
Durante a programação do 2º Fórum Brasil das Águas, realizado em João Pessoa (PB), a Meta 2034 foi apresentada pelo médico e ambientalista Apolo Heringer, idealizador do Projeto Manuelzão e ex-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas). A exposição ocorreu durante a 4ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), realizada na última terça-feira (6).
A Meta 2034 reúne um conjunto de ações prioritárias voltadas à recuperação ambiental do trecho mais comprometido da Bacia do Rio das Velhas – o chamado “epicentro da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)”, onde, segundo Heringer, “estão 85% da poluição, 85% da população e 85% do PIB [Produto Interno Bruto] de toda a bacia”.
O objetivo central da proposta é devolver condições de vida à calha principal do rio, possibilitando o retorno da fauna aquática, o uso recreativo das águas e a convivência harmônica da sociedade com os ecossistemas naturais.
“A Meta 2034 vem propondo a volta do peixe ao Rio das Velhas, nadar na RMBH, com as crianças. Fazer um trabalho paisagístico na região metropolitana chamada epicentro, para o lazer e para a pesca, para a confraternização, transformar a margem do rio todo em parques naturais, não deixar destruir, não deixar as pessoas invadirem”, destacou Heringer.
Articulação nacional para salvar o rio e gerar desenvolvimento regional
A Meta 2034 surge como uma proposta abrangente de recuperação ambiental e promoção do desenvolvimento sustentável na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, que abrange 51 municípios mineiros e mais de 5 milhões de habitantes.
A proposta parte de um histórico de mobilização e conhecimento acumulado desde 1997, quando o Projeto Manuelzão foi criado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o objetivo de despoluir o Rio das Velhas e garantir a volta de peixes como: surubim, dourado, matrinchã e traíra, antes abundantes na região.
A Meta 2034 busca consolidar uma ação interinstitucional e transdisciplinar, articulando esforços entre governo federal, estados, municípios, instituições científicas e sociedade civil. A estratégia está organizada em quatro eixos principais:
Segurança alimentar e geração de renda
A proposta foca no combate à fome e no fortalecimento da pesca como atividade econômica e cultural, promovendo a volta das espécies nativas e o uso sustentável dos recursos do rio.
Apolo destaca que o saneamento é condição indispensável para o retorno da vida aquática, da saúde humana e do bem-estar animal. A iniciativa está alinhada ao novo Marco Regulatório do Saneamento e pode contar com recursos já disponíveis via Banco Nacional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Um dos pilares da proposta é o engajamento das comunidades locais na gestão ambiental e na valorização da agricultura familiar, por meio de ações educativas e participativas.
O plano técnico da Meta 2034 já está elaborado. O próximo passo é a construção do projeto executivo, que será desenvolvido de forma coletiva, segundo Apolo, com a colaboração de diferentes áreas do conhecimento e setores do poder público.
Heringer destaca que a Meta 2034 tem potencial de ser replicada em outras bacias hidrográficas do país, por isso, busca a incorporação da proposta ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tornando-se uma política pública nacional para a recuperação dos rios brasileiros.
A proposta também remete à experiência anterior da Meta 2010, considerada bem-sucedida, por ter atingido cerca de 60% das metas estabelecidas. Com apoio federal e articulação política, Apolo acredita que os objetivos da Meta 2034 podem ser antecipados para 2030.
Apolo Heringer informou que enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro deste ano, apresentando oficialmente a proposta e solicitando uma reunião para tratar do tema diretamente com o chefe do Executivo federal.
Apresentação ocorreu durante a Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH)
Classe 2 até 2034, rumo à classe 1 no futuro
Apolo também defende uma mudança gradual no enquadramento do Rio das Velhas. “Nós queremos que o Rio das Velhas todo tenha classe 1, mas depois de 2034. Até 2034, já é um grande passo se a gente conseguir que a RMBH, na calha do Rio das Velhas, seja classe 2”, explicou.
Ele complementa que a recuperação do trecho metropolitano tem potencial para influenciar positivamente a qualidade da água nos trechos abaixo. “Se lá virar classe 2, 100, 150 quilômetros abaixo já vai ser classe 1, porque você vai tratar o esgoto também de Sete Lagoas e de Curvelo”, exemplificou.
Dimensão ética e social
A proposta da Meta 2034 não se limita aos aspectos técnicos e ambientais. Para Heringer, a iniciativa precisa carregar também um conteúdo ético e moral, que valorize a solidariedade com a fauna e com as populações mais vulneráveis. “Estamos matando o que nos sustenta”, afirmou o ambientalista, ao criticar o modelo de exploração dos rios no país. Ele defende que o poder público reveja suas práticas e políticas de gestão hídrica, priorizando ações sustentáveis e inclusivas.
O especialista reforça a crítica ao uso predominante dos rios para fins econômicos, citando o despejo de esgoto como um exemplo negativo desse modelo de exploração. “A bacia não é urbana e rural, é a bacia hidrográfica. A cidade não pode jogar esgoto no rio e impedir a água no meio rural. Visão de bacia é uma, a bacia tem que ter lei de meio ambiente. Lei que rege as coisas, ninguém obedece. Nós temos que denunciar que poluição tem a ver com corrupção. Poluição rima com corrupção. Poluição e corrupção estão intimamente ligadas”, reforçou Apolo Heringer.
Questionado sobre a viabilidade de atingir a Meta 2034, Apolo Heringer é enfático: “Tem que ser. O Rio já era assim antes. A área de APP é a Área de Proteção Permanente, a lei já garante. O problema é que eles não estão respeitando a lei, nem na zona rural, nem na cidade. A cidade tem que respeitar as bacias”.
Fórum Brasil das Águas
O 2º Fórum Brasil das Águas reuniu representantes do setor público, privado e da sociedade civil, para discutir temas relacionados à gestão da água no país. A programação incluiu painéis sobre segurança hídrica, mudanças climáticas e o papel dos comitês de bacia no cenário atual. Também foi realizado o XIII Encontro Estadual dos Comitês de Bacias Hidrográficas da Paraíba, além de reuniões de Conselhos de Recursos Hídricos, debates, apresentações e ações educativas.
O evento foi realizado entre os dias 05 e 09 de maio de 2025, no Centro de Convenções de João Pessoa (PB).
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juliana Brito
*Fotos: Euller Galdino