A bordo de seus caiaques, a equipe da Expedição ‘Rio das Velhas, te quero vivo’ cruzou o bairro de Honório Bicalho, em Nova Lima, e chegou a Raposos, nessa quinta-feira (01 de junho), onde encontraram um cenário bem diferente do observado nos primeiros dias de jornada: uma considerável redução na vazão do corpo hídrico somada a índices muito maiores de emissão de esgoto. Desde o último domingo (28 de maio), a caravana desce o Rio das Velhas da nascente, em Ouro Preto, com a missão de chegar em Santa Luzia no dia 03 de junho. O objetivo do projeto, idealizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) e Projeto Manuelzão, é conhecer a realidade atual do Alto Rio das Velhas e mobilizar a sociedade para a imprescindível revitalização do rio.
O trecho percorrido pelos expedicionários nessa quinta-feira, entre Rio Acima e Raposos, foi de 22km. A primeira parada ocorreu em Honório Bicalho, onde aconteceram as primeiras ações de educação ambiental e mobilização social com a população. Davla Ágada, de 15 anos, é aluna da Escola Estadual Josefina Wanderley Azeredo e participou da recepção aos expedicionários. “Achei muito importante a passagem da Expedição por Honório Bicalho. Aprendi muita coisa hoje, principalmente que, apesar de termos muita água no planeta, nem toda ela está disponível. Por isso precisamos preservá-la”, disse.
A parada final dos canoístas se deu no município de Raposos, na foz do Ribeirão da Prata. Lá também foram realizadas diversas apresentações culturais de projetos locais, como o ‘Bloco da Água Boa’ da Casa de Gentil e o Movimento da Serra da Gandarela. O canoísta Rafael Gonçalves, que é vereador em Raposos e voluntário da expedição pelo Subcomitê de Bacia Hidrográfica (SCBH) Águas do Gandarela, contou da experiência de navegar na cidade natal. “Foi uma satisfação muito grande. Como morador de Raposos, a gente sempre ouviu dos mais antigos casos de como era possível nadar e pescar no Rio das Velhas. Por isso, a gente fica na torcida e na esperança de ver um rio bem melhor”, conta.
Rafael contou também o que mais chamou a atenção da equipe de expedicionários durante o trajeto de 22km percorrido nessa quinta-feira. “A principal observação da equipe de canoístas hoje foi a diferença na vazão do rio antes e depois de Bela Fama [Estação de Tratamento de Água (ETA) de Bela Fama, localizado em Honório Bicalho]. Nesse trecho da vazão reduzida pós a estação, a gente conviveu com muito esgoto proveniente das cidades de Nova Lima, Rio Acima e Honório Bicalho. Se não fosse o Ribeirão da Prata, que desce da Serra da Gandarela e dá uma sobrevida ao Rio das Velhas, a gente teria um rio praticamente morto. Por isso é muito importante que a gente desenvolva ações de preservação ao Ribeirão da Prata também”, disse.
Amanhã (2 de junho), a Expedição ‘Rio das Velhas, te quero vivo’ parte de Raposos rumo a Sabará.
Confira as fotos do quinto dia de Expedição:
[fshow photosetid=72157681633769572]
Bela Fama e o abastecimento da Região Metropolitana
Um dos trechos percorridos pela equipe da Expedição nessa quinta-feira foi a ETA de Bela Fama – principal ponto de captação de água para o abastecimento da capital. A estação capta 5 mil litros de água do Rio das Velhas a cada segundo, fazendo o manancial baixar visivelmente o volume de suas águas.
Segundo Rogério Sepúlveda, da Diretoria Metropolitana da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), que acompanhou as outras duas expedições como membro da equipe do Projeto Manuelzão, a oferta de água que chega à estação também diminuiu consideravelmente nos últimos anos. “O que a gente observa de 2003 para cá, ano da primeira expedição promovida pelo Manuelzão, é uma grande redução na vazão do Rio das Velhas e dos seus afluentes. Por isso, é de fundamental importância uma gestão dos recursos hídricos da bacia de forma mais racional e participativa, e que envolva todos os atores sociais locais”, disse.
Hamilton dos Santos, que é engenheiro do Sistema de Produção do Rio das Velhas da Copasa, falou também sobre a importância do tratamento do esgoto dos municípios da região, como Itabirito, Nova Lima e Rio Acima, para o pleno funcionamento da ETA Bela Fama. “O esgoto é o principal vilão do rio. Por isso, precisamos todos nós tratar essa questão com muita atenção. Se o rio fosse mais limpo, certamente o custo do tratamento seria bem menor, com menor adição de produtos químicos”, disse.
Lixão do Galo Novo
Há quase 50 anos, uma montanha de lixo está localizada às margens do Rio das Velhas, em Nova Lima. Por mais de três décadas, o local, conhecido como depósito do Galo, recebeu os resíduos do município de forma indiscriminada. Apenas em 2002 o lixão foi fechado, mas até hoje nada foi feito para reparar os danos.
Com a intervenção do Ministério Público Estadual, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMAD) assinou, em 2010, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), obrigando a prefeitura a tomar providências, mas o acordo não foi cumprido. Ironicamente, o lixão fica pouco abaixo da Estação de Tratamento de Água de Bela Fama, da Copasa.
Qualidade das águas do trecho percorrido
O Índice de Qualidade das Águas (IQA) é um indicador utilizado para avaliar a qualidade da água bruta, visando seu uso para o abastecimento público, após tratamento. Os parâmetros utilizados no cálculo do IQA são em sua maioria indicadores de contaminação causada pelo lançamento de esgotos domésticos.
O trecho percorrido é considerado como Classe 2, conforme enquadramento de classe DN COPAM 97, não sendo indicada para irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película. Para o abastecimento humano, recomenda-se também o tratamento convencional da água.
Jornada percorrerá oito municípios
A Expedição ‘Rio das Velhas, te quero vivo’ acontece entre os dias 28 de maio e 04 de junho e passará pelos municípios de Ouro Preto, Itabirito, Rio Acima, Nova Lima, Raposos, Sabará, Santa Luzia e Belo Horizonte. A iniciativa tem o objetivo de demonstrar que a situação da qualidade e quantidade das águas está cada vez mais ameaçada por ações antrópicas, advindas da ocupação desordenada, da mineração e outras atividades que colocam em risco a segurança hídrica da capital, bem como a vitalidade do Rio das Velhas.
O trecho de abrangência da ação está inserido em uma região que é caraterizada por ser uma zona de recarga fluvial fundamental para o abastecimento de Belo Horizonte e abriga significativos aquíferos que contribuem diretamente para a manutenção do ciclo hídrico da região. Junto à Expedição, profissionais da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG farão coletas e avaliação de parâmetros de qualidade da água em pontos estratégicos do trajeto. O objetivo é elaborar um diagnóstico do Alto da Bacia do Rio das Velhas.
A Expedição ‘Rio das Velhas, te quero vivo’ é uma realização do CBH Rio das Velhas e do Projeto Manuelzão com a parceria da Agência Peixe Vivo, Copasa e apoio das prefeituras municipais de Ouro Preto, Itabirito, Rio Acima, Raposos, Nova Lima, Sabará, Santa Luzia e Belo Horizonte.
Mais informações e fotos em alta resolução:
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
comunicacao@cbhvelhas.org.br