Cervejaria em Itabirito homenageia história e personagens do Rio das Velhas

16/11/2017 - 10:56

Aqueles que conhecem a história do Rio das Velhas, diretamente ligada a de Minas Gerais e do Ciclo do Ouro, sabem que Richard Burton foi um explorador inglês que, há 150 anos, promoveu a primeira expedição pelo rio até chegar ao Atlântico, passando pelo Velho Chico. Ou mesmo que Saint-Hilaire foi um naturalista francês que veio a Minas no final do século XVIII para pesquisar plantas até então desconhecidas do velho mundo. E que Ana de Sá, além de uma influente fazendeira da então comarca de Vila Rica, dá nome a uma antiga e importante ponte de pedra e madeira que atravessa o Velhas, descrita com destaque por vários historiadores do século XIX e que foi passagem de vários ilustres personagens da época, como o próprio imperador Dom Pedro II.

Mas o que nem todo mundo sabe é que Capitão Burton é também uma cerveja do tipo American Pale Ale, com forte presença de maltes especiais, amargor moderado e aroma acentuado cítrico. Ou que Saint-Hilaire foi eleita a melhor bebida do tipo do país no Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau-SC. E que Ana de Sá, uma Hefe Weizen, harmoniza com peixes e até sobremesas leves.

São exatamente a história, os personagens e fatos marcantes ligados ao Rio das Velhas que norteiam o conceito da Cervejaria Uaimií, localizada em Acuruí, distrito de Itabirito. Até mesmo no nome: a expressão Uaimií, em tupi-guarani, significa Alto Rio das Velhas. Como contam José Maurício Siqueira e Normando Campos Siqueira, pai e filho que comandam o negócio, a cervejaria é mais do que uma homenagem às águas que banham a região, e que passam a não mais do que 300m da fábrica. “É uma tentativa de valorização das coisas da terra, da região, dessa mineiridade nossa”, afirma o pai, José Maurício.

Tudo começou quando ele adquiriu as terras que hoje abrigam a fábrica, em meados dos anos 2000. Um antigo chefe, estudioso do Ciclo do Ouro, resolveu então o presenteá-lo com uma série de livros históricos que citam a região. “Inicialmente, eu não sabia que a história aqui tinha sido tão forte. Mas à medida em que fomos lendo esses livros, encontramos várias citações às redondezas, à ponte Ana de Sá, ao próprio terreno”.

Em paralelo a tudo isso, um hobby surgia: o de fazer cerveja. Inicialmente, toda a produção era feita em panelas, mas vendo que o negócio era promissor, principalmente a partir do sucesso que fazia com os amigos, em 2011 decidiram entrar no mercado.

Normando lembra que, nesta época, ele e o pai foram à Europa visitar outras cervejarias e então concluíram que não bastaria apenas terem um produto de qualidade no mercado, que precisariam de um conceito por detrás da marca. “Foi aí que decidimos que teríamos uma cervejaria de fazenda. Depois juntamos tudo em torno da bacia do Rio das Velhas, seus personagens, flora e fauna”.

 Acima, rótulos da marca Uaimií (à esquerda), o pai José Maurício, o cervejeiro Alef e o filho Normando (à direita). Em baixo, placa na fazenda Ana de Sá, próxima à ponte homônima (à esquerda) e região onde se encontra a fábrica (à direita).

Atualmente, são produzidos oito tipos de cerveja diferentes na Uaimií. Além de Richard Burton, Saint-Hilaire e Ana de Sá, também são homenageados o Barão de Eschwege (Dortmunder Lager), ou Wilhelm Ludwig von Eschwege, também conhecido como Barão do Espinhaço, engenheiro, geólogo, metalurgista e mineralogista, descobridor de tesouros incalculáveis nas proximidades da fábrica; a ave Carcará (India Pale Ale); as plantas Flor de Lua (Witbier) e Ora-pro-nóbis (Double IPA); além de Chico Rei (Dry Stout), personagem lendário que, trazido como escravo para o Brasil, conseguiu comprar sua alforria e de outros conterrâneos com seu trabalho e tornou-se uma espécie de rei em Ouro Preto.

Até mesmo a edificação da fábrica da Uaimií é inspirada na famosa Casa de Ópera de Ouro Preto, teatro mais antigo em funcionamento nas Américas. Na fazenda, além da produção de cervejas, são também cultivadas flores e folhagens, bem como preservados outros 40 hectares de mata virgem.

Ainda segundo Normando, a sustentabilidade não está presente somente no conceito da marca, como também incorporada nos processos produtivos da cervejaria. “Hoje, todo nosso rejeito [basicamente bagaço de malte], ou vira adubo ou vai para alimentação animal. Além disso, também promovemos o reaproveitamento da água que consumimos no processo de pasteurização. Também está em construção a nossa própria ETE [Estação de Tratamento de Esgoto], conclui”.

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