Cicloexpedição pelo Ribeirão Arrudas celebra o Dia do Rio das Velhas

29/06/2024 - 16:51

Neste sábado (29), aconteceu a Cicloexpedição ‘Velhas Faço Parte’, uma ação promovida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), em parceria com os Subcomitês, movimentos ligados à proteção das águas, à mobilidade urbana, ambientalistas, urbanistas e bicicleteiros. A ação encerrou a programação da Semana Rio das Velhas, promovida anualmente pelo Comitê.


O grupo de ciclistas formado por cerca de 100 pessoas percorreu parte do curso do Ribeirão Arrudas, afluente do Rio das Velhas e um dos rios mais importantes que atravessa Belo Horizonte. O dia 29 de junho é reconhecido como o Dia do Rio das Velhas, mas além de celebrar, o evento propôs reflexões importantes.

A Cicloexpedição foi realizada como um convite à população para conhecer o território da bacia e, como ressalta Poliana Valgas, presidenta do CBH Rio das Velhas, esse é um primeiro passo importante para a preservação das águas dos rios. “A ideia aqui é primeiro apresentar à sociedade o Rio das Velhas. A sua importância, seja para o abastecimento público, seja para outras regiões, como os ribeirinhos, que dependem dos peixes no Baixo do Rio das Velhas. E outros usos, como até a agricultura. Então, um rio importante para diversos usos múltiplos ao longo de toda a bacia, e a gente precisa cada vez mais que a sociedade se envolva pra gente poder, ao longo dos anos, melhorar a qualidade de água do Rio das Velhas porque eu acho que é o sonho de todos nós como moradores dessa bacia.”

O Ribeirão Arrudas é um dos rios que mais sofreu com a degradação ao longo dos anos devido à canalização constante das águas. A cidade chega a ser reconhecida por muitos como a “cidade dos rios invisíveis”. Jeanine Oliveira, ambientalista que se autodenomina “Filha do Arrudas”, também falou sobre ressignificar a imagem que a população tem sobre as águas. “O Ribeirão Arrudas é responsável pela drenagem de quatro grandes regiões da cidade de Belo Horizonte. O Barreiro, Centro-Sul, Centro e a Zona Leste de Belo Horizonte. [O objetivo hoje é] fazer uma memória ao Ribeirão Arrudas, atribuir mesmo valor a ele, ensinar as pessoas a importância desse rio, contar a história desse rio. E quem sabe, né? Para um futuro a gente ter um rio vivo dentro da cidade, que a gente possa usar para nadar. O futuro é o que a gente quer. É que ele seja um rio vivo.”

Ronald Guerra, vice-presidente do CBH Rio das Velhas, participou das três primeiras edições das expedições pelo Rio das Velhas e pontuou um problema persistente que se alinha à preocupação com o Arrudas. “A cidade vai crescendo cada vez mais e não cresce na mesma velocidade os programas de revitalização e os programas de saneamento para corrigir justamente isso. Então, o Rio ainda continua com muito lançamento de esgoto em sua calha. Isso é muito triste porque para a gente a principal e a mais necessária ação para a despoluição do Rio é justamente a intersecção dos esgotos e o tratamento.”

Saiba mais sobre a Cicloexpedição

Os ciclistas saíram do Parque Ecológico Roberto Burle Marx, ou Parque das Águas, no Barreiro, e seguiram até o Parque Municipal René Giannetti, no Centro de Belo Horizonte. De forma investigativa, o grupo passou pelos cursos d’água visíveis e ocultos na cidade.

