Na última semana, a vazão do Rio das Velhas no ponto de captação da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) – na ETA (Estação de Tratamento de Água) de Bela Fama, responsável pelo abastecimento de cerca de 60% da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) – registrou níveis críticos. Neste período, por duas vezes a vazão esteve abaixo dos 10m³/s.
Com registros nesta ordem, a vazão foi inferior, portanto, ao chamado Q7,10 – coeficiente adotado como referência para concessão das outorgas e também para definição da situação hídrica no Estado, considerando a vazão mínima de sete dias consecutivos com período de recorrência de 10 anos.
De acordo com a Deliberação Normativa n° 49 de 2015 do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, estar abaixo do Q7,10 significa entrar em estado de alerta, em que o risco de escassez hídrica, que antecede ao estado de restrição de uso, pode implicar em restrições de uso para captações de águas superficiais e no qual o usuário de recursos hídricos deverá tomar medidas de atenção e se atentar às eventuais alterações do respectivo estado de vazões.
Nos dias 15 e 17 de julho, a vazão do Rio das Velhas registrou 9,9m³/s, nível inferior ao chamado Q7,10. (Fonte: Copasa)
À jusante do ponto de captação, o cenário é ainda pior, já que a ETA Bela Fama consome 6,5 m³/s de água para abastecimento da RMBH, deixando o Rio das Velhas em estado verdadeiramente crítico, em trecho onde o lançamento de esgoto, especialmente dos municípios de Nova Lima e Sabará, apenas agrava ainda mais a situação.
De acordo com o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano, a situação merece atenção por parte de todos os atores da bacia. “Estamos apenas iniciando o período de estiagem e o cenário já é este. Se não quisermos vivenciar um colapso da situação hídrica e do abastecimento da RMBH num curto prazo, é preciso que todos os atores revejam os modos sobre como estamos utilizando a nossa água e também os locais que abastecem nossos mananciais”, disse.
Trecho de vazão reduzida entre Honório Bicalho e Sabará (acima), a ETA de Bela Fama (em baixo, à esquerda) e Rio das Velhas em Sabará (em baixo, à direita). Créditos: Bianca Aun, Leo Boi e Leandro Durães/TantoExpresso
Grupo Gestor de Vazão do Alto Rio das Velhas
O CBH Rio Velhas vem adotando uma série de medidas para enfrentar a crise e evitar a escassez. Recentemente criou o Grupo Gestor de Vazão do Alto Rio das Velhas (Convazão) para discutir com usuários – em especial Copasa, mineradoras, Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) e sociedade – como melhorar o aporte de água na bacia e a redução da demanda.
O grupo já definiu que utilizará o Sistema Integrado de Reservatórios do Alto Rio das Velhas –a partir do complexo de reservatórios Rio de Peixe, de propriedade da mineradora AngloGold Ashanti, e da PCH (Pequena Central Hidroelétrica) Rio de Pedras, sob a responsabilidade da Cemig – para aportar volumes maiores de água.
Também está sendo pactuada uma redução na captação de água pelas mineradoras para diminuir a demanda pelo uso da água.
Cabe destacar também a importância da participação da população, fazendo um consumo mais racional da água e evitando desperdícios e usos abusivos, bem como da Copasa em trabalhar na redução de perda de água.
Velho Chico também sofre
Também nesta semana, o Rio São Francisco, onde o Rio das Velhas deságua, registrou a sua menor vazão em 38 anos. Com isso, a Agência Nacional de Águas (ANA) autorizou um novo corte na sua vazão, com o objetivo de evitar que os reservatórios ao longo do Rio São Francisco cheguem ao volume morto até o fim de 2017. Se a vazão continuar sendo reduzida, poderá acontecer o que os especialistas chamam de efeito cascata: geração de energia comprometida, barcos de médio porte não poderão navegar e até a irrigação poderá ser suspensa, comprometendo toda a economia ribeirinha.
Mais informações:
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
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