Entidades do Governo, como o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Semad) estiveram presentes na reunião ordinária do Subcomitê Águas do Gandarela nesta última quinta-feira (4), realizada por videoconferência. Diante dos recorrentes picos de turbidez no Rio das Velhas, os dados apresentados não apontam mais o córrego Fazenda Velha como único foco, mas são inconclusivos em determinar a origem dos sedimentos. A indefinição é motivo de insegurança entre os membros do Subcomitê.
Katiane Brito, Gerente de Monitoramento de Qualidade das Águas do IGAM, informou que, desde os vazamentos constatados na barragem Ecológica 1, da CSN, o instituto iniciou um Plano Emergencial de Monitoramento do Rio das Velhas. Entre os dias 10 e17/04, houve monitoramento diário da qualidade da água nos pontos de monitoramento tanto a montante quanto a jusante do local crítico da contaminação, bem como a instalação de um ponto na foz do Fazenda Velha e outro logo a jusante. Sua suspeita é de que estejam acontecendo “outras coisas no Rio das Velhas”, pois, esse monitoramento não encontrou metais tóxicos no córrego, mas sim a partir da confluência do rio Maracujá com o Velhas. “Os metais que foram encontrados no Rio das Velhas estavam a montante do Fazenda Velha até Honório Bicalho”, conta. De acordo com os dados apresentados por Katiane, a turbidez e os altos níveis de metais alcançaram um pico no dia 15/04, após chuvas.
Diante deste cenário com causas aparentemente mais difusas, a presença de dragas no rio das Velhas voltou a ser mencionada tanto por conselheiros, como pelos convidados do Estado. O Superintendente de Fiscalização da Semad, Gustavo Endrigo, disse se tratar “de um empreendimento com outorga e licenciamento ambiental, com condicionantes de automonitoramento”, informando que a Semad realizou um sobrevoo da região impactada, acompanhado de fiscalização terrestre, e não identificou “nenhum tipo de grande ente que seria fonte específica da turbidez”.
Turbidez no Córrego Fazenda Velha motivou visita técnica do Comitê, ocorrida no último mês
A FEAM apresentou também o acompanhamento que tem realizado junto à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), verificando as barragens de onde se suspeita terem vindo os sedimentos contaminantes dos rios. Segundo a fundação, a empresa adotou medidas corretivas para tratar a água proveniente da Barragem Ecológica 1, o que devolveu ao córrego Fazenda Velha uma coloração mais próxima da usual.
Todas essas informações, no entanto, não garantiram segurança para os membros do Subcomitê de que os problemas tenham sido resolvidos. Maria Teresa Corujo, a Teca, é uma delas. “Me preocupa a possibilidade de descargas clandestinas de rejeitos que se aproveitam dos eventos de chuva para despejar efluentes nos rios”. Ela chama à atenção também que a CSN continue descaracterizando barragens neste momento. “Essa descaracterização envolve retirada e aproveitamento do rejeito? Para onde esse material é levado? Há movimentação do rejeito nessas estruturas? Haveria a possibilidade de suspender a descaracterização até que se entenda o que está acontecendo?”, questiona.
Zélia Moreira, Secretária de Meio Ambiente do município de Rio Acima, compartilha as preocupações da companheira de Subcomitê. Para ela, o despejo clandestino de rejeitos nos rios durante os períodos chuvosos é uma hipótese possível. Além disso, ela retomou a questão das dragas no Rio das Velhas, contestando a informação passada pela Semad: “A empresa Rio Preserv, que atua com as dragas, tem licença ambiental, mas está trabalhando fora da área licenciada. Já apresentei essa denúncia à Semad e ao Ministério Público, mas ainda não tivemos resposta”, argumenta. Zélia também conta que, no dia 29/03 esteve na região das barragens da CSN e afirma que “o vazamento é do fundo da barragem Ecológica”.
Diante disso, Maria Teresa reforçou a gravidade da situação, lembrando que é preciso resolvê-la logo, sob pena de causar uma tragédia para milhões de pessoas. “Qualquer possibilidade de a Copasa [Companhia de Saneamento de Minas Gerais] não conseguir captar água em Bela Fama [captação do Rio das Velhas em Nova Lima], vamos encarar uma situação em que Belo Horizonte e Região Metropolitana ficarão sem o recurso, uma vez que já não contam com a captação no rio Paraopeba. Não vai haver caminhão pipa para abastecer todas essas pessoas. Seria o colapso da capital de Minas Gerais”, alerta.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Leonardo Ramos
*Foto: Fernando Piancastelli e Michelle Parron