Com o objetivo de discutir os impactos ecológicos, sociais e econômicos e de levantar possibilidades para a recuperação ambiental. O Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Projeto Manuelzão e público em geral realizaram no dia 19 de março um trabalho de campo em região que foi atingida pela barragem de rejeitos de Fundão.
No trabalho de campo foram visitados três pontos principais: o rio do Carmo à montante do encontro com o Rio Gualaxo do Norte; Barra Longa, localidade que sofreu diretamente os impactos do rompimento da barragem e Gualaxo do Norte à montante do encontro com o Rio do Carmo.
A atividade teve a proposta fundamental de agregar conhecimentos e de formar opiniões críticas acerca da tragédia que aconteceu na região, como afirma o geógrafo, Rodrigo Silva Lemos, “A visita teve uma intenção formativa. E a lógica foi a de conhecer um contexto de degradação (Bacia do Rio Doce) com o rompimento da barragem de Fundão e a partir disso, compreender e discutir a complexidade do contexto nas questões ambientais e sociais da localidade”.
No encontro foram discutidas questões sobre as mudanças na morfologia e na dinâmica dos curso d´água; sobre os impactos ambientais e socioeconômicos; sobre possíveis ações de recuperação e sobre a atuação dos Comitês de Bacia, do Estado, das iniciativas privadas e dos movimentos sociais.
O grupo também analisou se as atitudes que estão sendo tomadas para a recuperação da área degradada são realmente eficazes. As atitudes tomadas foram o plantio de braquiárias e a tentativa de retirada de sedimentos no leito dos percursos d’água. Na cidade de Barra Longa percebeu-se atividades de limpeza e reparos, limpeza das ruas e dos lugares públicos da cidade, além da pintura da ponte da cidade e dos imóveis que foram invadidos pela lama.
Da esq. p/ dir.: Placa encontrada sobre o plantio realizado na região e tentativa de retirada de sedimentos no leito do percurso do Rio do Carmo.
A partir de dados técnicos gerados pela equipe do Projeto Manuelzão, o qual realizou uma visita técnica em dezembro de 2015, foi encontrado nas águas alterações na turbidez e a presença de metais pesados. Além de alterações morfológicas no sistema fluvial referentes aos impactos gerados pela retirada de vegetação, pela erosão nas margens dos cursos d’água, pelas alterações no traçado fluvial e ainda pela deposição de materiais sedimentares no leito.
Lucas Grossi do Projeto Manuelzão, que esteve presente na visita anterior fala que, comparando a visita de dezembro de 2015 e a de março 2016, percebe-se que não houve grandes mudanças no cenário e que o sistema é ainda bastante instável.
Os dados técnicos também apontam que os impactos sociais são muito complexos e que passam por diferentes linhas de discussão, como: destruição de estruturas públicas e privadas; alteração de modo de vida de comunidades tradicionais e perda de patrimônio imaterial; perda da capacidade produtiva de pequeno agricultor; saúde de comunidades ribeirinhas e atingidos (doenças respiratórias nos períodos secos, saúde mental, doenças de veiculação hídrica); proliferação de vetores (ratos, insetos); restrição de usos possíveis para as águas; impossibilidade/diminuição da oferta de pescado; limitação dos usos da água, inclusive para dessendentação animal.
Nesse contexto, o geógrafo Rafael Silva, também analisa os impactos que ainda poderão acontecer “observamos não somente o impacto imediato, mas também o que poderá desencadear daqui para frente nas questões socioeconômicas”. E ainda completa, “é um processo passivo ambiental imensurável e incalculável, e acredito que nenhum recurso financeiro será capaz de repor a modelagem ecológica natural”.
No cenário de impacto social, Jeam Alcântara da equipe de mobilização do CBH Rio das Velhas ressalta a importância da discussão sobre como a atividade impacta a população que vive nos moldes da atividade mineraria. Para ele, a atividade molda o modelo econômico e social da população.
Da esq. p/ dir.:Ponte que está sendo pintada na cidade de Barra Longa e limpeza das ruas.
Barra Longa
Nos primórdios da ocupação das terras de Minas Gerais, vários colonizadores chegaram à região formando pequenos núcleos de povoação. Assim, um colonizador, dono de muitos escravos e armas fundou entre 1701 e 1704, um pequeno arraial, onde construiu-se uma capela e em torno dessa desenvolveu-se um povoado.
A partir da fertilidade das terras desenvolveu-se a agricultura e a exploração do ouro, abundantes nos rios da região, fator que foi determinante na fixação dos primeiros habitantes e no desenvolvimento do povoado, atual cidade de Barra Longa.
