Foi realizada, na última sexta-feira (18), a 126ª Reunião Plenária Ordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas). Um dos principais pontos discutidos pela diretoria e pelos conselheiros foi a situação crítica na vazão de água do Velhas, em diferentes regiões da bacia. Os membros do Comitê também alertaram sobre a necessidade de ações urgentes e integradas no combate aos efeitos da crise climática, para melhorar a qualidade e a quantidade de água disponível na bacia.
Na abertura da Plenária, a presidenta do CBH do Rio das Velhas, Poliana Vagas, homenageou as vítimas que morreram recentemente após a queda de um helicóptero do Corpo de Bombeiros. “Há exatamente uma semana nós tivemos uma perda irreparável para Minas, com a morte de militares na região do Alto Velhas. Eu quero como presidenta ressaltar o brilhantismo que esses militares sempre tiveram, e também pelo trabalho intenso que fizeram na bacia do Velhas. Nos últimos meses tivemos muitos incêndios intensos ao longo da bacia, e o trabalho desses militares foi fundamental”, afirmou a presidenta do CBH.
Vários assuntos foram discutidos durante a Plenária. Poliana Valgas apresentou aos conselheiros um breve balanço sobre a participação dela como representante do CBH Rio das Velhas no Fórum Mundial da Água, realizado em Bali, na Indonésia, no último mês de maio. “Foi uma oportunidade única de participar dessas discussões a nível mundial. E os temas abordados foram muito interessantes. Nos 14 painéis que participei, vi que o mundo está trabalhando com integração, envolvendo a sociedade civil, mas também as empresas. Ficou muito visível que não se avança na preservação dos recursos hídricos sem o envolvimento de todos os setores. Vimos várias experiências positivas, incluindo um consenso mundial sobre a importância de se trabalhar com a engenharia cinza, a infraestrutura convencional, aliada com a engenharia verde. Sozinhas, elas não resolvem os problemas. Elas precisam estar integradas para que a gente possa mitigar os efeitos climáticos”, destacou.
Também foram apresentados detalhes da participação do CBH Rio das Velhas no Encontro Regional de Bacias Hidrográficas da Região Sudeste (ERCOB Sudeste), entre os dias 8 e 10 de julho. Os representantes do Comitê do Rio das Velhas participaram de três painéis durante o evento e apresentaram as experiências já implantadas na bacia. Na plenária, ainda foram discutidos detalhes da Proposta de Enquadramento dos Corpos de Águas Superficiais.
Os conselheiros votaram a aprovaram a candidatura de Poliana Valgas à coordenação executiva do Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas (FMCBH). Também foi aprovada a adesão do CBH do Velhas ao Protocolo de Monitoramento de Governança das Águas, que tem o objetivo de garantir água em quantidade e qualidade para todos os usos. A Câmara Técnica de Planejamento, Projetos e Controle (CTPC) vai ser responsável pela coleta, análise e acompanhamento dos indicadores de governança.
Situação crítica na bacia
Na Plenária, a diretoria do CBH Rio das Velhas alertou sobre o cenário preocupante de baixa vazão de água ao longo da bacia. E lembrou que o trecho a jusante da estação Santo Hipólito e a montante da estação Várzea da Palma se encontra em situação crítica de escassez hídrica superficial declarada pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM).
A mortandade de peixes registrada em alguns municípios da bacia também foi discutida. “O rio vinha em uma situação caótica, com uma vazão muito reduzida, pouca água e muita matéria orgânica. E, com a vinda das chuvas, tivemos uma carga pesada de poluição difusa. E neste ano a mortandade de peixes bateu recorde. Isso tem sido potencializado por diversas questões e mostra que temos que avançar muito em relação ao saneamento. Enquanto não avançarmos com políticas públicas para conter e tratar a poluição, dificilmente teremos um cenário diferente ao longo da bacia”, comentou a presidenta do CBH Rio das Velhas.
Em relação à vazão de água na bacia do Velhas, Renato Constâncio, engenheiro de planejamento energético da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), secretário do CBH Rio das Velhas e coordenador do Convazão (Grupo Gestor de Vazão do Alto Velhas), chamou atenção para o baixo nível dos reservatórios. Segundo ele, a estiagem histórica, que durou cerca de cinco meses, causou grandes impactos nos mananciais da região do Velhas. Porém, Renato explicou que as alterações nas outorgas, modificando a vazão residual mínima, ajudaram a manter o reservatório Rio das Pedras quase sempre cheio, ajudando a garantir o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). “Estamos conseguindo contribuir com o abastecimento da RMBH e com a vazão ecossistêmica. Este ano a situação foi bem mais intensa, mas desenvolvemos mecanismos mais eficazes de tomadas de decisão. 2024 foi o ano com mais manobras, talvez o pior dos anos. Agora, com a chuva voltando, esperamos que a situação melhore”, afirmou.
A Agência Peixe Vivo comentou sobre o andamento dos projetos em execução na Bacia do Velhas financiados com recursos do CBH do Rio das Velhas. E a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) apresentou detalhes sobre a qualidade de água nas análises realizadas nas Estações de Tratamento de Bela Fama e Morro Redondo. Nelson Cunha Guimarães, superintendente de desenvolvimento ambiental da Copasa, explicou que 117 parâmetros de qualidade são monitorados, em oito pontos de coleta. Os dados apresentados, de 2018 a 2024, considerando os testes feitos à montante do ponto de captação no Rio das Velhas, indicam a qualidade da água ao longo dos anos. “Os parâmetros de turbidez, concentração de ferro, alumínio e manganês ficaram dentro do previsto. A medição de arsênio e mercúrio ficaram abaixo do nível de quantificação. Na análise de turbidez a gente preconiza que os índices fiquem abaixo de 1. E na maior parte das amostragens do Velhas os resultados tem ficado abaixo de 0,3, o que a gente considera bastante positivo”, comentou Nelson.
A Reunião Plenária contou com a participação de representantes de vários municípios e sub-bacias do Velhas, que destacaram a necessidade de unir esforços e integrar diferentes setores para criar e implantar ações visando a preservação dos recursos hídricos. “Não vamos sobreviver enquanto bacia hidrográfica se não olharmos para esse assunto com a gravidade necessária. É uma situação emergencial e precisaremos ter coragem para fazer o que precisa ser feito”, comentou Maria Tereza Corujo, representante do Subcomitê Águas do Gandarela.
A diretoria do CBH Rio das Velhas garantiu que vai manter os esforços necessários para preservar a bacia e enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, aprimorando as ações adotadas com o objetivo de oferecer segurança hídrica para a população. “Em função deste último cenário de mortandade na bacia, a diretoria se reuniu para discutir a situação do rio. E pensamos em várias estratégias que vamos discutir com outros órgãos, como a Copasa, para avaliar quais foram os avanços, quais foram as regressões, e em quais trechos isso está acontecendo. Também vamos buscar uma parceria com o Serviço Geológico Do Brasil para ampliar o sistema de monitoramento telemétrico da água no Velhas e depois estender isso para o restante do rio, para que a gente continue a cuidar do Velhas”, finalizou Poliana Valgas.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Ricardo Miranda
*Foto: Ohana Padilha