Água fresca, limpa e boa de beber

10/10/2019 - 15:06

Sobre as boas águas do Rio Taquaraçu que correm para o Velhas. O rio Taquaraçu em toda a sua generosidade e graça é formado pelo encontro do rio Vermelho com o rio Preto, no município de Caeté, Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Cercado pelas belas paisagens das serras mineiras, a bacia hidrográfica do rio Taquaraçu abriga inúmeras nascentes, cachoeiras, corredeiras, córregos e grande diversidade de flora e fauna. Suas riquezas naturais cativam os amantes da natureza.

Além de Caeté, a bacia é composta pelos municípios de Nova União e Taquaraçu de Minas. Nos limites de Jaboticatubas e Santa Luzia, as águas do rio Taquaraçu correm para o rio das Velhas na margem direita, que recebe de bom grado as águas de boa qualidade de seu afluente.

Ao todo, a bacia ocupa uma área de aproximadamente 796 km² e seus principais afluentes são o rio Vermelho, rio Preto, rio do Peixe, Ribeiro Bonito e o Ribeirão da Prata. Há também centenas de pequenos riachos e córregos que contribuem para a fluência do rio Taquaraçu.

O importante curso d’água se destaca por ser fonte de água boa para o rio das Velhas nas proximidades da RMBH. Isso se deve, sobretudo, à baixa urbanização do território – a maior parte da população inserida na sub-bacia do rio Taquaraçu encontra-se em áreas rurais.

Outro fator que contribui para a boa qualidade das águas da região são as unidades de conservação. Segundo o Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH) do CBH Rio das Velhas, sete estão inseridas parcialmente na Unidade Territorial Estratégica (UTE) Rio Taquaraçu.

Ainda de acordo com o PDRH, duas estações de amostragem de qualidade das águas operadas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) estão inseridas na sub-bacia, sendo uma no rio Taquaraçu e outra em seu afluente, o rio Vermelho. As águas dos rios nos trechos das estações estão enquadradas em Classe 1, que permitem o consumo humano dos recursos hídricos após tratamento simplificado.

Devido às características naturais e pelas suas boas águas, percebe-se o potencial turístico existente na região com as possibilidades de práticas de esportes radicais, ecoturismo e turismo histórico.

Em tom de orgulho, Mariana Morales, coordenadora do Subcomitê Rio Taquaraçu, destaca as belezas naturais do território. “Mesmo inserido na RMBH, a região consegue manter as suas características rurais – ainda bem fortalecidas – pelo fato dos municípios terem pouca urbanização. O clima de interior é presente no território, as grandes extensões rurais nos colocam em uma situação de belezas naturais com várias cachoeiras, rios e corredeiras”.

Porém, não são apenas de boas novas que se caracteriza o rio Taquaraçu. Há de se lembrar que o território não possui políticas públicas que assegurem o saneamento básico da população que por lá reside. De acordo com as informações do PDRH, o território do rio Taquaraçu não dispõe de qualquer tipo de tratamento de esgoto, sendo os dejetos lançados in natura nos corpos d’água, o que é um grande motivo de preocupação.

Para melhorar esse cenário, o CBH Rio das Velhas, por meio do Subcomitê Rio Taquaraçu, financiou a realização dos Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) de Caeté, Nova União e Taquaraçu de Minas, em 2013, com os recursos oriundos pela Cobrança pelo Uso da Água. “Os municípios possuem sistema de coleta de esgoto, mas não há tratamento em sua totalidade. Em Nova União, existem duas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) inoperantes, Taquaraçu de Minas não possui nem a estação e Caeté, no território que compreende a sub-bacia, também não conta com ETE”, relatou Morales.

Outros impactos na sub-bacia são relacionados às atividades de agropecuária desenvolvidas de forma inadequada e a supressão de matas ciliares para a ocupação em Áreas de Preservação Permanente (APP). Morales ressalta que a pecuária extensiva, o chacreamento irregular em áreas rurais e a supressão de Mata Atlântica, bioma dominante na região, dialogam diretamente com o carreamento de sedimentos para o curso d’água.

Uma boa ideia

Apesar de se encontrar quase às margens do rio das Velhas, a comunidade rural de Taquaraçu de Baixo, pertencente ao município de Santa Luzia, já sofreu muito com a falta de água. No entanto, há 25 anos os moradores da comunidade, por meio da Associação Comunitária de Moradores de Taquaraçu de Baixo, encontraram uma solução coletiva e de baixo custo para resolver o problema de abastecimento e de distribuição de água.

Sem serviços públicos de saneamento básico, os moradores da comunidade não tinham água nas torneiras. Os adultos e crianças bebiam água do rio e as famílias cozinhavam com a água que era trazida em baldes. Taquaraçu de Baixo não podia mais esperar que o Estado resolvesse o déficit de acesso à água na comunidade rural.

