Na última segunda-feira (28), o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) e Subcomitê Ribeirão da Mata realizaram o Seminário Final para apresentação do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Municipal (APAM) Cachoeira da Lajinha. A unidade de conservação, de 386 hectares e que possui espécies em extinção, se encontra ameaçada pela intenção do Governo de Minas Gerais em construir um Rodoanel que atravessaria o território.
O encontro foi marcado por momentos de descontração e de debates entre membros do poder público e da sociedade civil. Conforme explicou Patrícia Pereira, Coordenadora Geral do estudo pela empresa Ecosoul, “o Plano de Manejo estabelece o zoneamento da APAM, seus objetivos e as normas para assegurar os seus recursos e valores fundamentais, inclusive as estruturas físicas necessárias à gestão”.
Segundo ela, o Plano de Manejo visa a apresentar diretrizes mínimas para a utilização da área de maneira sustentável. Nesse sentido, o território foi dividido, de forma participativa em oficinas realizadas anteriormente, em: Zona de Uso Moderado, que permite o uso direto dos recursos naturais são permitidos; Zona de Produção Sustentável, onde serão admitidas moradia, atividades de produção e atividades de suporte à produção; e Zona de Uso Restrito, esta última ocupando 68% do território, onde apenas uso direto de baixo impacto (eventual ou de pequena escala) dos recursos naturais será autorizado.
O Plano de Manejo apresentado descreve o meio biótico da APAM Cachoeira da Lajinha como sendo de grande variedade de fauna e flora. “O local apresenta características de vegetação tanto de Cerrado quanto de Mata Atlântica. São 392 espécies de flora, 10 delas ameaçadas de extinção, 17 de peixes, 21 de anfíbios, 17 de répteis, 197 espécies de aves e 17 espécies de mamíferos, dentre as quais duas estão ameaçadas de extinção. Tudo isso só reforça a importância de se proteger a área e a biodiversidade que existe aqui”, destaca Bruno Alves, Coordenador Geral do estudo. Para ele, a preservação ambiental não significa a interdição da presença humana no local. Pelo contrário: durante a apresentação ele citou o potencial turístico para a observação das centenas de espécies de aves que lá estão.
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Para Ana Cristina Fernandes, Secretária Adjunta de Meio Ambiente de Ribeirão das Neves, todo o processo de construção participativa do Plano de Manejo ficará marcado na história da cidade. “Foi uma imensa alegria receber a empresa Ecosoul com o apoio do CBH Velhas e do Subcomitê Ribeirão da Mata. O Plano de Manejo vem para mostrar o potencial de Ribeirão das Neves não como cidade-presídio, mas como cidade de grandes recursos naturais. A participação da população foi ativa, debatendo, opinando e realizando o Plano de Manejo de maneira colaborativa. Isso é um marco para a história da cidade. Após a aprovação, vamos executar um trabalho principalmente junto ao estado de Minas Gerais para que reconheça a APAM Cachoeira da Lajinha como uma área de preservação ambiental.”
Tiago Viana, estudante de História, também expressou o incômodo com a visão que comumente se tem de Ribeirão das Neves. Morador da cidade desde seu primeiro ano de vida, o estudante participou de todas as etapas de construção do plano. “Ribeirão das Neves é uma cidade extremamente estigmatizada por ser reconhecida como uma das cidades com o maior complexo carcerário da América Latina. Eu conheci melhor a APAM Cachoeira da Lajinha apenas depois de adulto, há cerca de três anos, e inclusive produzi um documentário chamado “Olhares Marginais” sobre a ameaça da construção do Rodoanel em seu território. E a construção do Plano de Manejo começou logo depois! Para nós, do município, ter uma área de conservação ambiental que, ao longo da construção do Plano de Manejo, descobrimos ser muito mais rica em biodiversidade do que imaginávamos é muito importante, é uma coisa que vai ficar para as gerações desta cidade e da região metropolitana”, finalizou.
O território
A Unidade Territorial Estratégica (UTE) Ribeirão da Mata localiza-se no Médio Alto Rio das Velhas. Composta pelos municípios de Capim Branco, Confins, Esmeraldas, Lagoa Santa, Matozinhos, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, São José da Lapa e Vespasiano, ocupa uma área de 786,84 km².
O rio principal é o Ribeirão da Mata, com 80,44 km de comprimento. Outros importantes cursos d’água são o Córrego Boa Vista, Córrego Água Fria, Ribeirão Vau do Palmital, Ribeirão Urubu, Ribeirão das Neves e Ribeirão das Áreas.
A UTE Ribeirão da Mata possui oito Unidades de Conservação inseridas parcialmente em seu território, ocupando 25,16% de sua área total. Quanto à prioridade, 81% da área da Unidade é considerada prioritária para conservação.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Leonardo Ramos
Fotos: Leonardo Ramos