Rede Asas do Carste lança álbum de figurinhas como estratégia de educação ambiental com escolas

24/10/2018 - 19:06

Entre 2015 e 2018, 104 aves do entorno das lagoas da região cárstica de Lagoa Santa foram identificadas e fotografadas por alunos das escolas públicas dos municípios vizinhos, a partir de sete trabalhos de campo promovidos pelo projeto Rede Asas do Carste – uma iniciativa concebida pelos Subcomitês Carste e Ribeirão da Mata, pertencentes ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), com coordenação acadêmica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). A ação envolveu mais de 150 alunos de nove escolas, num trabalho continuado de educação ambiental que intercalava visitas de campo e atividades em sala de aula.

Alunos de escolas municipais em trabalhos de campo promovidos pelo projeto Rede Asas do Carste. Crédito: Ohana Padilha

Pois agora, todo esse acervo registrado pelas lentes das crianças e adolescentes da região se transformou numa outra importante ferramenta de educação ambiental: um álbum de figurinhas. O objetivo é que a publicação seja uma nova forma de incentivo à multiplicação da proposta pedagógica de envolver as escolas com seu ecossistema, fortalecendo noções de pertencimento. “O foco no projeto é o aluno. Acreditamos que é nele que a mudança vai acontecer a partir de uma releitura do ambiente do entorno. É pelo olhar e pela vivência dessa realidade que o indivíduo se transforma”, afirmou Procópio de Castro, conselheiro do CBH Rio das Velhas, e um dos organizadores do álbum ao lado de Derza Nogueira, Gefferson Silva e Thaís Drumond.

O álbum conta com 104 imagens de aves e apresenta o seu nome científico e popular, em qual lagoa foi encontrada, o nome dos alunos que a fotografaram, a família e ordem da ave, uma breve descrição do pássaro, o seu estado de conservação e um QR Code (Quick Response Code) que direciona para um site, com mais informações.

A escolha por aves aquáticas teve por base sua relação com as lagoas e o seu sistema hídrico, possibilitando entendê-las como bioindicadores de qualidade das águas e do ecossistema da região. “A ideia foi realizar um monitoramento da saúde das lagoas cársticas utilizando as aves como indicador de qualidade, tendo ainda estudantes de escolas próximas a estas lagoas como agentes de monitoramento. Em resumo, o projeto visou alcançar resultados quantitativos e qualitativos envolvendo a participação de uma influente parcela da população residente próxima destas lagoas: os estudantes”, destacou Daniel Duarte, coordenador do Subcomitê Carste à época da criação do projeto.

As lagoas contempladas no Rede Asas do Carste são a Lagoa do Fluminense (Matozinhos), a Lagoa do Cercado (Prudente de Morais), a Lagoa Central (Lagoa Santa), a Lagoa de Fora (Funilândia), a Lagoa Vargem Bonita (Confins), a Lagoa Santo Antônio e a Lagoa do Sumidouro (Pedro Leopoldo). Algumas dessas são temporárias, com ciclos irregulares de cheias e secas, como a Lagoa do Sumidouro e a Vargem Bonita, e outras são perenes, como a Lagoa Central e a Lagoa Santo Antônio.

O hoje coordenador do Subcomitê Carste, Gefferson Silva, enalteceu a importância do processo de construção – ida a campo, observação, procura pelas aves e fotografias – enquanto estratégia de educação ambiental junto aos alunos. “O campo foi de suma importância pois foi o laboratório, ofereceu os estímulos pedagógicos e educacionais e permitiu a identificação e pertencimento dos estudantes para com o seu entorno. Em paralelo a tudo isso, a gente trabalhava os outros conteúdos: a questão hídrica da região, o estado da lagoa (se estava seca ou cheia, se estava enchendo ou esvaziando), a poluição e degradação daquele ambiente, os resíduos, os conflitos, a vegetação do entorno e qual a relação desses impactos todos com o dia a dia dos alunos”, disse.

E a ideia de transformar todo esse acervo de quase quatro anos de trabalho em um álbum de figurinhas partiu de Derza Nogueira, mobilizadora social do CBH Rio das Velhas, e sua então estagiária, a bióloga Thais Drumond. “Voltando da última visita de campo com os alunos, pensamos em como dar um retorno sobre esse trabalho de campo e fotos tão lindas. Vamos apenas voltar ao Comitê e arquivar todo esse material? Foi aí que resgatei uma proposta da minha época de escola e pensamos em fazer um álbum. A ideia seria então voltar com isso para a escola e os alunos terem acesso novamente às fotos que tiraram. Apresentamos a ideia ao Subcomitê e todo mundo aprovou”, contou Nogueira.

Derza Nogueira e Thais Drumond com o álbum de figurinhas do projeto Rede Asas do Carste. Crédito: Amanda Eduarda

O álbum também apresenta propostas e sugestões de atividades de educação ambiental para os professores utilizarem em sala. “O projeto não interfere no curso normal da escola. Ele é transdisciplinar, utiliza o banco curricular comum e as matérias que estão sendo estudadas, buscando uma integração a esse conteúdo”, lembrou Procópio de Castro.

Para melhor aplicabilidade do álbum nas escolas, será realizado ainda um seminário, no início do ano que vem, para apresentar a ferramenta aos representantes das escolas, a forma de distribuição e o suporte que irá oferecer às instituições de ensino.

O Rede Asas do Carste envolveu ainda um processo intenso de mobilização e parcerias, agregando a participação das prefeituras, por meio de suas secretarias de Educação e Meio Ambiente, empresas, sociedade civil, além das escolas – a partir de seus professores, alunos e familiares.

Da esq. p/ dir.: Procópio de Castro, Gefferson Silva e Daniel Duarte. Crédito: Ohana Padilha

O território

A Unidade Territorial Estratégica (UTE) Carste localiza-se no Médio Rio das Velhas. Composta pelos municípios de Confins, Funilândia, Lagoa Santa, Matozinhos, Pedro Leopoldo e Prudente de Morais, ocupa uma área de 627,02 km² e detém uma população de 91.990 habitantes.

Carste é um tipo de relevo formado pelo efeito corrosivo da água sobre rochas como o calcário. Uma área muito frágil, caracterizada pela presença de grutas e águas subterrâneas. Os principais rios da Unidade são os córregos do Jaque e Bebedouro, Córrego Samambaia e Córrego da Jaguara.

Já a UTE Ribeirão da Mata, também localizada no Médio Alto Rio das Velhas, além de Confins, Lagoa Santa, Matozinhos e Pedro Leopoldo, inclui os municípios de Capim Branco, Esmeraldas, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, São José da Lapa e Vespasiano. A UTE ocupa uma área de 786,84 km², detém uma população de 500.743 habitantes, e tem como rio principal o Ribeirão da Mata, com 80,44 km de comprimento.

Lagoas cársticas, município de Pedro Leopoldo. Crédito: Bianca Aun 


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