Serra e Curimataí, em Buenópolis, buscou apresentar a campanha de comunicação do Comitê e mobilizar os moradores em torno de ações de recuperação de nascentes e demais áreas de preservação na região.

Que rio temos

– 16 municípios de um total de 51 na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas não possuem coleta e nem tratamento de esgoto;
– 82 barragens de rejeitos instaladas na região conhecida como Alto Rio das Velhas, sendo 16 sem garantia de estabilidade. Parte delas, se romper, pode comprometer significativamente o abastecimento da capital e da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH);
– O lixão é a destinação final de resíduos sólidos que predomina na Bacia do Rio das Velhas: ocorre em 14 municípios (33% do total);
– Analisando os usos de recursos hídricos sobre as vazões disponíveis em toda a Bacia do Rio das Velhas, chega-se à conclusão de que a demanda concedida excede a oferta de água do rio em mais de 500% na região da sub-bacia do Rio Bicudo, em quase 300% na sub-bacia do Ribeirão Picão e em 59% na região conhecida como Alto Rio das Velhas;
– Sozinha, a atividade de irrigação é responsável por mais de 35% da água que é efetivamente consumida na Bacia do Rio das Velhas;
– As Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) dos Ribeirões Arrudas e Onça, que tratam cerca de 70% do esgoto de Belo Horizonte, não removem nutrientes da água, em especial nitrogênio e fósforo, que contribuem significativamente para proliferação de aguapés e posterior acúmulo de matéria orgânica em decomposição na água. O fenômeno, conhecido como eutrofização, culmina numa queda abrupta de oxigênio na água e os peixes são os primeiros a serem afetados – daí as tão comuns mortandades observadas principalmente nas regiões do Médio e Baixo Rio das Velhas;
– Em relação à balneabilidade, de um total de 19 estações de monitoramento da qualidade das águas do Rio das Velhas, todas (entre os anos de 2009 e 2012) apontaram a categoria Ruim ou Péssima, apresentando na quase totalidade condições impróprias para recreação de contato primário.

Fonte: Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas e FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente).


Foz do Ribeirão Onça em seu encontro com o Velhas: um dos pontos mais críticos de toda a bacia.

Investimentos em preservação e recuperação

Melhorar, em qualidade e quantidade, as águas do Rio das Velhas é um dos principais objetivos do CBH Rio das Velhas que realiza a gestão descentralizada e participativa dos recursos hídricos da bacia, na perspectiva de proteger seus mananciais e contribuir para o seu desenvolvimento sustentável.

Diante disso, por meio dos recursos arrecadados com a Cobrança Pelo Uso da Água, desde 2011 até maio de 2019, o Comitê já investiu mais de R$ 42 milhões com a contratação de 57 projetos e estudos, sendo que 37 já foram finalizados e 20 ainda estão em execução.

O presidente do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, explica que os projetos contratados possuem uma diversidade de temas e são realizados em toda a bacia. “O nosso objetivo é alcançar a disponibilidade de água em quantidade e qualidade, visando garantir os múltiplos usos e a segurança hídrica da Bacia do Rio das Velhas. Para isso, contratamos projetos diversos que abrangem toda a bacia”.

Polignano complementa dizendo que o CBH Rio das Velhas tem mostrado a importância de uma gestão hídrica eficiente para a atual e futuras gerações. “A água é um bem comum e difuso e precisa ser vista dentro da biodiversidade, pois é vital para todo o ecossistema. Nós do CBH Rio das Velhas temos nos empenhado em realizar uma gestão participativa e descentralizada, visando melhorar cada vez mais a qualidade de vida das pessoas que vivem na bacia e também conscientizando-as sobre a importância de preservar o que temos hoje”, disse.

Como forma de impulsionar a realização de ações de recuperação e preservação no território, envolvendo o maior número de atores possíveis, o CBH Rio das Velhas desenvolve ainda uma série de outros Programas e projetos.