“A gente não tinha água para tomar banho e nem beber. Quando o rio estava sujo, remexido pelas águas da chuva, a gente ficava com nojo de tomar banho. E para cozinhar era preciso ferver e, às vezes, até mesmo coar a água”, comenta o presidente da Associação de Moradores de Taquaraçu de Baixo, Francisco do Carmo Torres Lima.

Como a comunidade encontra-se distante dos centros urbanos, no lugar de partirem para um sistema centralizado de abastecimento, a visão foi descentralizar para tornar a gestão e sustentação comunitária possível. Os moradores colocaram a mão na massa e mapearam as casas. Em seguida, perfuraram um poço artesiano que é totalmente legalizado IGAM. E, com alguns quilômetros de encanamento hidráulico subterrâneo, que foi cavado em mutirões pelos moradores da comunidade, o problema foi resolvido. Cerca de 120 famílias, uma escola e um centro comunitário passaram a receber água potável por meio de um microssistema de gestão comunitária. A solução coletiva de abastecimento é de baixo custo, cada família paga R$ 15 mensais para a manutenção do sistema – energia e materiais de construção – que atende com eficiência à demanda local e que pode ser facilmente replicada em outros vilarejos.

Durante esse processo de construção e aprendizado coletivo, criaram regulamentos de uso próprio. “Cada família pode utilizar 12 mil litros de água por mês. E a água só pode ser utilizada para consumo humano e irrigação de horta caseira”, explica Francisco.

A partir de planejamento e planilhas transparentes discutidas em reuniões mensais o sistema de captação e distribuição de água tirou os moradores de Taquaraçu de Baixo de uma situação crítica. “Todos os moradores sabem exatamente para onde vai o dinheiro de contribuição pela água. Agora esperamos conseguir um empréstimo para poder construir um sistema de energia solar para diminuir o custo da captação e distribuição de água. Atualmente, gastamos somente com energia uma média de R$ 900 por mês”, acrescenta o presidente da Associação Comunitária de Taquaraçu de Baixo.

O engajamento, a participação e o envolvimento dos moradores resolveu o problema de abastecimento da comunidade. “Com esta solução descomplicada resolvemos parte de um problema de complexidade gigantesca provando, mais uma vez, que soluções de grandes problemas residem na simplicidade do projeto. Estamos todos muito satisfeitos e não sofremos mais com a falta de água”, disse Francisco.

Unidades de Conservação

As sete unidades de conservação inseridas parcialmente na UTE Rio Taquaraçu ocupam 16% da área de todo o território. Entre elas estão o Monumento Natural da Serra Piedade, que colabora para as águas do rio Taquaraçu por meio do rio Vermelho, e o Parque Nacional da Serra do Cipó, que contribui para as águas do rio Preto, também afluente do Taquaraçu.

Há, ainda, a Área de Proteção Ambiental (APA) Morro da Pedreira, que garante a proteção do Parque Nacional da Serra do Cipó e do conjunto paisagístico do Morro da Pedreira com a preservação de sítios arqueológicos, da cobertura vegetal, da fauna silvestre e dos mananciais.
O Refúgio de Vida Silvestre Estadual Macaúbas é outra unidade de conservação importante, já que protege um expressivo remanescente florestal, margeando o rio das Velhas.

Para Morales, as Unidades de Conservação são formas que a comunidade do território do rio Taquaraçu possuem para interagir com o meio ambiente. “Além dessas unidades, temos muitas belezas naturais como as cachoeiras e rios que conectam as pessoas. As áreas de conservação são abertas ao público”.

Viveiro Langsdorff

Localizado no município de Taquaraçu de Minas, o Viveiro Langsdorff é uma iniciativa do CBH Rio das Velhas, Subcomitê Rio Taquaraçu, Agência Peixe Vivo e ArcelorMittal Brasil que tem o objetivo de produzir 90 mil mudas de espécies florestais nativas anuais a serem posteriormente utilizadas na recuperação de áreas degradadas, incluindo nascentes e matas ciliares, na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas.

São mais de 60 espécies da Mata Atlântica, todas adaptadas ao nosso clima, altitude e pluviosidade, já que derivam de sementes coletadas na região.

Preservar para quê?

Nos últimos anos, o território da sub-bacia do rio Taquaraçu vem recebendo projetos hidroambientais e de saneamento básico em prol da conservação e manutenção dos seus cursos d’água, nascentes e matas ciliares.

Até hoje, foram concluídos quatro projetos na região. O primeiro consistiu na identificação de áreas degradadas e cadastramento de proprietários rurais que aderiram ao projeto de recuperação de nascentes e matas ciliares. Na segunda etapa do projeto, foram realizados plantios de mudas de árvores nativas em áreas das nascentes e beiradas de córregos, cercamentos para proteção de áreas de preservação, recuperação de áreas degradadas por erosões e trabalhos de educação ambiental e mobilização social da comunidade local.