Daniel de Oliveira, um dos participantes da cicloexpedição, comentou sobre a conexão entre os dois temas abordados na proposta do evento: a mobilidade urbana de BH e o cuidado com os rios da cidade. “Não tem um respeito muito grande com o uso de bicicleta e ao mesmo tempo também não tem um respeito muito grande com a bacia hidrográfica de Belo Horizonte. É muito legal poder participar de um projeto que quer trazer um pouco de visibilidade para isso, porque o caminho para a cidade melhorar é esse. E eu que moro em BH desde sempre, é visível a piora da infraestrutura de transporte, principalmente público, a piora no respeito ao ciclista, uma cidade que, a meu ver, regrediu nesses pontos. E agora, tomara que com esses projetos, não só esse, com outros que tenham também, isso vai melhorando com o tempo…”

O Projeto Manuelzão e o CBH Rio das Velhas já realizaram três expedições pelo Rio das Velhas nos anos de 2003, 2009 e 2017, mas a proposta deste ano foi diferente. Marcelo da Fonseca, diretor-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) marcou presença no evento e comentou sobre o significado importante do novo formato. “É importante trazer isso para o centro de Belo Horizonte, a principal cidade da bacia, que tem levado ao Rio muito sofrimento. Eu acho que na medida em que a população de Belo Horizonte entende a importância do rio, de todos os afluentes que estão aqui dentro, e não lembra do rio somente no momento crítico, onde tem enchentes, tem poluição, etc. Eles precisam ver o rio como um potencial para melhorar a qualidade de vida do município. (…) Nós precisamos envolver a comunidade, toda a população. Então é importante que seja aqui, no centro de Belo Horizonte, como uma forma de irradiar para toda a região metropolitana a importância do Velhas no contexto, né? ”

Para Daniel Costa, outro participante do grupo de ciclistas, a iniciativa teve grande impacto. “Foi muito importante, assim, mobilizar, participar disso, entendendo isso como mobilização. De mostrar que existe um rio, porque muita gente sabe que é um rio mas encara isso como um problema. Imaginar que daqui pra frente pode ter um outro sentido, isso depende de muita coisa mas é um prazerzão fazer parte. Foi um passeio super gostoso.”


Veja mais fotos da cicloexpedição:


Programação Cultural no Parque Municipal René Giannetti

No ponto de chegada, uma programação de festividades aguardava os participantes da Cicloexpedição. A agenda do evento reuniu atrações diversas que incluíam exposições educativas, apresentações musicais, poéticas e teatrais. Além da presença de barracas com exposições de movimentos parceiros do CBH Rio das Velhas e dos Subcomitês como o Projeto Manuelzão, sempre presente nas ações do Comitê.

Entre as apresentações culturais, Mestre Amâncio, o brincante cantador, compositor e educador ambiental entregou um show que unia arte e consciência ambiental, dupla de qualidades que envolvem seu trabalho com a cultura popular. Para ele, o convite de estar presente no evento de hoje foi muito importante. “Vem coroar aquilo que a gente acredita …é reconfortante você trabalhar com aquilo que você acredita. Então, a gente não é salvador do mundo, mas a gente gosta dessa utopia e dessa prática de fazer aquilo que a gente acredita.”

O bloco carnavalesco Toca Raul Agremiação Psicodélica também marcou presença com o ensaio aberto do tema carnavalesco de 2024, “Buliram muito com o planeta”. Outros artistas convidados foram Salin de Sá, Lemuel Marques e o Grupo Flôr do Cerrado. Para além das apresentações artísticas e a programação cultural, teve degustação promocional da cerveja Uaimií, nome indígena ligado ao Rio das Velhas com rótulos inspirados na história e personagens da nossa bacia hidrográfica.

Semana Rio das Velhas

A Cicloexpedição marca o encerramento da programação da Semana Rio das Velhas, uma extensa programação realizada em torno da data de 29 de junho, reconhecida como Dia do Rio das Velhas.

A ação é realizada anualmente pelo CBH Rio das Velhas e, em 2024, se inspirou na piracema com a proposta de percorrer a bacia no sentido “rio acima” – como os peixes a caminho da reprodução. Dessa forma, a programação teve início no Baixo Velhas e a cada dia avançava à cabeceira do rio.

Na programação da Semana, além da Cicloexpedição pelo Ribeirão Arrudas, também aconteceram exposições educativas itinerantes, exibição de vídeos, Diálogos Regionais entre os Subcomitês que compõem o CBH e plenária comemorativa.


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Yasmim Paulino
*Fotos: João Alves