Revitaliza Rio das Velhas

Em 2017, o CBH Rio das Velhas, em parceria com a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) e outros atores, iniciou o Programa ‘Revitaliza Rio das Velhas’, que estabelece o compromisso por uma atuação sistêmica e coordenada com o objetivo de alcançar a disponibilidade de água em quantidade e qualidade, visando garantir os múltiplos usos da água e a segurança hídrica da Bacia do Rio das Velhas, especialmente da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

O Revitaliza tem três eixos de atuação:

(1) recuperação de passivo ambiental e tratamento de esgotos, composta por ações de saneamento e ações de revitalização dos Ribeirões Arrudas e Onça; (2) preservação e produção de água e (3) gestão ambiental e participação social com ações de integração dos instrumentos de gestão, enquadramento, fortalecimento do CBH Rio das Velhas, planejamento urbano e controle de mortandade de peixes e de cianobactérias.

Projetos hidroambientais

O CBH Rio das Velhas tem atuado na execução de projetos hidroambientais voltados para a recuperação e conservação de nascentes, cursos d’água e todo o ecossistema que alimenta e mantêm vivos os rios da bacia. São projetos que buscam a manutenção da quantidade e da qualidade das águas de uma bacia hidrográfica, preservando suas condições naturais de oferta de água. Os projetos hidroambientais se caracterizam pela ação pontual em pequenas áreas espalhadas por uma bacia hidrográfica, geralmente em suas nascentes, para garantir que suas condições naturais sejam preservadas.

Os resultados já alcançados com os projetos são animadores:

• Mais de R$ 42 milhões investidos com a contratação de 57 projetos e estudos;
• Plantio de 230 mil mudas de espécies nativas na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas;
• Quase 80 mil metros de cercas em áreas de proteção;
• Construção de 3.300 barraginhas (bacias de contenção);
• Elaboração de 21 Planos Municipais de Saneamento Básico, de um total de 51 municípios da bacia;
• Cadastro de mais de 600 nascentes urbanas na Bacia do Ribeirão Onça, em Belo Horizonte;
• Revitalização de mais de duas dezenas de nascentes urbanas nas Bacias dos Ribeirões Arrudas e Onça, em Belo Horizonte, Contagem e Sabará.

Nascente no Quilombo Mangueiras na bacia do Ribeirão Onça.

O poder da indagação

Impulsionadas pela pergunta ‘Que rio queremos?’, diversas atividades têm acontecido no âmbito do CBH Rio das Velhas e Subcomitês, desde que a campanha institucional foi lançada.

Uma delas, realizada no início do mês de julho e organizada pelo Subcomitê do Rio Cipó, tratou-se de uma expedição ao longo do Ribeirão Soberbo que levou alunos da região a refletir sobre a importância da preservação dos mananciais locais.

O Ribeirão Soberbo está totalmente inserido no distrito Serra do Cipó, município de Santana do Riacho. Nasce numa região conhecida como Mãe d`água e forma a cachoeira Véu da Noiva – ponto turístico bastante procurado por visitantes. A montante, o ribeirão apresenta águas límpidas que formam a cachoeira. Após atravessar todo o distrito e chegar à sua foz, no encontro com o Rio Cipó, sua qualidade decai um pouco.

A professora de geografia, Carolina Noronha, mostrou aos seus alunos da Escola Estadual Dona Francisca Josina, durante a expedição, as consequências da perda das matas ciliares: erosão, seca, assoreamento, e alertou: “Para recuperar a vegetação ciliar leva anos. É mais fácil preservar do que recuperar”.

Divididos em grupos, os alunos verificaram, ao longo do percurso, a biodiversidade da Bacia do Rio Cipó, a ocupação humana do território, além de terem promovido o monitoramento do oxigênio diluído, pH e vazão do ribeirão.

No caminho, os alunos verificaram que o ribeirão, a montante da cidade, sobrevive bem, mas à medida em que desce em direção à foz a situação muda: o gado é criado às margens do Soberbo, compactando o solo – o que impede a infiltração da água da chuva e consequente reabastecimento do ribeirão – e pisoteando as mudas de árvores – o que atrasa em muito a recuperação da mata ciliar.

O encontro com o Rio Cipó na foz do Ribeirão Soberbo foi marcado pela celebração da caminhada e um rápido mergulho nas águas claras do Rio Cipó.

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiz Ribeiro / Luiza Baggio / Léo Ramos
*Fotos: Léo Boi, Leonardo Ramos, Michelle Parron, Ohana Padilha, Tiago Rodrigues