Rios de Minas apresentam alta poluição por esgoto e Velhas tem 50% das amostras contaminadas

07/01/2021 - 13:25

Uma mistura de esgoto doméstico com resíduos industriais. Assim está boa parte dos rios mineiros. Segundo dados da primeira fase do Programa de Estímulo à Divulgação de Dados de Qualidade de Água (Qualiágua), da Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), realizado em Minas Gerais pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), nada menos que 54% das amostras de rios analisadas apresentam nível de contaminação por esgoto acima do aceitável pela legislação. O Rio das Velhas, importante manancial para o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), é um dos mais afetados no Estado.

O IGAM colheu 1.447 amostras e 778 (54%) se encontram em desconformidade. No Rio das Velhas foral realizadas 156 coletas ao longo da bacia e 79 (50,6%) continham violações referentes a esgotos. Os dados foram divulgados no relatório referente ao primeiro ciclo do Qualiágua e as amostras coletadas no primeiro semestre de 2020. No caso da contaminação por esgoto, o indicador utilizado foi a extrema concentração da bactéria escherichia coli, que tem como habitat exclusivo o intestino humano e de alguns animais, sendo presente nas fezes e por conseguinte nos esgotos.

Reportagem do jornal Estado de Minas, publicada no domingo 3 de janeiro de 2021, mostra que o Alto Velhas, da nascente, em Ouro Preto, à altura da foz do Ribeirão Onça, entre Belo Horizonte e Santa Luzia, é o trecho da bacia com o maior número de amostras poluídas apresentadas no Qualiágua. De acordo com o periódico, foram realizadas 27 coletas, das quais 19 (70,4%) contêm violações para escherichia coli. Dos pontos de coletas, pelo menos 17 se encontram acima da captação de água da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) em Bela Fama, no município de Nova Lima, que abastece a RMBH.

De acordo com a lista dos mananciais mais poluídos da bacia do Velhas publicada pelo Estado de Minas se encontra o Rio Maracujá, que nasce em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, e é um dos principais afluentes do Rio das Velhas na sua área de cabeceira. Na Grande BH estão o Córrego Isidoro, na Região Norte da capital; o Ribeirão Arrudas, que corta BH das regiões do Barreiro à Leste; e o Ribeirão das Areias, em Ribeirão das Neves.

A presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Poliana Valgas, esclarece que essa situação de degradação na bacia infelizmente é antiga e demonstra o tipo de relação que a sociedade tem com os cursos d’água. “A grande raiz do problema está ligada ao uso e ocupação do solo na bacia. Todos os parâmetros fora do padrão na análise do IGAM evidenciam o tamanho do problema que nós temos a enfrentar que é a de descontruir essa ideia e imagem de que os córregos e rios são lugares de descarte de efluentes e de lixo. Buscar uma mudança de concepção é o grande desafio tanto para os gestores quanto para uma sociedade que vê o rio como local de descarte”, afirmou.

A Copasa informa que em Belo Horizonte cerca de 95% do esgoto gerado é coletado e 91,5% é tratado. A companhia desenvolve o Programa Caça-Esgoto, para identificar e retirar os lançamentos indevidos em cursos d’água e galerias pluviais e ressalta que há um grande número de usuários factíveis – aqueles que têm rede coletora de esgoto na porta e não estão conectados ao sistema de esgotamento sanitário. “A Copasa realiza diversos trabalhos sociais para conscientização desses moradores no sentido de incentivar a adesão aos serviços. No entanto, não tem como obrigar a adesão”, informa.

Outros contaminantes

O relatório do Qualiágua também detectou poluentes como o arsênio e o fósforo. O arsênio geralmente está associado a atividades minerárias predatórias, como o garimpo de ouro feito nos rios de forma irregular e o fósforo é encontrado nas atividades agrícolas, sobretudo na pecuária, e nos lançamentos de esgotos.

De 981 amostras testadas para arsênio, 55 (5,6%) extrapolaram o limite máximo da substância, extremamente tóxica para o homem e para a vida biológica como um todo. O manancial com a maior concentração de arsênio foi o Rio das Velhas em Santana de Pirapama, na Região Central do Estado, seis vezes superior ao limite estabelecido pela legislação. E em terceiro lugar, com presença 3,6 vezes acima do limite, está mais uma vez o Rio das Velhas, desta vez em Baldim, na Grande BH.

Já a contaminação por fósforo foi medida em 1.447 amostras, sendo que em 539 (37,2%) estava acima do tolerado e em 46 (3,2%) no limite da legislação ambiental. O trecho do Rio das Velhas com a maior concentração de fósforo foi o Ribeirão Onça com 46 vezes acima do tolerado.

A carga de esgotos e fósforo propicia a proliferação de cianobactérias, que lançam na água substâncias tóxicas que podem até matar. O relatório aponta que os três piores pontos com cianobactérias estão na Lagoa da Pampulha e no Ribeirão Pampulha.

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio