A bordo de seus caiaques, a equipe da Expedição ‘Rio das Velhas, te quero vivo’ chegou, nessa quarta-feira (31 de maio), ao município de Rio Acima. Desde o último domingo, a caravana desce o Rio das Velhas da nascente, em Ouro Preto, com a missão de chegar em Santa Luzia no dia 03 de junho. O objetivo do projeto, idealizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) e Projeto Manuelzão, é conhecer a realidade atual do Alto Rio das Velhas e mobilizar a sociedade para a imprescindível revitalização do rio.
Nessa quarta-feira, logo cedo, a Expedição visitou o encontro das águas dos Rios Itabirito e das Velhas. Desde a represa Rio de Pedras, em Acuruí, até a foz do Rio Itabirito, são 12km de águas limpas do Rio das Velhas – isso porque a barragem funciona como decantador das impurezas do corpo hídrico.
O encontro dos dois rios forma um cenário paradisíaco e com grande potencial turístico, mas que é prejudicado pelas propriedades particulares que a circundam, que cercaram a estrada que dá acesso ao local. “Diferentemente das expedições passadas, de 2003 e 2009, hoje fomos surpreendidos com um portão fechando a estrada. Essa é uma estrada antiga, já consolidada, que liga Rio Acima a Itabirito. Me incomoda muito a privatização de determinados bens que, no meu entendimento, são públicos”, contou o expedicionário Ronald Guerra.
O Rio Itabirito, como maior afluente da margem esquerda do Rio das Velhas na região, contribui em muito para a piora da sua qualidade ambiental, especialmente em função da emissão de esgoto sanitário e efluentes industriais. Durante o trecho percorrido nessa quarta-feira, os canoístas puderam observar um rio bem diferente do navegado nos primeiros dias de expedição, quando estavam mais próximos da cabeceira. “Apesar de ser um trecho muito bonito, cercado por uma maciço de mata atlântica e propício para a prática de canoagem, hoje navegamos convivendo com o mau cheiro o tempo todo”, disse Rodrigo de Angelis, diretor de comunicação do CBH Rio das Velhas e canoísta do time.
Os expedicionários contaram ainda ter observado duas dragas de mineração de ouro no leito do rio, e que em uma delas um funcionário correu ao observar a equipe. “Não temos condições de afirmar que se trata de uma mineração clandestina, mas, a partir do momento que um funcionário corre ao nos avistar, fica suspeito”, conta Rodrigo.
Veja as fotos desse quarto dia de Expedição:
[fshow photosetid=72157684416032306]
Ações desenvolvidas pelo município
Atualmente, 70% do esgoto coletado em Itabirito é devidamente tratado e a meta é chegar a 90% até o final deste ano, segundo informações do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). O secretário municipal de Meio Ambiente e coordenador-geral do SCBH Rio Itabirito, Antônio Marcos Generoso, enalteceu as ações que tem sido implantadas no município e que privilegiam uma gestão responsável dos recursos hídricos locais. “De alguns anos para cá tem sido feito um trabalho efetivo de melhoria do rio. Já tiramos 70%, mas ainda temos muito o que fazer. A expedição é simbólica no sentido de apresentar como o rio está melhorando e o que temos ainda a melhorar”, disse.
Barragens abandonadas e o risco da lama
Desde 2011, barragens de rejeitos de exploração de ouro estão abandonadas na região de Honório Bicalho, em Nova Lima. As estruturas pertencentes à Mina do Engenho eram operadas pela mineradora Mundo Mineração e sua subsidiária australiana Mundo Minerals, que simplesmente abandonaram as barragens. A ‘equipe terra’ da expedição esteve hoje visitando as estruturas para denunciar e dar visibilidade ao caso.
Há 6 anos, o Ministério Público Federal (MPF), de posse de relatórios do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e de outros órgãos de fiscalização, já havia recomendado providências. Na ocasião, o MPF esbarrou no sumiço dos representantes da empresa – os telefones da mineradora sequer eram atendidos. Uma liminar concedida pela Justiça Federal em Minas Gerais obrigou a Mundo Mineração a desativar as barragens, mas até hoje nada foi feito.
