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Caminhos da Água e Subcomitês Nascentes e Itabirito fortalecem educação ambiental na Bacia do Rio das Velhas

22/05/2025 - 9:33

Dezenas de crianças puderam sentir e aprender sobre a importância das águas, através de uma imersão na Bacia do Rio das Velhas. Com a proposta de ampliar a consciência ambiental dos estudantes de 11 a 14 anos, por meio da vivência direta com os rios que cortam o território de Ouro Preto, a Escola Municipal Maria Leandra – “Dona Cota” tem desenvolvido o projeto Caminhos da Água, que uniu diversas disciplinas escolares e culminou, na última quarta-feira (14), em uma visita pedagógica ao projeto Caboclo d’Água, no distrito de Acuruí, em Itabirito.


A atividade envolveu alunos e professores em uma experiência prática e sensível no rio que nasce na região dos Inconfidentes A experiência contou com o apoio da Prefeitura de Ouro Preto, responsável pelo transporte escolar. A visita foi guiada por Rodrigo de Angelis, idealizador do Projeto Caboclo d’Água/Sumo da Terra Ideias Globais, Ações Locais; pela geógrafa Izabel Nogueira; Viviane Pires, conselheira do Subcomitê Nascentes; e Fabíola Dandara, conselheira do Subcomitê Rio Itabirito. A ação tem relação direta com a campanha de 2025 do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), intitulada “Velhas, Faço Parte: Aprendizado que Revitaliza”.

Integração entre entidades e sociedade para proteger as águas

A atividade se destaca por promover a gestão descentralizada das águas, reunindo esforços de diferentes Subcomitês, prefeituras e instituições locais em uma ação colaborativa e educativa. Essa atuação integrada e multissetorial é importante para a consolidação das políticas públicas e o endurecimento das redes de proteção.

Ao entender que as águas ocupam de maneira transversal diversas disciplinas do currículo escolar, os professores da rede pública de Ouro Preto desenvolveram a iniciativa que busca promover a educação ambiental de uma maneira viva.

Educar através do contato com a natureza é a premissa do Caminho das Águas, que apresenta as riquezas por vezes esquecidas do meio ambiente da região.

Nesse sentido, a professora Ana Cecília, uma das coordenadoras do projeto, explica que a iniciativa é capaz de mobilizar debates importantes sobre meio ambiente, desenvolvimento sustentável e direitos básicos. “Escolhemos o tema por ser presente nos currículos e por mobilizar discussões que vão desde o uso da água, a contaminação, até a mineração e a falta de saneamento”, diz.

Além da vivência, os alunos receberam brindes educativos dos Comitês dos Rios das Velhas e São Francisco. Foram distribuídas revistas, cartilhas de educação ambiental, almanaques de jogos, folders e até garrafinhas com água do SAAE de Itabirito, promovendo uma reflexão concreta sobre o ciclo da água. A campanha “Vire Carranca para defender o Velho Chico”, do CBH São Francisco, também esteve presente com bonés, camisetas e máscaras personalizadas.

Para Ana Cecília, o contato direto com o rio foi fundamental. “Foi um momento muito esperado pelas crianças. Elas puderam sentir o rio, conhecer sua história, se divertir e aprender. O entretenimento, como o uso esportivo da água, também contribui para a valorização e a preservação dos recursos naturais”, revela.


Veja mais fotos das atividades:


Aprendizado, conhecimento e emoção

Os alunos foram recebidos por Isaías Souza, funcionário do SAAE de Itabirito em Acuruí e guia turístico. Ele compartilhou sua vivência profissional e cultural com os visitantes. “Falei com as crianças sobre o trabalho que faço no laboratório físico-químico, no tratamento da água usada aqui no Acuruí, que é uma das afluentes do Rio das Velhas. Depois, conduzi a turma até a orla da lagoa e ajudei na atividade de caiaque, explicando como usar o colete, como remar e conduzir a embarcação. Foi muito gratificante ver o brilho nos olhos das crianças, muitas remando pela primeira vez.”

Isaías também destacou o papel educativo e emocional da visita. “As crianças estavam atentas, educadas e curiosas. Isso me marcou muito. Professores bem instruídos, tudo muito organizado. Se Deus quiser, estarei na próxima também”, falou.

A proposta envolve levar os estudantes para diferentes pontos da Bacia do Rio das Velhas, desde a nascente no Parque Natural Municipal das Andorinhas até áreas mais distantes, como o distrito de Acuruí. Na visita ao Caboclo d’Água, os estudantes participaram de uma programação variada, que incluiu bate-papo sobre a qualidade da água e usos múltiplos do rio, exibição do episódio do Esporte Espetacular sobre o Alto Rio das Velhas. Além disso, eles percorreram as exposições “Que Rio Queremos” e “Velhas, faço parte”, que contrapõem imagens de rios limpos e cuidados a cenas de poluição e degradação ambiental. E, por fim, uma prática de canoagem.

