O artigo científico “Trophic responses to aquatic pollution of native and exotic livebearer fishes” proveniente dos dados do projeto “Biomonitoramento da ictiofauna e monitoramento ambiental participativo na Bacia do Rio das Velhas” recebeu o prêmio José Cândido de Mello Carvalho da Sociedade Brasileira de Zoologia, o mais reconhecido a nível nacional. O artigo é de autoria de Débora Reis de Carvalho em co-autoria com Paulo dos Santos Pompeu (Coordenador Geral do Projeto) e Carlos Bernardo Mascarenhas Alves e dois parceiros norte-americanos.
O objetivo deste estudo foi avaliar se a poluição aquática promove mudanças na dieta de dois peixes: uma espécie exótica, o guppy (Poecilia reticulata) e um nativo (Phalloceros uai). O estudo foi realizado na bacia hidrográfica do Rio das Velhas que é altamente impactada por atividades antropogênicas, principalmente a descarga de esgoto doméstico e industrial de mais de cinco milhões de pessoas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
O coordenador de campo do projeto de Biomonitoramento da bacia do Rio das Velhas, Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, explica que foram analisados isótopos estáveis de carbono (δ13C) e nitrogênio (δ15N) de tecido de peixe, recursos alimentares do ambiente e esgoto. “O artigo demonstra que uma espécie exótica consegue se alimentar diretamente do esgoto gerado na RMBH, obtendo significativa vantagem sobre uma espécie nativa, da mesma família e porte semelhante. Ou seja, a poluição doméstica e industrial gerada pela RMBH afeta diretamente as comunidades de peixes. Grandes abundâncias de espécies bioindicadoras como o guppy, mostram que o rio está com má qualidade de água, por serem resistentes à poluição”, esclarece.
Carlos Bernardo Mascarenhas Alves apresentou o projeto de biomonitoramento em Reunião Plenária do CBH Rio das Velhas, em 2016. (Crédito: Ohana Padilha)
Carlos Bernardo finalizou dizendo que é realizado o biomonitoramento na bacia do Rio das Velhas desde 1999. “Estamos dando um passo a frente com o biomonitoramento. Como resultado, a sociedade está cada vez mais informada sobre a fauna da bacia: sua composição, os efeitos das intervenções humanas e as perspectivas de recuperação. Estamos na linha de frente do conhecimento e gerando importantes informações para a comunidade científica”.
O resultado do Prêmio “José Cândido de Mello Carvalho” foi divulgado no dia 21 de fevereiro de 2020, no Congresso Brasileiro de Zoologia.
Projeto de biomonitoramento
O projeto “Biomonitoramento da Ictiofauna e Monitoramento Ambiental Participativo na Bacia do Rio das Velhas” utilizou o peixe como indicador biológico para qualificar a água do rio. Além disso, avaliou e monitorou, ao longo do tempo, as mudanças ambientais a partir de impactos como o desmatamento, o lançamento de esgotos e de efluentes industriais, ou mesmo de qualquer outro tipo de interferência negativa para o rio. Recentemente, por meio de Ato Convocatório Público, o projeto foi renovado para mais cinco anos de trabalho, ampliando o escopo para outros tipos ambientes da bacia, como lagoas marginais e riachos de cabeceira, somando-se à calha principal e de afluentes.
O biomonitoramento da ictiofauna compreende as amostragens de peixes na calha e afluentes do Rio das Velhas, analisando a distribuição, riqueza, diversidade e isótopos estáveis que indicam compostos orgânicos provenientes da poluição nos tecidos de peixes.
O projeto também realizou ações educacionais e de mobilização que foram realizadas com a participação dos Subcomitês de Bacia Hidrográfica, escolas e comunidade em geral, foram de fundamental importância para o sucesso do projeto.
Metodologia da coleta de amostragens de ictiofauna. (Crédito: Ohana Padilha)
Sociedade Brasileira de Zoologia
A SBZ é uma instituição sem fins lucrativos que tem como objetivos: congregar todas as pessoas interessadas no desenvolvimento dos estudos zoológicos; propugnar e promover os estudos da fauna nacional; incrementar a formação e o reconhecimento do zoólogo, como elemento indispensável no inventário e estudo do patrimônio natural brasileiro; representar a comunidade de zoólogos brasileiros em âmbito nacional e internacional; promover e realizar encontros e congressos regionais, nacionais e/ou internacionais; assessorar e aconselhar Entidades oficiais ou particulares no que concerne ao desenvolvimento de estudos zoológicos, nas suas diversas subáreas e/ou especialidades e, por fim, manter a Revista Zoologia e outras publicações eventuais.
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TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto : Luiza Baggio