
Em setembro deste ano, a Agência Peixe Vivo, que atua como agência de bacia do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), assinou contrato com a empresa Detzel para a elaboração do Diagnóstico Ambiental da Lagoa da Lapinha, localizada no distrito da Lapinha, em Lagoa Santa, no Médio-Alto Velhas. A ordem de serviço foi emitida em 24 de setembro, marcando o início de uma nova etapa na busca pela recuperação de uma das lagoas mais emblemáticas da região.
A iniciativa atende à proposta do Subcomitê Carste, apresentada por meio da Associação dos Amigos do Museu Arqueológico da Região da Lagoa Santa (AMAR). O diagnóstico tem como objetivo principal subsidiar a elaboração de projetos executivos para a revitalização completa da lagoa, respeitando suas características ambientais, históricas e sociais.
O projeto prevê quatro objetivos centrais: compreender a dinâmica hidrológica da lagoa e sua conexão com o sistema cárstico subterrâneo; analisar a dinâmica social de uso e ocupação do território; mapear áreas de recarga hídrica e fontes de sedimentos; e propor alternativas para os problemas identificados, com vistas à revitalização e uso sustentável da área, incluindo a pesca e o lazer.
A história da Lagoa da Lapinha está diretamente ligada à memória e à identidade da comunidade local. “Em 2017, um edital da Peixe Vivo reacendeu um sonho antigo da comunidade: recuperar a nossa lagoa, que já foi local de pesca e de alegria para muitas famílias”, lembra Erika Suzana Banyai, representante da AMAR. Segundo ela, o envolvimento comunitário sempre foi a força motriz do projeto. “Reunimos cerca de 40 famílias, descendentes dos primeiros moradores do distrito, que surgiu ainda no século XVIII. A vida girava em torno da lagoa e das roças, mas com o crescimento da comunidade, vieram as ocupações irregulares, o assoreamento e a perda do espelho d’água”, conta.
A pandemia da COVID-19 interrompeu os avanços que vinham sendo conquistados, mas a mobilização da comunidade persistiu. Erika destaca o papel da coordenadora do Subcomitê Carste, Márcia Lopes, na retomada do projeto. “A Márcia abraçou nossa causa. Agora estamos retomando com esperança. Minha expectativa é que, com o diagnóstico pronto, possamos avançar para a segunda fase: a recuperação paisagística da lagoa. O desejo da comunidade é claro: voltar a pescar na Lagoa da Lapinha”, afirma.
Márcia Lopes, coordenadora do Subcomitê Carste pela Associação Civil Movimento Lagoa Viva, destaca a importância estratégica do projeto para toda a bacia. “A Lagoa da Lapinha é um exemplo emblemático de como a união entre comunidade, conselheiros e instituições pode dar frutos. Estamos falando de uma área inserida em uma APA cárstica, com relevância ambiental e cultural. A degradação é visível, mas acreditamos que, com base em dados técnicos e científicos, conseguiremos traçar um plano consistente de recuperação”, ressalta.
Segundo ela, o diagnóstico ambiental também permitirá analisar o processo de ocupação urbana e indicar as adequações necessárias. “É um passo fundamental para que, no futuro, tenhamos mais uma lagoa da bacia do Rio das Velhas em recuperação, com base em estudos sólidos e embasados”, afirma Márcia.
Para Valmir Augusto, representante da Detzel, empresa responsável pelo diagnóstico, o desafio está em gerar dados consistentes que sirvam de base para as etapas seguintes do projeto. “Nosso trabalho vai muito além do estudo ambiental. Envolve também um levantamento socioambiental com a comunidade, entrevistas porta a porta e o mapeamento de toda a bacia de contribuição da lagoa. Também vamos avaliar a presença de sítios históricos e arqueológicos, que exigem atenção especial”, explica.
Valmir reforça que a proposta é identificar com clareza os impactos e propor soluções viáveis para a recuperação do ecossistema. “Queremos contribuir com informações seguras para apoiar a tomada de decisões por parte do CBH Rio das Velhas, da Prefeitura de Lagoa Santa e das demais instituições envolvidas”, afirma.
Com a retomada do projeto, a expectativa é que a Lagoa da Lapinha possa, no futuro, voltar a ser um espaço de convivência, cultura, lazer e biodiversidade, resgatando não apenas um ambiente natural, mas também a memória e o vínculo da comunidade com o território.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiz Ribeiro
*Foto da Lagoa de 2020: Divulgação