Parafraseando o grande Paulo Freire, a educação ambiental não salva o meio ambiente. Educação ambiental muda pessoas. Pessoas protegem o meio ambiente. Nesse sentido, Viviane Pires, funcionária da Secretaria de Meio Ambiente de Ouro Preto, acompanhou a visita e também se emocionou com a reação dos estudantes. “Receber os alunos da Escola Maria Leandra foi uma experiência que tocou profundamente o coração de todos nós. Ver o brilho nos olhos de cada criança e adolescente é algo que não se descreve com palavras. A educação ambiental é um caminho de transformação, e ver essas sementes germinando nos olhares curiosos e atentos dos estudantes é um presente imensurável.”

Ela reforça o papel transformador da experiência. “Cada pergunta, cada sorriso, cada gesto de interesse nos lembra por que fazemos o que fazemos. É por eles. Por um futuro mais consciente, mais justo e mais sustentável”, falou.

À tarde, após o almoço coletivo na Escola Municipal Major Raimundo Felicíssimo, os estudantes seguiram para o Centro Histórico de Amarantina, onde conheceram mais sobre a história do povoamento da região a partir dos rios e dos caminhos do ouro.

Fabíola Dandara, conselheira do Subcomitê Rio Itabirito, acredita que a gestão participativa das águas se dá a partir desse elo das entidades com a comunidade. “Destacamos a importância fundamental dos Subcomitês na realização e no apoio a essas iniciativas. Os Subcomitês têm atuado como um elo entre a comunidade, o poder público e as instituições de ensino, promovendo a educação ambiental como ferramenta de transformação social e fortalecimento da gestão participativa das águas”, afirmou.

Nesse sentido, a educação ambiental serve para criar um senso de responsabilidade coletiva. “Acreditamos que investir na formação ambiental das novas gerações é essencial para garantir um futuro mais consciente e sustentável para todos”, finalizou Fabíola.


 

As águas atravessam diversas disciplinas escolares e agora, também atravessam os corações dos alunos da “Dona Cota”


A importância dos Subcomitês Nascentes e Itabirito

Imagine que a bacia do Rio das Velhas é um território muito grande, que envolve várias cidades, rios e comunidades. Para facilitar o cuidado com essa área toda, ela é dividida em pedaços menores, as Unidades Territoriais Estratégicas (UTEs), e cada pedaço tem um Subcomitê. Nesse sentido, os Subcomitês Nascentes e Rio Itabirito têm dois papéis principais: escutar e representar os interesses e necessidades da população local em relação à água — como qualidade dos rios, abastecimento, preservação de nascentes e educação ambiental – e levar essas demandas até o Comitê principal.

Nesse contexto, Viviane, que também é conselheira do Subcomitê Nascentes, entende que a participação dos colegiados consultivos do CBH Rio das Velhas em ações de educação ambiental é estratégica para criar uma cultura de cuidado com a água. “A vivência prática junto aos rios, córregos e nascentes permite que os estudantes compreendam, de forma concreta, a importância dos recursos hídricos, indo além do aprendizado teórico. Essa aproximação gera vínculo emocional, senso de pertencimento e responsabilidade com o território”, afirmou.

Além disso, Viviane ressaltou que os Subcomitês dão legitimidade técnica às iniciativas e promovem o diálogo entre as escolas. “A presença do Subcomitê fortalece o diálogo entre escolas, comunidade e órgãos públicos, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e comprometidos com a preservação ambiental. Assim, não se trata apenas de apoiar atividades pontuais, mas de investir na construção de uma geração preparada para defender e preservar suas bacias hidrográficas com conhecimento, empatia e responsabilidade”, finalizou.

Caboclo d’água: educação ambiental através do esporte, turismo e folclore

O projeto que promoveu a vivência para as crianças leva o nome de uma figura lendária do folclore do Rio São Francisco, que recebe as águas do Rio das Velhas em Minas Gerais. A criatura fantástica tem domínio sobre os rios e o defende, como espírito protetor das águas.

Rodrigo de Angelis explica que o Projeto Caboclo d’Água nasceu de uma antiga vontade de unir turismo sustentável, esportes náuticos e educação ambiental. “Em 2003, participei da expedição de caiaque do Projeto Manuelzão, da nascente até a foz do Rio das Velhas. Desde então, sonhava em criar um espaço onde as pessoas pudessem praticar esportes e, ao mesmo tempo, aprender sobre a importância da conservação da água”, conta.

Hoje, Rodrigo, que é também vice-presidente da Associação Sumo da Terra e conselheiro da Associação Comunitária de Acuruí, mantém uma propriedade às margens da represa. A visita da escola foi o projeto piloto de uma ação que pode se transformar em programa regular, em parceria com prefeituras, associações e demais instituições públicas e privadas da região.


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Igor Varejano
*Fotos: Léo Boi