08 de março é o Dia Internacional da Mulher. A data remete a uma série de fatos, lutas e reivindicações das mulheres em todo o mundo – especialmente entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX – por direitos sociais e políticos e melhores condições de trabalho.
Com um propósito maior do que meramente comemorar a data, e, sim, de discutir o papel da mulher na sociedade atual, o CBH Rio das Velhas irá apresentar, ao longo dessa semana, o perfil de cinco personagens mulheres que, em meio a tantas outras por essa Bacia Hidrográfica, trabalham e batalham por um território melhor.
Tratam-se de personagens aleatórios, do Alto ao Baixo Rio das Velhas, mas que simbolizam e representam o todo na luta feminina por um ambiente justo e equilibrado.
Nesse primeiro dia, vamos contar a história dessa mulher que, por vezes, se confunde com a própria história do Ribeirão Onça e das várias manifestações populares em prol da sua revitalização e por condições mais dignas para o povo da sua bacia. Maria José Zeferino Vieira, mais conhecida como Majô, é símbolo de luta e determinação em um território marcado pela ocupação desordenada e drenagem de grande parte do esgoto da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Moradora da região Norte da capital mineira há quase 50 anos, foi nesse território que Majô escolheu viver e lutar. “A Bacia do Onça é minha menininha dos olhos. Até os nove anos eu nadei no ribeirão, na prainha, na cachoeira, já visitei sua nascente. Por isso, nós o queremos limpo”, conta.
De fato, o sonho de vê-lo limpo não é tarefa das mais fáceis. Juntamente com o Ribeirão Arrudas, o Onça encontra-se na região mais populosa da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas – em Belo Horizonte, Contagem, Sabará e Santa Luzia. Suas margens estão em grande parte ocupadas irregularmente, o que provoca severas degradações ambientais ao longo do seu curso d’água. Sem falar na grande quantidade de esgoto que ainda é despejada em seu leito. “É uma vergonha para Belo Horizonte ter dois ribeirões [Arrudas e Onça] nessas condições. Eu fico muito triste em saber que o Ribeirão Onça é o maior poluidor do Velhas. A gente até chora quando o Onça deságua no Velhas. E, quando você é morador dessa bacia, é pior ainda”.
Mas ela também não se abate com esse cenário. Majô é uma das diretoras da Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (COMUPRA), que idealiza o movimento anual ‘Deixe o Onça Beber Água Limpa’. Ela celebra, com enorme satisfação, o protagonismo da entidade na gestão das águas da região. “Esse ano, com muita luta, conseguimos uma cadeira para a COMUPRA junto ao [CBH Rio das] Velhas”.
Hoje suplente no Subcomitê Ribeirão Onça, já foi coordenadora-geral, conselheira e ajudou a constituir este que foi o primeiro subcomitê reconhecido na bacia do Velhas. Mas tudo começou há quase 20 anos, quando ainda era professora da Escola Municipal Hélio Pellegrino e conduzia o projeto ‘Qualidade de vida: escola cidadã’, que mapeou e batalhou por questões mais dignas para a comunidade onde a instituição se insere.
Em 2001, uma interface com o Projeto Manuelzão – que historicamente desenvolve ações de mobilização na bacia do Rio das Velhas – introduziu Majô mais a fundo na luta pelas águas da região, um caminho até hoje sem volta. “Eu aprendi esse amor a partir do conhecimento que eu tive com o Projeto Manuelzão. Depois disso, o trabalho nunca mais parou. É o que eu digo: quando a gente é voluntário, é voluntário de verdade. E eu faço disso o meu amor pelo rio, pelas águas. Eu já aposentei vai fazer oito anos e não consigo [ficar longe da escola]”, brinca.
Sobre ser mulher e batalhar por uma questão tão nobre quanto a qualidade das águas e de vida da população que por ali vive, Majô define: “Sou uma guerreira pequenininha, que faço tudo a meu tempo e a meu alcance. Ser mulher é maravilhoso. É amor, carinho e compreensão. É ser lutadora e ativista”.
Veja fotos de Majô em ação na bacia do Onça:
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