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Em Rio Acima, projeto Jovens Cientistas impulsiona mobilização pela recuperação das águas e da cachoeira do Sansa

13/08/2025 - 15:21

Em Rio Acima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e coração do Alto Rio das Velhas, estudantes da rede pública estão transformando o aprendizado em cidadania. Em meados do último mês de julho, alunos do projeto “Jovens Cientistas: Nas Águas da Ciência Cidadã” realizaram uma visita técnica à cachoeira do Sansa, um dos principais patrimônios naturais da cidade. No local, fizeram análises da qualidade da água e, a partir dos resultados, redigiram uma carta com recomendações e um pedido formal de proteção do recurso hídrico, entregue às autoridades municipais.


O projeto teve início em 2023 com estudantes do 7º ano da Escola Municipal Honorina Gianneti, por meio de uma parceria entre o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), o Subcomitê Águas da Gandarela e o projeto EcoÁguas Gandarela, que forneceu o EcoKit utilizado nas análises. Entre agosto e novembro daquele ano, os alunos realizaram coletas na própria cachoeira do Sansa e no córrego Viana, ambos no centro da cidade. Os testes físico-químicos mediram parâmetros como pH, oxigênio dissolvido, nitrito, nitrato, amônia e fosfato. A ação faz parte de um esforço mais amplo de biomonitoramento da Bacia do Rio das Velhas, que envolve 23 escolas e conta com o apoio do grupo de pesquisa Educação, Mineração e Território (EduMiTe/UFMG).

Quem lidera a iniciativa em Rio Acima é a professora Daniela Campolina, integrante do Subcomitê Rio Itabirito e do EduMiTe. Segundo ela, o projeto vai além do ensino tradicional. “A importância dessa atividade é, primeiro, mostrar que a ciência não se faz apenas na universidade, longe da sociedade. Essa é uma ação de ciência cidadã. Nada melhor do que os próprios moradores para produzir conhecimento sobre o território em que vivem”, afirma.

Daniela destaca que a cachoeira do Sansa, com cerca de 30 metros de altura e localizada no centro da cidade, já foi ponto de lazer da comunidade, mas hoje está imprópria para banho. “Ainda assim, os dados mostram que a situação é menos grave do que dizem. Identificamos bioindicadores sensíveis, e isso precisa ser valorizado”, completa.


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Além de promover a valorização de um patrimônio natural, o projeto contribui para a formação crítica dos jovens. “Essa atividade tem método, sistematização, dialoga com o currículo escolar e com a cidadania. É uma oportunidade de formar estudantes conscientes diante da crise climática e dos eventos extremos que já afetaram Rio Acima, como a enchente de 2022”, explica Daniela. Ela ressalta que a maioria da população vive às margens do rio e que conhecer as águas é também um exercício de pertencimento. “Entender como estão essas águas é uma questão de responsabilidade coletiva com o futuro do território.”

Como parte das ações do projeto, os estudantes redigiram uma carta endereçada às autoridades de Rio Acima, na qual expressam preocupações e propostas concretas para a preservação da cachoeira do Sansa. No documento, os jovens cientistas sugerem a criação de um Parque Municipal com um Centro de Educação Ambiental, pedem a retirada do esgoto que compromete a qualidade da água e reforçam a importância da participação popular na gestão do espaço. “Sonhamos com um lugar de lazer, turismo e aprendizado, onde a história da Sansa e das águas do Gandarela possa ser valorizadas”, escreveram.

Estudantes

Para Camila Fernandes Silva Costa, de 13 anos, aluna do 8º ano, a experiência foi transformadora. “Em 2024, comecei sem saber quase nada. A professora Daniela Campolina me convidou, e fui pegando prática. Comecei a gostar muito do projeto”, conta. Hoje, Camila se sente segura para ajudar colegas e reconhece a mudança no olhar. “Eu nem sabia que a cachoeira tinha esgoto. Aprendi a mexer com os equipamentos, a fazer as análises. Se não fosse a Dani (professora), eu não estaria aqui. Ela me ensinou tudo.”

O aluno Bernardo Duarte Silva, de 14 anos, do 9º ano, também se envolveu com entusiasmo. Ele vê no projeto uma forma de defender a cachoeira do Sansa, que sofre com o despejo de esgoto nos córregos. “A gente entregou uma carta para tentar resolver esse problema. Queremos transformar o espaço em um parque cultural chamado Águas do Gandarela, para que a população possa voltar a usufruir da cachoeira”, afirma.

Para ele, a iniciativa desperta senso de responsabilidade: “Não é todo lugar que tem uma cachoeira no centro da cidade. Esse projeto me faz olhar para o ambiente com mais atenção e vontade de cuidar.”


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: João Alves
*Fotos: João Alves