Quase dois anos após o conjunto arquitetônico da Pampulha ser consagrado com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a remoção dos resíduos sólidos na lagoa ainda é um grande desafio.
Diariamente são retirados do espelho d’água e de suas margens cerca de 10 toneladas de lixo, segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). O serviço é realizado por 30 profissionais, aproximadamente, com ajuda de dois barcos e uma balsa. No período chuvoso, o volume de lixo dobra, chegando a 20 toneladas, que se juntam às oito toneladas de dejetos removidos diariamente pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) na Avenida Otacílio Negrão de Lima. Os itens mais pesados são os cocos, que alcançam média diária de três toneladas, volume que pode dobrar após finais de semana e feriados. O trabalho de varrição recolhe aproximadamente três toneladas de garrafas plásticas, latas de alumínio e outros objetos. Mais duas toneladas são compostas por restos de poda e de construção, animais mortos, pneus, colchões, sofás e outros materiais descartados irregularmente.
Entre materiais que já foram recolhidos de dentro da represa se destacam capacete, moto, carro, placas e cones usados para sinalizar o trânsito, animais mortos como bois, cavalos, cachorros e porcos, banheiro químico, carrinho de compras, geladeira, computador, entre outros. Além da retirada dos resíduos do espelho d’água, uma vez por ano o canal dos córregos Ressaca e Sarandi, os dois maiores que chegam na lagoa, são limpos a fim de evitar que sedimentos sejam carreados.
Segundo o coordenador do Projeto Somos Pampulha, Carlos Augusto Moreira, o principal problema é o descarte inadequado do lixo. “O problema número um para essa situação é o lixo ser descartado em lugar errado. É papel de cada um de nós como cidadãos ajudar. A população precisa se conscientizar e fazer a sua parte, colocando o lixo no lugar certo e no dia certo da coleta, caso contrário vai continuar chegando à Lagoa da Pampulha. Mas também existem obras clandestinas que precisam ser fiscalizados pelo setor público”, esclarece.
“Toda vez que chove, o nível da água sobe um pouco e o lixo vem para a beirada. E é muito lixo. Fica uma linha de resíduos por toda a orla”, reclamou o advogado Robson Ferreira, morador da região.
Já o comerciante Pedro Damasceno alerta que muitos não cumprem com o papel de cidadãos. “Eu vejo muitas pessoas jogando lixo, como coco, garrafas, plásticos dentro da lagoa. É o que mais vemos por aqui”, disse.
A bacia da Lagoa da Pampulha é composta por oito cursos d’água: córregos Mergulhão, Tijuco, Ressaca, Sarandi, Água Funda, Braúna, Olhos D’água e AABB.
Vida silvestre convive com o lixo que chega à Lagoa da Pampulha (à esquerda). Cerca de 30 funcionários atuam diariamente na limpeza da área (à direita). Créditos: Fernando Piancastelli
Qualidade da água
A Lagoa da Pampulha é um reservatório artificial de água situado em Belo Horizonte, construído em 1938. Com o processo desenfreado de urbanização e poluição dos córregos que abastecem o reservatório, a Lagoa da Pampulha se
tornou bastante poluída com o passar dos anos.
De acordo com nota enviada pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), em março de 2017, a qualidade da água da Lagoa da Pampulha atingiu a chamada Classe 3, que, segundo resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), permite, entre outras coisas, a pesca amadora e o contato secundário pelo ser humano em atividades como canoagem, remo ou passeios de barco. Mas, para isso, as atividades têm de ser regulamentadas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Enquanto essa fase não ocorre, uma nova ação projeta a retirada de aproximadamente 130 mil metros cúbicos por ano de sedimentos e terra do fundo do manancial até 2022.
A nota afirma ainda que é fundamental compreender que, “mesmo com o enquadramento da água da Lagoa da Pampulha em Classe 3, ela continuará sujeita a variações em sua qualidade, pois se trata de um lago urbano, que sempre será afetado por fontes poluidoras (poluição difusa em função da lavagem do solo pelas chuvas, eventuais vazamentos no sistema de esgotamento sanitário, lançamento de efluentes domésticos e/ou industriais clandestinos) que podem superar a sua capacidade de autodepuração. Nesse sentido, é oportuno destacar a importância de que sejam cumpridas as metas estabelecidas pela Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais (Copasa), para coleta e interceptação dos esgotos de 95% de atendimento da população da bacia hidrográfica, inclusive com investimentos em manutenção preventiva e corretiva, de forma a minimizar ocorrências de vazamentos que venham a aumentar a carga de poluição afluente à represa.”
Esgoto
A Copasa concluiu, em dezembro de 2017, as obras de implantação de mais 13 quilômetros de redes coletoras e interceptoras de esgoto, elevando o percentual de atendimento à bacia da Lagoa da Pampulha a 95,53%. Segundo a empresa, cerca de 10 mil imóveis ainda não se ligaram à rede instalada na rua pela empresa, o que significa que essas famílias continuam jogando o esgoto em córregos tributários da lagoa.
Muitos dos que fazem o descarte clandestino não querem aderir ao modelo regular para não terem que pagar pelo serviço de coleta, que corresponde a 90% sobre o valor que cada morador paga pela água utilizada. “A principal resistência diz respeito à questão financeira. Hoje, a Copasa não tem poder para obrigar o cliente a ligar seu imóvel ao sistema de esgotamento sanitário, apesar de estar prevista em lei. A ligação é gratuita, mas, a partir daí, o usuário é obrigado a pagar mensalmente pela coleta”, afirmou o diretor de Operação Metropolitana da Copasa, Rômulo Perilli.
Para reduzir esse número, a companhia realiza um trabalho para conscientizar os moradores sobre os benefícios do esgoto coletado e tratado para a saúde e meio ambiente. Além disso, a empresa desenvolve o programa Caça Esgoto, que busca os lançamentos indevidos de resíduos em galerias pluviais de vilas, aglomerados e favelas.
Veja mais fotos do lixo e da vida silvestre na Lagoa da Pampulha:
Mais informações:
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
comunicacao@cbhvelhas.org.br