A mineração pode avançar na Serra da Piedade e ameaçar o abastecimento de água de Ravena, distrito de Sabará (MG). A concessão de licenças de Pesquisa e de Instalação à AVG Mineração numa área de influência da Serra da Piedade tem mobilizado ambientalistas que questionam o processo.
A área onde a mineradora pretende atuar foi adquirida da Brumafer, um espaço degradado no qual um acordo foi feito junto ao Estado para que ocorresse uma recuperação. De acordo com esse documento de ajuste para reparação de dano ambiental, a mineradora poderia retirar e beneficiar minério da área degradada para obter recursos para o trabalho de restituição da área.
“O problema é que, agora, a empresa apresentou um pedido de licenciamento para minerar em áreas ainda não atingidas, ferindo o acordo feito com os Ministérios Públicos Federal e Estadual. Fomos pegos de surpresa com a ousadia dessa empresa, já que a Serra tem tombamento federal e estadual”, disse a ambientalista Maria Teresa Corujo, conhecida como Teca, representante do Movimento SOS Serra da Piedade e conselheira do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas).
De acordo com o representante da sociedade civil no Subcomitê Poderoso Vermelho, Júlio Bernardes, o que mais preocupa é a outorga de 31,4 l/s, solicitada pela AVG Mineração. “A nossa região passa por um problema no abastecimento de água, em que o uso é racionado, e a AVG entrou com um pedido de outorga que poderá esgotar a água da região e prejudicar ainda mais o abastecimento humano. A empresa alegou não haver outros usuários na região, no entanto existem muitos usuários com usos insignificantes. Além disso, temos muito produtores de agricultura familiar e sustentável que dependem da água para sobrevivência. Querem captar a pouca água que temos para lavar minério”, disse.
Júlio Bernardes acrescentou ainda que os moradores da região relatam falta de água em comunidades que ficam em pontos a jusante da mineradora, especialmente em dias de semana.
Júlio Bernardes (à esquerda) demonstrou preocupação com o valor da outorga da AVG. Teca (à direita) lembrou que a Serra da Piedade tem tombamento federal e estadual. Créditos: Ohana Padilha e Fernando Piancastelli.
O geólogo da Divisão de Recursos Hídricos da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerias), Geraldo Davino, esclarece que o valor da outorga solicitada pela AVG mineradora vai prejudicar o abastecimento de água da região. “A AVG Mineração solicitou uma outorga de 31,4 l/s no córrego Brumado, que é quase o total da vazão que pode ser outorgada no curso d’água, limitando os outros usuários da bacia. É uma vazão muito alta e que impede a Copasa de entrar com um pedido de captação no córrego Brumado. Atualmente, para abastecer a região de Ravena, a Copasa realiza a captação no córrego dos Pintos. Temos também um problema de recarga nessa região”, informou.
Nos últimos oito anos, a Copasa verificou uma redução na vazão mínima do córrego dos Pintos onde há captação de água e que são responsáveis pelo abastecimento de 100% da demanda de Ravena. “É extremamente perigoso o avanço da mineração. Pode faltar água na região”, acrescentou Geraldo Davino.
Os ambientalistas alertam ainda que há pelo menos 30 cavernas e várias nascentes na encosta da Serra da Piedade que ou vão ser destruídas ou vão sofrer impactos direto de atividades minerárias.
Serra da Piedade
A Serra da Piedade, localizada na divisa dos municípios de Sabará e Caeté no Quadrilátero Ferrífero, centro leste de Minas Gerais, constitui um importante sítio geológico associado à história da exploração do interior do Brasil pelos bandeirantes e à evolução geoecológica da Terra.
Apresenta ótimas exposições de itabiritos da Formação Cauê (Supergrupo Minas) que indicam mudanças na composição da paleo-atmosfera. Seu valor científico e paisagístico foi reconhecido no século XIX nos relatos de viajantes, tais como Saint-Hilaire e os naturalistas alemães Spix, Martius e Eschwege.
A partir de 1760, a Serra tornou-se também um referencial religioso com a construção de uma capela. Em 1956, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) tombou parte do conjunto paisagístico e arquitetônico da Serra da Piedade e seu tombamento com um perímetro maior foi concluído, em 2005, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA-MG).
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