Reunido na manhã desta quarta-feira (26), o Grupo de Trabalho que acompanha a situação das barragens de mineração no Alto Rio das Velhas (GT Barragens) ouviu explanações de quatro empresas do setor minerário sobre medidas adotadas para garantir a estabilidade de suas estruturas de barramento.
Especialmente no período chuvoso, cresce potencialmente o risco de extravasões, rompimentos e outros graves percalços que ameaçam a vida de um sem número de pessoas, o meio ambiente e a segurança hídrica de toda a região a jusante da captação a fio d’água da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) em Nova Lima, responsável por dois terços do abastecimento da capital mineira e de diversos outros municípios da Região Metropolitana.
Cocuruto
A primeira apresentação coube a Leonardo Padula, gerente sênior de Geotecnia Operacional da AngloGold Ashanti, que discorreu sobre o Complexo Queiroz e as barragens de Calcinados, Rapaunha e Cocuruto, em Nova Lima, todas com alteamento a jusante, levando também informações a respeito do Complexo Cuiabá, entre as cidades de Sabará e Caeté.
Padula detalhou o processo de controle realizado pelo Centro de Monitoramento Geotécnico da AngloGold, que inclui “inspeções quinzenais, intensificadas na época das chuvas, mapeamento de pontos mais sensíveis, análise de informações pela Engenharia de Registros e plano de manutenção”.
O gerente comentou a situação da Barragem Cocuruto, que entrou recentemente em nível 1 de emergência. Segundo Padula, a estrutura passou por duas auditorias de diferentes empresas especializadas e, uma delas, “entendeu que a declaração de estabilidade não era possível”. A Agência Nacional de Mineração (ANM) julgou, em meados de outubro, que era “necessária uma terceira opinião” e determinou “a elevação do nível de emergência” até lá.
Kênia Guerra, conselheira do Comitê de Bacia Hidrográfica Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) representando a AngloGold Ashanti, anunciou ao GT Barragens que o fato já havia sido comunicado oficialmente ao Comitê. Padula garantiu que “o relatório da terceira auditoria será emitido dentro de 15 a 20 dias”.
Níveis 1, 2 e 3
Mauro Rezende, da Vale, abriu a apresentação da mineradora lembrando que panorâmica semelhante “foi compartilhada, no último mês de agosto, com os conselheiros do Subcomitê Águas da Moeda do CBH Rio das Velhas”.
Os gerentes Fabiana Cruz e Daniel Raposo expuseram resumidamente a situação de 27 estruturas de barramento da companhia em Minas, construídas no sistema a montante. Das 13 localizadas na bacia do Rio das Velhas, seis se encontram em nível 1 de emergência, 5 no nível 2 e duas em nível 3, quando a ruptura é iminente ou está em curso: Forquilha III, na divisa de Itabirito e Ouro Preto, e B3/B4, da Mina Mar Azul, em Nova Lima, que “já atingiu 50% das obras de descaracterização”.
Cruz e Raposo descreveram também as principais atividades relacionadas à segurança de barragens, tais como “inspeção e monitoramento, e análise de integridade e performance dos ativos geotécnicos”, que englobam 33 cavas, 52 pilhas de produtos, estéreis ou rejeitos e 67 barragens e diques.
Mencionando o “uso de inteligência artificial” e o emprego de modernos equipamentos como tiltímetros (sensores de inclinação) e radares doppler (para monitoramento de estabilidade de taludes), os técnicos asseguraram que “o sistema não dorme”, conta com “180 profissionais diretamente ligados” a essa função e tem “plantões permanentes” durante a estação das águas, com “relatórios diários às 6, 7 horas da manhã”.
Para Valter Vilela, coordenador do GT Barragens, “a apresentação foi muito boa e mostrou que a Vale planejou usando tecnologia de ponta”, mas assinalou: “A gente agora precisa de uma exposição mais simples, concentrada no Alto Velhas, que seria muito útil para que possamos reportar para a Plenária” do Comitê.
Poliana Valgas, presidenta do CBH e integrante do GT, reforçou o pedido de “um segundo momento exclusivo para o Velhas [barragens localizadas na bacia hidrográfica]. Precisamos muito saber como estão essas estruturas”, disse.
Rezende, da Vale, ponderou que, com tantas estruturas, “não haveria como apresentar uma a uma”, e assumiu “o compromisso de fazer um resumo das barragens em nível de emergência”, já que “a intenção é esclarecer”.
Fora de operação
Renato Santos, responsável por quatro complexos da canadense Jaguar Mining, especializada na mineração de ouro, entre elas a Mina da Paciência, nas cercanias do distrito de Acuruí, em Itabirito, informou que a mina na Bacia do Rio das Velhas está “fora de operação desde 2012” e que a barragem “não tem mais volume útil viável” para novas processos minerários. Segundo Santos, no momento não existem “estudos de reaproveitamento de rejeito” nem “planejamento de retomada da produção”.
O técnico informou que a estrutura teve reconhecidas pelo ANM a Declaração de Condição de Estabilidade (DCE), em setembro deste ano, e a Declaração de Conformidade e Operacionalidade (DCO), em junho. Explicou também que a barragem é envelopada com geomembrana, tem controle diário e vistoria quinzenal por auditoria externa e que, em breve, serão “instalados tiltímetros” para aprimorar o monitoramento. Vilela agradeceu a objetividade: “Atendeu perfeitamente”.
Dique Lisa
Victor Landi, gerente de Barragens e Geotecnia da Vallourec, falou dos “avanços nas obras de recuperação na Pilha Cachoerinha”, na Mina Pau Branco, próximo ao condomínio Alphaville, na BR-040. Em janeiro, o carreamento de material sólido dessa pilha provocou o transbordamento do Dique Lisa e a inundação da rodovia logo abaixo.
Landi informou que “as obras de pré-estabilização foram concluídas, a bacia de dissipação será terminada ainda em novembro e que o envelopamento de toda a área de erosão, mais de 600 mil m3, estará pronto no próximo mês de maio”.
Segundo ele, o Dique Lisa, que chegou ao nível 2 de emergência em janeiro passado, atualmente está sem classificação de risco “devido aos serviços de recomposição executados”. A DCE, garantiu, já “emitida por auditorias independentes, apresentada ao Ministério Público e aguarda o reconhecimento formal da ANM”.
Valter Vilela parabenizou “a clareza e a objetividade” e declarou: “Ficamos tranquilos porque fizeram todo o possível num período muito curto”.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Paulo Barcala
*Foto: Leonardo Ramos