Era início de 2020. Em poucos minutos, o nível do rio das Velhas subiu tanto que atingiu casas e comércios nas partes mais baixas de Raposos, na região metropolitana de BH. A inundação atingiu até telhados e desabrigou quase metade da população da cidade, construída às margens do leito. Passados quase dois anos, o risco se mantém: o município é o mais suscetível a alagamentos e deslizamentos de terra na região, com 32,5% do território considerado de alto risco, Conforme o Serviço Geológico do Brasil, ligado ao Ministério de Minas e Energia. Na sequência, estão Rio Acima, com 26% da área, e Nova Lima, com 20%.
O órgão já fez mapas de suscetibilidade às chuvas também em BH e em outros seis municípios da região: Betim, Contagem, Ibirité, Sabará Santa Luzia. Coordenador executivo do estudo, Raimundo Costa da Conceição explicou que o objetivo do trabalho, que em Minas mapeou 52 cidades, é indicar localidades onde há maior potencial de ocorrerem movimentos de massa, como deslizamentos e queda de blocos, além de inundações. As áreas são categorizadas em classes: alto, médio e baixo risco.
“A população interfere no meio físico (da área urbana). No momento de construir uma casa, às vezes, acaba se cortando a encosta, desmatando, removendo algumas variáveis naturais”, observou o pesquisador. Por isso, o trabalho busca orientar os municípios quanto ao planejamento urbano, ajudar a tomar decisões e definir um plano diretor eficiente, além de estabelecer as ações são mais urgentes, para assim, evitar desastres com chuvas.
Também são formados aproximadamente 900 voluntários, treinados para ajudar a identificar sinais de movimentação de terreno em áreas de risco e prestar primeiros-socorros.
O especialista exemplificou: “A cidade, por crescer para a região Norte, é mais plana e não vai inundar, e, na porção Sul, há muitas áreas de encostas onde pode haver deslizamentos”.
Raposos (MG) tem 32,5% do seu território considerado de alto risco, sendo o município da região mais suscetível a alagamentos e deslizamentos de terra.
Ibirité
Um dos locais estudadas pelo Serviço Geológico do Brasil, Ibirité foi a cidade que mais sofreu, até agora, o atual período chuvoso. Houve deslizamentos de terra, inundações e desmoronamentos de casas. Quatro famílias ficaram desabrigadas, e outras nove, desalojadas.
É o caso do grupo familiar de Sabrina Vieira, 25, que mora no bairro Redenção, um dos mais afetados. Um barranco atingiu a casa do vizinho, que desmoronou. Os escombros caíram na casa da ajudante de produção, que teve a estrutura comprometida e não pode mais ser ocupada. “Tive que sair. Minha tia, que mora ao lado, também teve a casa atingida. Só pude pegar alguns pertences rapidamente, já que o risco de a estrutura cair é grande”, relatou. Mesmo com o auxílio-aluguel de R$ 400, ela não encontrou um novo lugar, então está com a mãe. “Só que a casa dela também está condenada, e vamos precisar sair”, afirmou.
Quando parte da casa desabou, a jovem estava no trabalho, e a filha, na escola. “Tive medo de acontecer o pior. É sempre assim na época de chuva”, lamentou.
Infraestrutura menor traz mais risco
Em BH, o bairro Novo Lajedo e as ocupações do Izidora, ambas na região Norte, são os locais mais preocupantes, segundo o diretor-presidente da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), Claudius Vinicius Leite. “Quanto menos infraestrutura, maiores são as chances de situação de risco grave. Mas temos áreas críticas em todas as regiões”, disse.
Segundo ele, muitas vezes, a atuação da prefeitura é limitada por serem áreas privadas, onde há os principais problemas. “Temos feito um trabalho para evitar a ocupação de áreas de preservação e de alto potencial de risco”, disse. E acrescentou: “Na última semana mesmo, tivemos um pedido judicial para intervir na rua Teodomiro Cruz (bairro Novo São Lucas) negado. Pedimos para atuar como se fosse um terreno público, mas não foi permitido. Ainda estamos monitorando a área, atendendo as famílias de forma humanitária”.
Há 25 anos, o programa de BH para mitigar os problemas atua em três planos: atendimento emergencial, obras e mobilização social. Há intervenções na seca, e, durante as chuvas, os órgãos são articulados para atuar em vistorias. “As obras (nas áreas de risco, para evitar problemas) ocorrem tanto por contratos nossos quanto com o morador fazendo, com assistência técnica e material da prefeitura. Neste ano, são 130 finalizadas ou em andamento”, informou.
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Matéria publicada originalmente pelo jornal O Tempo
Fotos: Lucas Nishimoto; Bianca Aun