A Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Onça, que ocupa parte da cidade de Contagem e da região norte de Belo Horizonte, é considerada a que mais polui o Rio das Velhas. Sua bacia abriga mais de 1.000.000 de pessoas e em parte dos 36,8 km de extensão do Ribeirão, tem suas margens ocupadas irregularmente, provocando a degradação ambiental ao longo do curso d’água.
Texto: Michelle Parron
Fotos: Michelle Parron e Bianca Aun
Para reverter o problema ambiental, de saúde pública e os riscos decorrentes da ocupação informal das áreas inundáveis, a construção do Parque do Onça foi demandada, pela comunidade local e pelos movimentos organizados, à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Previsto para ser realizado ao longo de 2016 no percurso do Ribeirão do Onça, o Parque poderá ser um dos maiores de Belo Horizonte, com extensão aproximada de 5,5 km, passando por trechos dos bairros São Gabriel, Vila São Gabriel, Ouro Minas, Vila Fazendinha, Novo Aarão Reis, Belmonte, Ribeiro de Abreu, Conjunto CBTU (Novo Tupi), Conjunto Ribeiro de Abreu, Casas Populares (Ribeiro de Abreu) e Monte Azul.
Segundo Henrique Gazzola, arquiteto e urbanista da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano de Belo Horizonte – SMAPU, o parque cumprirá a função de melhoria ambiental e qualidade de vida da população, ao converter as áreas situadas às margens do Ribeirão do Onça em espaços públicos voltados ao lazer, prática de esportes e educação ambiental. Também irá proteger áreas críticas vulneráveis às inundações do Ribeirão e recuperar a mata ciliar com o plantio de árvores. “Essas áreas encontram-se hoje parcialmente ocupadas por moradias, o que coloca as famílias que ali habitam em permanente risco”, afirma.
Subcomitê Ribeirão do Onça tem papel fundamental na construção do ParqueElaborado de forma democrática para atender aos anseios da comunidade, o projeto é coordenado pela SMAPU (Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano) com apoio do COMUPRA (Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu) e do Movimento Deixem o Onça Beber Água Limpa. Para efetivar essa participação social, em outubro de 2014 foi realizado um ciclo de oficinas para a elaboração conjunta do projeto preliminar do parque. “Começamos a sistematizar o material e as propostas que foram construídas pelos participantes do ciclo de oficinas. Em breve a proposta síntese será reapresentada para a população para validação, mas o material usado como base para as oficinas ajuda a compreender as motivações do parque, sua dimensão e o contexto de concepção do projeto. Esse mesmo material foi o ponto de partida para o desenvolvimento do Projeto Executivo no âmbito do contrato da Licitação SCO-078/2013, supervisionado pela SUDECAP”, esclarece Henrique Gazzola.
Para quem sempre viveu às margens do rio, o projeto traz mais do que a recuperação ambiental: a esperança de uma vida melhor. É o caso do motorista Carlos Lin, que praticamente nasceu às margens do Onça e hoje mora com a família em uma casa ao lado do curso d’agua. “Tenho a expectativa de ver essa melhora há 34 anos. Um sonho que até então estava longe, hoje está bem mais real. E me alegra muito, pois terei a oportunidade de ver meus filhos viverem uma infância que não tive, com mais esporte, cultura, lazer e qualidade de vida”, afirma Lin.
E a imaginação vai longe quando Carlos pensa nas transformações que o parque irá trazer a paisagem local. “Eu imagino um lugar arborizado, com espaço cultural abrangente para as crianças, uma trave, pistas de skate e bicicleta, e um espaço de lazer para a terceira idade”, conta.
