Expedição na UTE Caeté-Sabará reúne moradores para conhecer território e projetos

26/02/2024 - 21:20

A primeira Expedição da bacia dos Ribeirões Caeté-Sabará aconteceu no último sábado (24) e foi um sucesso. Com as inscrições abertas ao público, a atividade conseguiu reunir um grupo diverso, com cerca de 25 pessoas. A ação foi uma parceria do Subcomitê Ribeirões Caeté-Sabará, ligado ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), com o Projeto Mãe Domingas (UEMG e Museu do Ouro de Sabará) e a empresa Probiomas. O objetivo foi, além de conhecer um pouco mais da bacia e dos projetos que nela atuam, oportunizar uma vivência entre moradores e interessados pela proteção das águas, fauna e flora.

 A expedição não poderia iniciar de outra forma, se não com as mais velhas, as lavadeiras, participantes do Projeto Mãe Domingas, que viram os cursos d’água da região limpos. Foi no distrito de Pompéu, em Sabará, que o grupo, composto por cerca de 25 pessoas, se reuniu. Primeiro em visita ao quintal de Dona Eni Antônia, que mostrou, com orgulho, a bacia que ainda guarda dos tempos que em lavava roupa no rio; e, em seguida, ao quintal de Rita Beatriz de Oliveira, onde todos puderam degustar deliciosos pastéis, recheados com ora-pro-nóbis, jabuticaba e queijo, banana e cebola caramelizada.

Os sabores não foram aleatórios, mas sim escolhidos a dedo: representam as riquezas da cidade de Sabará. “No município, temos três ouros: o verde, representado pela ora-pro-nóbis, que é tradição em Pompéu; o amarelo, que é a banana, tradicional em Ravena; e o negro, que é a jabuticaba”, explicou a geógrafa e analista ambiental da Probiomas, Joyce Almeida. Foi também por esse motivo que escolheram mudas – doadas pela Probiomas – dessas três espécies para serem plantadas, em conjunto com as lavadeiras e seus familiares, próximo ao Ribeirão Sabará, que margeia a região. Além disso, Dona Rita também doou uma muda de ipê, que foi plantada na oportunidade.

 

Importância das águas

 Logo em seguida, o grupo foi rumo ao encontro do Ribeirão Gaia com o Córrego Patacas, onde puderam aprender mais sobre como a história da origem do município de Sabará se entrelaça às águas – e, também, às extrações minerais e garimpagem. “Onde nós estamos, existe uma represa que abasteceu a cidade até 1975, mas atualmente está desativada. Hoje, 70% das águas que abastecem Sabará vêm de Nova Lima. Mas, a parte rural é mantida ainda por esses córregos, do Ribeirão Gaia para cima, e sem Copasa [Companhia de Saneamento de Minas Gerais] – ou seja, sem saneamento básico. São cerca de 18 mil pessoas que vivem dessas águas naturais”, informou Fernando Madeira, diretor da Probiomas, conselheiro do Subcomitê e coordenador do projeto de recomposição florestal da UTE Ribeirão Caeté-Sabará.

A mudança do curso dos rios, que pode ser uma das consequências das atividades minerárias, a preocupação com as inundações – enfatizada pelo fato da última, em 2022, ter sido devastadora, e ter deixado questionamentos em aberto sobre a influência da extração do ferro e as inundações – o receio das barragens e em como elas ameaçam às águas e a inexistência de contrapartidas robustas das mineradoras para realizar suas atividades foram alguns temas importantes abordados por todos integrantes do grupo durante o bate-papo.

De intermitente a perene

 A quarta parada do dia foi no viveiro da Probiomas. O território da empresa foi comprado em 1994 pelo coordenador Fernando e sua família. O espaço, que está entre as minas Lamego e Cuiabá, da AngloGold Ashanti, era utilizado como descarte de rejeito. O solo estava degradado, não tinha árvores, fauna e o córrego São José, que passa nas imediações da empresa, era intermitente – ou seja, apenas em uma época do ano possuía água. “Toda a floresta que pode ser vista, agora, ao redor, e até mais ou menos 1 km de distância de onde estamos, foi o coordenador Fernando que plantou com sua família. Tudo feito gradativamente para recuperar o solo, mas, com isso, o córrego São José se tornou perene, sempre com água fluindo, e a fauna voltou”, revela Joyce.

