O Grupo Gestor de Vazão do Alto Rio das Velhas (Convazão), organismo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), criado em dezembro de 2015 como “sala de situação” que pensa e age para assegurar a segurança hídrica da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), retomou, nesta quinta-feira (16), o ciclo de reuniões que todo ano coincide com a época da seca.
Logo no início, o meteorologista da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), Arthur de Paiva, fez um balanço do período chuvoso e apresentou as previsões para os próximos meses. O cenário é preocupante. Segundo Paiva, de outubro a março passado choveu entre 600 e 700 milímetros, contra uma média de 1.400 mm nos últimos 30 anos.
As projeções indicam que a situação de bloqueio que vem impedindo o avanço de frentes frias para o sudeste deve continuar pelo menos até o final deste mês. Os “valores baixíssimos de umidade relativa do ar, na casa dos 20% na maior parte do estado, aumentam a taxa de evaporação e o deplecionamento dos reservatórios”, registra.
O especialista anuncia “meses praticamente sem chuvas pelo menos até setembro para o Alto Velhas” e alerta: “O período de queimadas já começou e já temos recordes em quantidade. A previsão não é boa”.
Cartas na mesa
Renato Constâncio, engenheiro da gerência de Planejamento Energético da Cemig e secretário do CBH Rio das Velhas, menciona os relatórios semanais sobre vazão a montante da captação da Estação de Tratamento de Bela Fama, da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), situada em Nova Lima e responsável pelo abastecimento da capital e de parte da RMBH: “Temos em Bela Fama a chamada outorga invertida. Ao invés de captar 30% e deixar 70% de vazão residual, capta 70% e libera 30%. Na foto atual, a vazão do Rio das Velhas lá é de 22,4 m3 por segundo, dos quais a Copasa está captando cerca de 7,6 a 7,8 m3/s”. Constâncio lembra que a marca “do estado de atenção é de 20,96 m3/s”.
De acordo com Nelson Guimarães, Superintendente de Desenvolvimento Ambiental da Copasa, em 16 de maio os reservatórios que complementam o abastecimento da região marcavam o seguinte: Rio Manso com 85,6% da capacidade; Serra Azul com 93,1% e Vargem das Flores com 74,4%”. Os dados estão disponíveis no site da empresa com atualização diária.
Weider de Oliveira, da AngloGold Ashanti, que administra o sistema Rio de Peixe, com sete Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Três reservatórios (Lagoa Grande, ou dos Ingleses, Codorna e Miguelão), informa que, “ao findar o período úmido, estamos replecionando os reservatórios e atingimos a casa dos 70% da capacidade para atender no período mais crítico”.
Mesmo diante das previsões meteorológicas, Oliveira avalia que, “comparada a anos passados, a situação é até mais favorável”. Constâncio concordou e anotou: “Já chegamos nessa época com 14, 15 m3/s” de vazão do Rio das Velhas em Bela Fama.
Aleandro Santana, gerente de Operações e Manutenção do sistema de geração de energia de Rio de Peixe, garante que “não há uma previsão de deplecionamento dos reservatórios para a geração de energia elétrica em 2024, significando que esse volume vai ser utilizado para regularizar o Velhas”.
Para Kênia Guerra, gerente de Hidrogeologia e Meio Ambiente da AngloGold, “parece que o Velhas ainda reflete um pouco do período chuvoso do ano anterior, concentrando um volume de água até razoável”, mas pede “parcimônia”, porque “diante da situação de Rio de Pedras, a gente vê que Rio de Peixe é quase a única fonte que a gente vai ter. Então, é preciso ter bastante critério, administrar esse volume ao longo desses meses para realmente usar só o essencial”.
Guerra se referiu à intervenção de James Giacomazzi, representante da Mang Participações e Agropecuária, nova proprietária do único barramento existente no Alto Rio das Velhas, Rio de Pedras, em Itabirito.
Conforme Giacomazzi, lá o “assoreamento é muito grande, com 45 m de altura na barragem e 39 m de assoreamento”. A empresa “quer pôr uma draga para desassoreamento permanente”, mas depende de obter da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) “o aumento do tempo de concessão para compensar o investimento”.
Mês a mês
Sérgio Neves, da equipe da Copasa, solicitou o compartilhamento de “informações do monitoramento reservatório da Anglo e de Rio de Pedras” face à “delicada situação trazida pelo Arthur”.
“A gente quer trabalhar com a previsão e projeção dos reservatórios da Anglo, como fazemos com os da Copasa, com simulações de cenários diversos em função da demanda”, detalha. Neves ressalta a importância de contar “com todas as informações da bacia” e tem “a expectativa de repetirmos novembro passado, com extremo calor e baixíssima umidade do ar, forçando a elevação da demanda de água em mais de 20% “.
Núbia Vale (Copasa) destaca a necessidade de já deixar agendada outra reunião após a de junho, e faz um pedido “de revisão da previsão meteorológica”, por entender que “com dois meses vai haver uma aderência melhor dessa previsão e a gente consegue entrar no período de estiagem sabendo melhor em que terreno estaremos pisando”.
Ficou decidido que o Convazão volta a se reunir em 20 de junho e novamente em 18 ou 25 de julho, então já contando com a revisão da previsão meteorológica.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Paulo Barcala
*Foto: Bianca Aun