De acordo com o contexto histórico que se insere o município de Barra Longa, percebe-se que o mesmo sempre foi marcado pelas questões minerarias. E atualmente, o mesmo sofre com os impactos gerados pela mineração.
A cidade sofre com a destruição de moradias, de propriedades rurais, pelas perdas de vidas humanas e pela perda da qualidade de suas águas.
Da esq. p/ dir.: Às margens do Rio do Carmo depois do encontro com o Rio Gualaxo do Norte e praça da cidade de Barra Longa, a qual passou por processo de limpeza e pintura.
Rio Gualaxo do Norte
As águas do rio Gualaxo do Norte deságuam no rio do Carmo, cuja confluência se dá no município de Barra Longa.
Com o rompimento da barragem de Fundão, o Gualaxo do Norte recebeu grande parte dos danos e de retirada de vegetação, além de expressivas áreas nas quais a deposição de sedimentos, dentro e fora da planície de inundação, representam uma complexidade ambiental muito elevada. A calha do rio Gualaxo do Norte foi destruída quase em sua totalidade, representando 72,9 Km. Além disso, cerca de 213 afluentes foram impactados, onde a soma de seu comprimento é aproximadamente 126,87 Km.
Diversas áreas marginais ao curso d’água, bem como no próprio curso d’água do Gualaxo tiveram um acúmulo de materiais que comprometem a qualidade da água de forma substancial, além de modificarem de forma intensa a dinâmica fluvial do curso d’água. A deposição de sedimentos mais grosseiros no leito fluvial tem impactos extremos na diversidade e manutenção do ecossistema fluvial ao longo de todo o curso d’água.
Rio Gualaxo do Norte antes do encontro com o Rio do Carmo.
Rio do Carmo
O Rio do Carmo tem uma bacia de drenagem de aproximadamente 2279,2 km². É importante frisar que a bacia do Rio do Carmo não foi atingida integralmente, mas somente no trecho do rio que vai do foz do Rio Gualaxo do Norte até o encontro do rio do Carmo com o Rio Piranga, quando então se forma o Rio Doce, distando aproximados 44 Km do rompimento.
Nesse rio houve uma destruição de aproximadamente 55,60 Km, atingindo 47 afluentes, cujo comprimento somado totaliza cerca de 34,38 Km.
Apesar de ser um curso d’água com uma expressiva área de drenagem e ainda com um volume contínuo expressivo de água, a quantidade de materiais depositados na calha fluvial do Ribeirão do Carmo, no trecho considerado, foi significativo, impactando a fauna bentônica, a possibilidade de vida e reprodução das espécies aquáticas.
A quantidade de sedimentos depositados à jusante representam um potencial impacto extremo ao curso d’água, uma vez que, esse material poderá ser mobilizado pela própria dinâmica fluvial do curso d’água ou ainda em erosões e escoamentos superficiais nos períodos de chuva, o que mostra a enorme instabilidade sistêmica na região.
Rio do Carmo antes do encontro com o Gualaxo do Norte.
Veja as fotos da visita
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Histórico
O rompimento da barragem de Fundão da mineradora Samarco, no dia 5 de novembro, na unidade industrial de Germano, entre os distritos de Mariana e Ouro Preto (MG), provocou uma onda de lama.
O distrito de Bento Rodrigues foi destruído e centenas de pessoas ficaram desabrigadas. A lama alcançou outros distritos de Mariana, como Águas Claras, Ponte do Gama, Paracatu e Pedras, além da cidade de Barra Longa. Até o dia 25 de novembro, 11 mortos haviam sido identificados e 12 pessoas ainda estavam desaparecidas, entre elas nove empregados terceirizados da Samarco e três moradores de Mariana. Os rejeitos foram levados pelo Rio Doce, afetando ainda dezenas de cidades na Região Leste de Minas Gerais até o Espírito Santo, com a falta de água potável. E no dia 22 de novembro, a lama chegou ao mar, no município capixaba de Linhares.
Acordo de recuperação da Bacia Rio Doce
Representantes dos poderes públicos federal, dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo e mineradora Samarco assinaram um acordo no dia 2 de março de 2016. O objetivo foi o de criar um fundo de R$ 20 bilhões para recuperar a Bacia do Rio Doce em 15 anos. A previsão é que, só entre 2016 e 2018, a mineradora aplique no fundo R$ 4,4 bilhões. O fundo também será gerenciado pelo poder público e pela Samarco.
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