Um rompimento das estruturas poderia atingir Honório Bicalho e contaminar também a Estação de Tratamento de Água (ETA) Bela Fama, que abastece parte significativa da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Visita à Mina do Engenho, em Rio Acima. Crédito: Euclides Davyd – CBH Rio das Velhas
Educação Ambiental e mobilização social em Rio Acima
Os canoístas da Expedição ‘Rio das Velhas, te quero vivo’ foram recebidos hoje na Praça Paulo Teixeira, onde desde o início da tarde aconteciam atividades diversas com a comunidade e escolas de Rio Acima, como pintura coletiva, interativa e ao vivo de mural, contação de “estórias do Velhas” e oficina de desenho e pintura na tenda da ‘Estação Gandarela’.
Após cruzarem a ponte principal da cidade, os canoístas participaram de um bate papo com os moradores sobre o que observaram nesses 16km de remada. Vários alunos das escolas locais também participaram desse momento, recitando poesias e músicas.
Um dos moradores locais a recepcionar os expedicionários em Rio Acima foi Paulo Estevão. Em 2009, durante a última expedição promovida ao longo do Rio das Velhas, Paulo foi um dos canoístas a percorrer grande parte do trecho até a foz do manancial, em Barra do Guaicuí. “Naquela vez, também durante uma recepção aos canoístas, eu e alguns amigos decidimos que seguiríamos o grupo. Arrecadamos dinheiro aqui na cidade para custear a viagem, conseguimos caiaques emprestados e partimos. É uma satisfação muito grande poder recepcionar novamente os expedicionários, mas desta vez, infelizmente, estou machucado e não vou poder acompanhá-los”, conta.
Ao final do evento, houve um abraço simbólico na Cachoeira do Sansa, em Rio Acima. Amanhã (1º de junho), a Expedição ‘Rio das Velhas, te quero vivo’ parte de Rio Acima rumo a Raposos.
Qualidade das águas do trecho percorrido
O Índice de Qualidade das Águas (IQA) é um indicador utilizado para avaliar a qualidade da água bruta, visando seu uso para o abastecimento público, após tratamento. Os parâmetros utilizados no cálculo do IQA são em sua maioria indicadores de contaminação causada pelo lançamento de esgotos domésticos.
O trecho percorrido é considerado como Classe 2, conforme enquadramento de classe DN COPAM 97, não sendo indicada para irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película. Para o abastecimento humano, recomenda-se também o tratamento convencional da água.
Jornada percorrerá oito municípios
A Expedição ‘Rio das Velhas, te quero vivo’ acontece entre os dias 28 de maio e 04 de junho. A equipe, formada por biólogos, geógrafos, engenheiros e analistas ambientais a bordo de caiaques, passará pelos municípios de Ouro Preto, Itabirito, Rio Acima, Nova Lima, Raposos, Sabará, Santa Luzia e Belo Horizonte. A iniciativa tem o objetivo de demonstrar que a situação da qualidade e quantidade das águas está cada vez mais ameaçada por ações antrópicas, advindas da ocupação desordenada, da mineração e outras atividades que colocam em risco a segurança hídrica da capital, bem como a vitalidade do Rio das Velhas.
O trecho de abrangência da ação está inserido em uma região que é caraterizada por ser uma zona de recarga fluvial fundamental para o abastecimento de Belo Horizonte e abriga significativos aquíferos que contribuem diretamente para a manutenção do ciclo hídrico da região. Junto à Expedição, profissionais da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG farão coletas e avaliação de parâmetros de qualidade da água em pontos estratégicos do trajeto. O objetivo é elaborar um diagnóstico do Alto da Bacia do Rio das Velhas.
A Expedição ‘Rio das Velhas, te quero vivo’ é uma realização do CBH Rio das Velhas e do Projeto Manuelzão com a parceria da Agência Peixe Vivo, Copasa e apoio das prefeituras municipais de Ouro Preto, Itabirito, Rio Acima, Raposos, Nova Lima, Sabará, Santa Luzia e Belo Horizonte.
Veja mais fotos:
[fshow photosetid=72157684469975366]
Mais informações e fotos em alta resolução:
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
comunicacao@cbhvelhas.org.br