Hoje, 29 de junho, é o Dia do Rio das Velhas e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) convida a todos a fazerem uma reflexão sobre a relação ambígua das cidades e os rios com o lançamento da campanha ‘A Cidade e as Águas’.
As cidades abraçam os rios para crescer e se desenvolver, criando importante laço para o desenvolvimento urbano e agrícola, mas os destroem, ao torná-los o principal meio de escoamento de esgoto e utilizar suas águas para diferentes usos. Entretanto, os rios sempre foram, e são até hoje, um dos mais importantes recursos para a sobrevivência da humanidade. São eles que nos fornecem grande parte da água que consumimos, que usamos para produzir os alimentos, de que necessitamos para higiene, que utilizamos para irrigar o solo das áreas agrícolas, além de ser utilizado pela mineração de areia, argila e minerais como o ouro e o minério de ferro.
Os rios também são muito importantes pelo fato de serem usados, em várias regiões, como vias naturais de circulação, ao longo das quais as embarcações se deslocam transportando mercadorias e pessoas; e, ainda, por sua utilização na produção de energia hidrelétrica, sem esquecer da importância que têm pela exploração da pesca como fonte de alimentos.
No entanto, os rios sofrem com a poluição, o assoreamento, o desvio de seus cursos, com a destruição das matas ciliares, entre outros; e a beleza da paisagem fica obstruída pelo mau cheiro, mudança de coloração, gerando uma incapacidade de uso original de seus recursos.
Principais impactos nos cursos d’água
Boa parte dos rios do Brasil estão sendo transformados em lixeira. Eles acabam levando para os cursos d’água 35 tipos diferentes de resíduos, principalmente plástico.Um estudo inédito realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) em 2019 revela que, a cada ano, a quantidade de lixo lançada nos rios e no nosso litoral daria para encher 30 vezes o estádio do Maracanã até o topo.São dois milhões de toneladas de resíduos.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), se nada for feito, até 2050 haverá mais fragmentos de plásticos nos oceanos do que espécies marinhas. O Brasil já é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. Por aqui, pouco mais de 1% desse plástico chega a ser reciclado.
Outro problema que causa grandes impactos nos rios é a falta de saneamento básico. O número de brasileiros sem acesso a esses serviços ainda é enorme e o desafio da universalização é cada vez maior. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 83,5% da população brasileira têm acesso a água tratada, 54,4% têm coleta de esgoto e apenas 46% têm esgoto tratado. Esses números colocam o Brasil atrás de países como Chile, México, África do Sul, Bolívia, Iraque, Peru e Marrocos.
O esgoto é um fator que ameaça a saúde da população e também a qualidade de água e a biodiversidade das bacias. Por isso, o saneamento básico é assunto prioritário para o CBH Rio das Velhas que destina recursos da cobrança pelo uso da água para elaborar Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) em municípios de sua bacia hidrográfica.
Não podemos deixar de citar os impactos das canalizações e retificações dos cursos de rios e córregos que vêm de um modelo tradicional no século 19 e que persistiu, mas se tornou ultrapassado e pouco eficiente. No caso da bacia do Rio das Velhas, principalmente na Região Metropolitana de Belo Horizonte, qualquer temporal é sinal de temor. As chuvas intensas do último verão, que deixaram 72 mortos em Minas Gerais — 14 só em Belo Horizonte —, mostraram o limite do modelo que foi adotado desde a criação da cidade.
As barragens de rejeitos de mineração são outro ponto que não podemos deixar de destacar. A preocupação em Minas Gerais com tragédias causadas pela ruptura de barragens vai além dos desastres causados pela Samarco, em Mariana, no ano de 2015, e pela Vale, no município de Brumadinho, em janeiro de 2019. Minas Gerais possui mais de 400 barragens ligadas ao setor minerário, de acordo com dados da Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM) e são motivo de angústia pelo eventual impacto na oferta de água à população, além dos possíveis danos irreparáveis ao meio ambiente, em caso de rupturas.
Para debater sobre a longa e sinuosa relação das cidades com as águas, o CBH Rio das Velhas abre o debate durante a Semana do Rio das Velhas com o lançamento da campanha ‘A Cidade e as águas’. Nossos rios merecem uma atenção que não deve se restringir em esperar a solução do poder público. O cuidado com as águas deve vir de todos nós, para que por fim, uma cultura ambiental surja, seja praticada e valorizada sempre e assim não precisaremos esperar que rios sejam despoluídos para usufruirmos da qualidade de vida e cidade que eles oferecem.
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio