Com o objetivo de se conectar com outros defensores das águas e somar esforços com pessoas que lutam pela preservação deste recurso, o Subcomitê Águas do Gandarela, pertencente ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), realizou a 1° Conexão Águas do Gandarela. O evento foi realizado no último sábado (1°), de forma virtual, para que mesmo em época de pandemia e isolamento social as pessoas se unam e se aproximem cada vez mais do território da bacia.
A coordenadora-geral do Subcomitê Águas do Gandarela, Maria Tereza Corujo, a Teca, explica que a 1° Conexão Águas do Gandarela foi um momento de interação. “Contamos com a participação de diversas pessoas da sociedade civil e de um representante do Parque do Gandarela, além de pessoas que frequentam a região e que lutam pela sua preservação. O evento foi muito importante e foi gratificante ver a participação e troca de ideias na construção de possibilidades de ações conjuntas”.
Teca afirma que preservar a Serra do Gandarela é de suma importância. “A UTE [Unidade Territorial Estratégica] Águas do Gandarela é uma das mais bem preservadas na bacia do Rio das Velhas. Mas continua sobre a ameaça da mineração e expansão imobiliária. Por isso, a importância da gestão participativa das águas”.
O conselheiro do Subcomitê Águas do Gandarela e morador do município de Raposos, Glauco Gonçalves Dias, apresentou a história do Subcomitê, a situação do Rio das Velhas na região da UTE e suas potencialidades. Para isso, Glauco dividiu sua apresentação em três temas: (1) Territorialidade: mostrando quais as questões mais importantes na UTE Águas do Gandarela; 2) Comunicação e aprendizagem: apresentando as conquistas do Subcomitê; e 3) Afeto: mostrando como a união das pessoas forma uma potência em prol dos recursos hídricos.
Territorialidade
O Subcomitê Águas do Gandarela foi criado no ano de 2015. A iniciativa partiu da população após descobrirem uma mineração na região. “Descobrimos uma mineração de ouro na calha do Rio das Velhas em Raposos que acontecia de forma irregular e começamos a procurar quem podia nos ajudar a paralisá-la. Foi aí que chegamos ao CBH Rio das Velhas e demos início a criação do Subcomitê. Fui eleito o primeiro coordenador-geral e, atualmente, quem coordena o Subcomitê Águas do Gandarela é a Teca”, disse.
É função dos Subcomitês propor ações para a gestão das águas em sua área de atuação, acompanhar a elaboração e a implementação do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, articular e mediar conflitos pelo uso da água nas microbacias, desenvolver ações de educação ambiental, bem como articular a viabilização de projetos de saneamento, recuperação e proteção ambiental.
Glauco Dias esclarece sobre a importância da Serra do Gandarela. “É um lugar com beleza espetacular, milhares de nascentes, dezenas de cachoeiras, maior aquífero profundo intacto da região, águas de qualidade, segunda maior área contínua de ‘Mata Atlântica’, vegetação exuberante, riqueza de biodiversidade (fauna e flora endêmicas e em extinção). A Serra do Gandarela é uma região que deve ser preservada integralmente. Por isso, lutamos pela sua preservação”.
Além disso, o palestrante mostrou que as águas do Gandarela abastecem a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). “Nesta região estão os principais contribuintes da margem direita do rio das Velhas a montante de Bela Fama, um dos principais pontos de captação de água da RMBH. A preservação desta região é a garantia de manutenção deste importante manancial hídrico”.
Veja as fotos da Serra do Gandarela:
Comunicação e aprendizagem
Uma das principais conquistas do Comitê foi a criação da Lei que proíbe a construção de barragens de rejeitos de mineração em Raposos. “Desde 2016, uma emenda à Lei orgânica [nº 09/16] proíbe a instalação e operação de barragens destinadas à disposição final ou temporária de rejeitos de mineração no município de Raposos, na RMBH. A decisão partiu de uma ampla manifestação popular liderada pelo Subcomitê Águas do Gandarela e seus conselheiros, que temiam os riscos de uma eventual ruptura dessas estruturas no território onde vivem. A mobilização começou quando descobrimos que uma grande mineradora licenciava uma barragem de rejeitos dentro do município de Raposos, em área próxima ao Ribeirão do Brumado – região que ainda guarda remanescentes naturais importantes”, explicou.
Outra importante conquista do Subcomitê é a contratação do projeto “Proteção e conservação de cursos d’água e ações estruturais e estruturantes em pontos ecoturísticos na UTE Águas do Gandarela” pelo CBH Rio das Velhas. O Termo de Referência do projeto está sendo elaborado e os membros do Subcomitê estão tendo participação efetiva nas discussões.
Glauco Dias finalizou destacando que um importante avanço é o intercâmbio de conhecimento que ocorre no Subcomitê Águas do Gandarela em prol da preservação e recuperação do meio ambiente.
Afeto
A última parte da apresentação de Glauco Dias mostrou como o afeto da sociedade civil pelo seu território pode ajudar na preservação. “Várias ações em prol do Rio das Velhas sugiram nas reuniões do Subcomitê. Estamos constantemente discutindo o que pode ser feito para preservar e recuperar o meio ambiente”.
Para Glauco Dias, este é o principal sentimento que motiva a população. “Foi por meio do afeto pela nossa região que construímos uma potência que tem lutado pela preservação da Serra do Gandarela”.
Finalizando a 1° Conexão Águas do Gandarela, foi apresentado o mini documentário “O Rio da Minha Aldeia” produzido e encenado por Glauco Dias e seu filho Bento. “Quando o Bento era bem pequeno criamos um hábito que mantemos até hoje de dar bom dia, boa tarde e boa noite para o Rio das Velhas a cada vez que passávamos sobre ele. A cada trajeto ele pedia para contar alguma história e eu, avesso aos contos de fadas, tratei de ‘inventar’ a história do rio que nasce na Serra da Gandarela e passa bem no meio da nossa cidade, Raposos”, explicou Glauco Dias.
Confira o mini documentário:
Posted by Glauco Gonçalves Dias on Tuesday, June 30, 2020
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Fotos: Robson Oliveira e Ohana Padilha