Outro projeto executado foi a elaboração dos Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) dos municípios de Caeté, Nova União e Taquaraçu de Minas. Os planos têm como objetivo a universalização do serviço público de saneamento básico, com serviços e produtos de qualidade, que abrangem o abastecimento de água potável e esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, bem como drenagem e manejo das águas pluviais. O documento é a porta de entrada para que os municípios recebam recursos da União para a execução das obras.

O projeto de elaboração de soluções para o esgotamento sanitário foi o último a ser finalizado e teve o objetivo de levantar estudos sobre projetos básicos de sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário e drenagem pluvial.

Os projetos hidroambientais patrocinados pelo CBH Rio das Velhas são voltados para a recuperação, conservação de nascentes, curso de água e todo o ecossistema que alimenta e mantêm vivos os rios. As iniciativas são financiadas pelo recurso da Cobrança pelo Uso da Água.

Teatro São Francisco

Localizado a 25 km do centro de Santa Luzia, o distrito de Taquaraçu de Baixo guarda um tesouro: o Teatro Rural São Francisco, cuja trajetória inicia-se em um curral na década de 1950.

Em julho de 1954, o jovem Raimundo Nonato da Costa deixava o seminário na capital Belo Horizonte e voltava a viver na região de Santa Luzia. Neste mesmo ano, Raimundo foi convidado para lecionar aulas de música em Taquaraçu de Baixo, com o objetivo de formar uma banda na localidade. Porém, Du, como era chamado o seminarista Raimundo, decidiu montar uma peça de teatro a ser encenada pela própria comunidade. A peça recebeu o nome de “Mundo Velho sem Quintino” e estreou em 28 de agosto de 1954.

O local utilizado para a apresentação do espetáculo teatral foi bastante inusitado: o curral de uma fazenda. Mas, a iniciativa lançou a semente que levaria à edificação do Teatro Rural São Francisco na comunidade.

Construído na proximidade de onde os rios Taquaraçu e das Velhas se encontram, a edificação simples e rústica comporta cerca de 150 pessoas. Possui bancos de madeira e uma leve inclinação que garante boa visibilidade para a plateia.

Na década de 1990, o Teatro São Francisco foi devastado por uma enchente de grandes proporções, ficando desativado por um longo período. No ano de 2007, a Prefeitura Municipal de Santa Luzia promoveu a restauração da edificação, procurando manter suas características originais. As portas do teatro foram reabertas com um novo espetáculo.

Segundo pesquisas históricas, o teatro de Taquaraçu de Baixo é um dos únicos exemplares do mundo que apresenta características rurais. Por meio do Decreto nº 2.131/2008, o Teatro São Francisco foi tombado em nível municipal, passando a integrar oficialmente o patrimônio cultural da cidade de Santa Luzia.

A comunidade de Taquaraçu de Baixo mantém seu ambiente rural, com diversas áreas de fazendas e agricultores familiares. No entanto, o que mais chama atenção é o fato da comunidade fazer teatro no meio do mato a cerca de 80 anos. São quatro gerações de atores, escritores, artistas que vem sustentando esta história de amor com o teatro. Atualmente, a comunidade conta com aproximadamente 120 famílias.

Subcomitê Rio Taquaraçu 

O Subcomitê Rio Taquaraçu foi instituído em 25 de agosto de 2008 e tem o objetivo de tornar o CBH Rio das Velhas mais próximo e atuante na Unidade Territorial Estratégica (UTE) do Rio Taquaraçu. Assim, de forma coletiva e participativa, o Subcomitê discute maneiras de compatibilizar o equilíbrio ecológico com o desenvolvimento econômico e socioambiental do território.

Para a coordenadora do colegiado, Mariana Morales, a importância do Subcomitê é de conseguir aprovar projetos de recuperação e conservação e de manejo ambiental para o território do Taquaraçu. “A agenda ambiental sempre fica atrás das outras municipais, como a saúde e a educação, por exemplo. Então, o Subcomitê com essa característica tripartite consegue viabilizar os projetos ambientais por meio do Comitê e em parceria com os municípios, através de recursos que não são municipais”, destacou.

A coordenadora também leva em conta as ações de educação e mobilização exercidas pelo Subcomitê. “Levamos não somente ações executivas, mas também fomentamos e difundimos atividades ambientais como a educação ambiental em escolas, a mobilização de proprietários rurais, levando conhecimentos sobre a importância das APPs e de formas de conservação da água. Então, o Subcomitê tem uma função muito forte na questão de fomentador, articulador, propositor e captador de recursos para projetos ambientais”.

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Ohana Padilha
*Fotos: Bianca Aun, Léo Boi e Fernando Piancastelli