Hoje, pela falta de lugar, os filhos de Lin são obrigados a se divertirem na rua, onde ficam expostos ao perigo do trânsito e do lixo nas margens do rio. Um dos refúgios de alguns moradores, inclusive das crianças, é a pequena horta do senhor Joaquim, segurança que mora no local há seis anos e que cultiva mais de 10 árvores frutíferas no terreno da sua casa, além de legumes, verduras, temperos e criação de animais. Preocupado com o lixo que é jogado às margens do rio, o morador faz a sua parte para evitar a degradação do local. “O meu lixo procuro não acumular e evito jogar qualquer coisa na beira do rio. Se todos começarem a colaborar, quando o projeto chegar, estará bem adiantado. E todos vão ganhar com isso”, reforça Joaquim, sobre a importância da preservação.
Moradores das margens do Ribeirão do Onça: Carlos Lin, Seu Joaquim e comunidade em reuniãoAs melhorias da construção do parque prometem ir além do lazer e da despoluição das águas, pois proporcionará aumento da qualidade de vida das pessoas, promoção da saúde e elevação da autoestima dos moradores do local. Uma das grandes pontes de comunicação entre a sociedade e o governo municipal é o COMUPRA. O Conselho Comunitário fundado em 2001 participa ativamente dos fóruns de discussão e de todo processo de criação do Parque do Onça com a função de traduzir os anseios da comunidade para o poder público. Foi por causa do COMUPRA que Carlos Lin, Joaquim e diversos outros moradores ficaram sabendo e passaram a participar da elaboração do projeto da PMBH, pautando com suas ideias e reivindicações para o lugar.
Segundo Itamar de Paula, um dos membros do Conselho, o papel do COMUPRA é colocar toda a informação a serviço da comunidade. “A gente busca as informações do município e do estado, e multiplica. Os projetos são elaborados pela prefeitura e todos os interessados recebem as informações”, afirma Itamar.
Além desse trabalho de acompanhamento e participação na construção do Parque, o COMUPRA é responsável pela realização do evento “Deixem o Onça Beber Água Limpa”, um projeto que colabora na conscientização das pessoas sobre a importância da preservação, usando a forma lúdica através de eventos na comunidade. Na última edição o evento trabalhou o tema “E o nosso esgoto, pra onde vai?” com o envolvimento de 30 parceiros, inclusive a Copasa.
Conheça a sub-bacia do Ribeirão do Onça passando pela Lagoa da Pampulha, Parque Nossa Senhora da Piedade e bairro Ribeiro de Abreu
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“É um trabalho muito importante e significativo. A Bacia do Onça é considerada atualmente a que mais polui o Rio das Velhas. O “Deixem o Onça Beber Água Limpa” carrega em seu nome a sua missão. Para que o Ribeirão do Onça tenha suas águas saneadas é preciso discutir as condições dos cursos d’água que a compõem e que estão rio acima. E o COMUPRA promove esta discussão; ensina às entidades do CBH Rio das Velhas que a discussão é profunda, e que deve envolver todos os interessados de forma horizontal, desde as prefeituras, os cidadãos e as empresas. E que este debate deve se ater à transparência dos discursos e à conjunção de ideias, forças e estímulos, que neste momento estão voltados para o baixo Onça. Além disso, o Movimento possui parcerias importantes que querem uma cidade mais justa e melhor para se viver”, relata a coordenadora do Subcomitê da Bacia do Rio das Velhas – Ribeirão do Onça, Carla Wstane.
Para levar a discussão do Parque do Onça à toda Bacia do Rio das Velhas, o Subcomitê Ribeirão do Onça tem papel primordial ao priorizar em seus encaminhamentos todo o apoio à construção do Parque. “Acredito que para a construção de um Parque no baixo curso de uma bacia, deve-se necessariamente intervir em áreas à montante. É preciso então colocar na pauta as condições de existência deste parque que devem estar atreladas à qualidade e quantidade de suas águas”, completa Carla sobre a visão e o papel do CBH Rio das Velhas em todo esse processo.
O Parque do Onça está previsto para ser finalizado ainda em 2016 e custará R$ 16 milhões para a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
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