O grupo pode conhecer melhor as estruturas físicas da Probiomas, como a sala, que pode ser considerada como um útero, onde ocorre a separação das sementes, o berçário de mudas, a casa de vegetação e a usina solar. “A empresa existe desde 2017 e oferecemos serviços de recomposição florestal e restauração de áreas degradadas. Temos produção própria de mudas e as utilizamos para essas atividades, como o plantio de hoje cedo, e doações. Antes, fazíamos 6 mil mudas por ano, hoje fazemos 60 mil. Trabalhamos com energias renováveis, principalmente energia solar, sistema de reuso de água, dentre outros serviços. Trazer esse grupo tão diverso para próximo da gente é uma satisfação, porque sentimos a importância dessa proximidade com a comunidade no dia a dia do nosso trabalho. Percebemos que quanto mais próximo do morador estamos, menos fazem degradação, porque eles nos perguntam antes de realizar qualquer ação no terreno, numa espécie de consulta técnica, sem contar os cursos de capacitação, como sobre poda, irrigação, dentre outros, tudo isso de forma gratuita”, conta a administradora da Probiomas, Edna Araújo.

Sabor à tona

 Em diversos momentos do passeio o sabor veio à tona. O suco oferecido na hora do almoço, por exemplo, foi de jabuticaba, mas mais parecia um vinho. “Estamos com um produtor, que está desenvolvendo conosco bebidas de jabuticaba. Além dos sucos, temos os vinhos – suave, semisseco e o seco. Ainda não são produtos que estão no mercado, mas logo chegarão. De sobremesa, oferecemos rocambole de jabuticaba e sorvete de banana, orgânico, sem lactose. A ideia é trazer produtos cada vez mais naturais e aproveitando as riquezas de Sabará”, detalha o coordenador Fernando.

Com o tempo, surgiu a necessidade da profissionalização da jabuticaba. Dessa forma, em parceria com a Prefeitura de Sabará, catalogaram as produtoras de derivados, bem como os produtores. Após esse processo, ofereceram cursos de capacitação para as duas áreas, de forma gratuita, como, por exemplo, de rotulação de produtos e de técnicas de plantio, o que enriqueceu e incentivou os dois grupos de atuação.

Assim também nasceu a agroindústria, nas dependências da Probiomas, que pôde ser visitado durante a expedição, onde fazem desde a limpeza dos frutos até algum produto derivado, como, por exemplo, o sorvete de banana, além de fornecerem também a polpa, casca e semente, de forma separada, para produtores de derivados que utilizam algum desses itens.

Gostinho de infância

 Para a engenheira de alimentos e técnica em agropecuária, Ariane Soares, que participou da expedição, o passeio ainda teve um sabor mais especial. “É muito sensacional ver que dentro da minha cidade tem uma estrutura tão bonita socioambiental. Fiquei maravilhada. O trabalho é lindo e resgata, inclusive, uma cultura familiar, porque a minha avó era lavadeira, e na minha casa e das minhas tias, todas têm jabuticaba. Então, fazer alimentos derivados é um hábito na família, e ver tudo isso nessa expedição deixa até um gostinho de infância na boca”, conta.

Para a educadora do Museu do Ouro, Isabella Carvalho, a expectativa foi cumprida. “O objetivo do projeto Mãe Domingas foi de ouvir a memória das mulheres lavadeiras, mais velhas, que tiveram uma infância quando o rio era limpo, para sensibilizar outras gerações que nunca o conheceram limpo. Então, poder iniciar a expedição no quintal delas, mostrar o modo de vida tradicional delas, a preservação que fazem dentro das suas próprias casas, e fazer esse diálogo entre o saber delas e o saber dos especialistas, foi muito bom e acredito que muito rico para os dois lados”.

 

Projeto Mãe Domingas

 Tanto Dona Eni, quanto Dona Rita, que abriu suas casas para iniciar as atividades da expedição, dentre outras lavadeiras, participaram do Projeto Mãe Domingas, que foi desenvolvido pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), em parceria com o Museu do Ouro/Ibram e com a colaboração da professora Barbara Bader, da Université Laval Québec/Canadá. Trata-se de um projeto de pesquisa – que também realiza ações extensionistas educativas em prol do engajamento ecocidadão dos moradores da cidade de Sabará – em torno da defesa e proteção das águas do rio que dá nome à cidade.

 

 


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Mariana Lacerda
Fotos: Robson Oliveira