Revista Velhas nº 19: Águas banhadas em ouro

25/07/2024 - 10:00

Quem é Isaquias Queiroz e como ele encontrou em Lagoa Santa o caminho do ouro


A 35km de Belo Horizonte, uma pequena cidade situada em terreno cárstico, com grutas e sítios arqueológicos, possui uma lagoa com águas batizadas como santas. Lagoa Santa é um local conhecido mundialmente como patrimônio arqueológico e paleontológico, com registros de ocupação humana que datam de cerca de 12 mil anos. Há dez anos, no entanto, ela retornou aos holofotes mundiais por ter sido berço de conquistas diferentes de ouro, desta vez por um baiano que se utilizou de suas águas santas para alcançar o ponto mais alto da maior competição esportiva internacional.

O ouro de Lagoa Santa

30 anos, multimedalhista olímpico, baiano. Isaquias Queiroz parte, este ano, para sua terceira participação nos Jogos Olímpicos em busca de mais uma medalha de ouro na modalidade Canoagem. Desde que iniciou seu treinamento em Lagoa Santa, em 2014, Isaquias conquistou quatro medalhas olímpicas: uma de bronze, duas de prata e uma de ouro – as três primeiras no Rio de Janeiro (2016), o que fez dele o maior medalhista brasileiro em uma única edição dos Jogos Olímpicos e o terceiro maior medalhista olímpico do Brasil, com quatro medalhas, ao lado de Serginho do vôlei e Gustavo Borges da natação, atrás apenas de Torben Grael e Robert Scheidt, que possuem cinco medalhas, ambos da Vela. O primeiro ouro viria em Tóquio (2020), na sua segunda participação em olimpíadas. Em 2023, ele retornou à Bahia para cumprir sua programação de treinamento.

Todo esse sucesso em competições mundiais não retirou de Isaquias sua simplicidade. Costuma dizer que não gosta de ser tratado como “celebridade”; prefere a companhia dos amigos e parentes do interior da Bahia do que a badalação de grandes metrópoles como Rio e São Paulo. Embora esteja defendendo o ouro da categoria C1 1000, agora em Paris, recusa a posição de favorito. “Eu vou para Paris para brigar por medalha porque é bom demais”, brinca. Ainda assim, conta que seu próximo objetivo é ser o maior medalhista olímpico do Brasil, para o que faltam apenas duas medalhas.

Baiano Isaquias Queiroz iniciou seu treinamento em Lagoa Santa em 2014.

Forjado no fogo

Nascido em Ubaitaba, cidade de cerca de 20 mil habitantes às margens do Rio de Contas, Isaquias teve uma infância difícil, marcada por diversos incidentes. Seu pai faleceu quando tinha dois anos; aos três, quase morreu num acidente doméstico em que teve a maior parte do corpo queimado por água fervente; aos 10, perdeu um rim após cair sobre uma pedra às margens do Rio de Contas. Mas foi no remo e na canoa que Isaquias encontrou sua motivação para superar todas as adversidades. Ali, naquele rio, ele iniciou uma caminhada que o levaria à consagração máxima no esporte: a medalha de ouro.

No caminho, venceu diversas competições de canoagem pelo mundo, como seis mundiais de canoagem, dois Pan-Americanos e um Campeonato Mundial Júnior, com apenas 17 anos. Para conquistar o ouro olímpico, no entanto, Isaquias partiu da Bahia para encontrar o lugar ideal para sua rotina de treinamentos. Após morar em São Paulo e no Rio de Janeiro, ele desembarcou na capital mineira em busca de uma cidade em que pudesse se dedicar à Canoagem com menos obstáculos, como trânsito. “A gente morou em São Paulo, morou no Rio de Janeiro, e eram cidades muito grandes, muito movimentadas no trânsito, a gente perdia muito tempo na rua no trajeto entre o treinamento e nossa casa. Então Jesus [Jesus Morlán, treinador de Canoagem que levou Isaquias à primeira medalha olímpica, falecido em 2018] queria um local mais tranquilo, mais sossegado. Ele veio à Lagoa da Pampulha, mas estava muito poluída. E aí alguém contou a ele sobre Lagoa Santa. Disse que era um local perto do aeroporto. Então viemos treinar aqui – até então não tinha nenhuma prática de esporte”, conta.

Além do ouro conquistado em Tóquio (2020), Isaquias tem outras três medalhas olímpicas.

Campeão das águas

Isaquias foi recebido de braços abertos pelos moradores da cidade. As águas da bacia do Rio das Velhas foram testemunhas, por quase dez anos, do trabalho duro e disciplinado do futuro campeão olímpico, e suas marcas viajaram até Tóquio para presenciar a vitória do simpático baiano. “A cidade abraçou a gente, acolheu. A gente ficou muito feliz por isso, pelo cidadão sempre ter torcido por mim, sou muito feliz de ter treinado aqui. Aqui foi onde eu ganhei minha medalha [dos Jogos Olímpicos] do Rio de Janeiro, de Tóquio também, e é um prazer poder estar aqui”, celebra.

Como campeão das águas, Isaquias sabe a importância de se proteger e preservar lugares como o Rio de Contas e a bacia do Rio das Velhas. “Sabemos da importância de preservação dessas águas, das bacias. O Rio de Contas tem sido maltratado nos últimos anos, as constantes enchentes acabam danificando mais ainda as margens do rio. Ter uma lagoa limpa como esta é muito importante para o lazer do cidadão, poder caminhar na orla da lagoa sem mau cheiro, sem lixo… e Lagoa Santa sempre teve isso. Aqui a gente está em casa”, finaliza.

Graças ao baiano Isaquias, as águas da bacia do Rio das Velhas hoje são banhadas em ouro olímpico.

 

 


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Leonardo Ramos