
Após cinco anos à frente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Poliana Valgas encerra sua gestão (2020–2025). Sua atuação marcou um período de avanços importantes na governança das águas e na participação social no colegiado.
Natural de Santana do Pirapama, no Médio-Baixo Rio das Velhas, Poliana Aparecida Valgas Carvalho é engenheira ambiental formada pelo Centro Universitário de Sete Lagoas, com especialização em Gestão de Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É secretária municipal de Meio Ambiente e Saneamento de Jequitibá.
No CBH Rio das Velhas, construiu uma trajetória de longa dedicação: já foi coordenadora-geral do Subcomitê Ribeirão Jequitibá e secretária-adjunta do Comitê, cargo que ocupou até 2020, quando se tornou a primeira mulher eleita para presidir o colegiado.
Na presidência, Poliana liderou ações importantes, como o desenvolvimento de programas estruturantes de recuperação ambiental ao longo da bacia – ao invés de projetos pulverizados; a revisão da metodologia da Cobrança pelo uso da água no território; parcerias com o CBH São Francisco que permitiram a implantação do Programa de Saneamento Rural e o início da revisão do Enquadramento dos corpos d’água; o primeiro Programa de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) e o primeiro Plano de Educação Ambiental (PEA) da bacia; a estruturação de novos Subcomitês onde ainda não se tinha a atuação desses colegiados, dentre outras.
Agora, após cinco anos à frente do Comitê, Poliana se despede da presidência e volta a ocupar o cargo de secretária-adjunta, permanecendo na Diretoria que agora terá Valter Vilela Cunha, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), na presidência (gestão 2025-2027).
Poucos dias antes de dar à luz ao primeiro filho, Poliana Valgas concedeu essa entrevista em que fez um balanço da sua gestão.
Foram cinco anos à frente do CBH Rio das Velhas. Como avalia este período?
Foram cinco anos de muito aprendizado, muito diálogo e construção coletiva. Estar à frente do Comitê significou uma responsabilidade enorme, mas sobretudo uma transformação muito grande. Conseguimos fortalecer o papel do CBH junto a outras instâncias, demonstrando o papel democrático e participativo do Comitê de bacia, sempre dando oportunidades e voz aos diferentes segmentos, com grande envolvimento da população e dos Subcomitês. Eu saio dessa experiência na certeza e na tranquilidade de ter cumprido um dever, de ter sido um elo para a construção de um trabalho em busca de mais águas e em melhor qualidade.
Quando assumiu o Comitê, qual maior desafio enfrentado e como lidou com isso?
Sem dúvidas acredito que tenha sido assumir a presidência em meio a uma pandemia. Eu assumi o Comitê em setembro de 2020, apenas alguns meses após o início do lockdown. Nesse contexto, manter o funcionamento do Comitê do Velhas, que tem Subcomitês extremamente atuantes no território, foi muito difícil. Diante disso, com o trabalho das nossas equipes de Comunicação e Mobilização, congregamos esforços, fizemos muitas atividades remotas, como webinários e lives. Tivemos que nos ajustar de forma muito célere para possibilitar a participação de todos os setores. Manter essa mobilização, em plena pandemia, foi o maior desafio. Assim como uma mudança de cultura envolvida no fato de ter sido a primeira mulher a assumir a presidência do Comitê.
Qual conquista da sua gestão na presidência do Comitê destacaria?
Felizmente, nossa gestão teve muitos avanços. Mas destaco como uma de nossas maiores conquistas o trabalho desenvolvido na atualização dos instrumentos da Política Nacional dos Recursos Hídricos ao longo dos últimos anos, como a atualização dos valores de Cobrança pelo uso da água. Mudanças feitas a partir de um processo amplo e profundamente discutido. Recentemente, também demos início à atualização do Enquadramento do uso de água ao longo da bacia. Acredito que a atualização desses instrumentos, bem como a implementação de grandes programas estruturantes de recuperação hidroambiental ao longo da bacia, em detrimento à lógica de projetos pulverizados e espalhados, foram os grandes avanços alcançados nessa gestão.
Veja mais fotos da trajetória de Poliana à frente do CBH Rio das Velhas:
Qual maior transformação na bacia do Rio das Velhas acredita que ocorreu durante sua gestão?
Uma das transformações mais significativas, a meu ver, foi no campo da mobilização social e do fortalecimento da participação nos territórios. Ao longo dos últimos anos, trabalhamos para fomentar uma sociedade mais consciente, mais atenta e engajada com os temas relacionados à água. Percebo que os atores locais, especialmente nos Subcomitês, cada vez mais compreendem melhor seu papel e sua responsabilidade dentro da gestão participativa dos recursos hídricos. Para além das obras e dos programas estruturantes que conseguimos implementar, acredito que a principal conquista foi justamente essa: cultivar e fortalecer um sentimento de pertencimento em relação à bacia. É algo que sempre defendi como essencial. Porque quando as pessoas se reconhecem como parte do território, elas passam a cuidar dele de forma mais ativa e comprometida.
Como pretende continuar trabalhando em prol do Comitê após deixar a presidência?
Meu compromisso com o Comitê e com a bacia do Velhas continua, independente do cargo em que ocupar. Pretendo continuar atuando em favor da gestão das águas em Minas, buscando ferramentas para garantirmos água em maior e melhor quantidade. Quero contribuir com as discussões, com as reflexões e com o trabalho, para avançarmos ainda mais nas pautas que tivermos a oportunidade de dar início e que agora, a partir dessa construção, poderão avançar na próxima gestão.
Qual acredita ser o maior desafio da próxima gestão?
Acredito que o grande desafio da próxima gestão será equilibrar, de forma concreta, a preservação ambiental com o crescimento econômico e populacional que o território vivencia. Esse equilíbrio exige um olhar mais integrado, onde todos os setores – poder público, iniciativa privada, sociedade civil, ONGs, instituições de ensino – caminhem juntos em direção a soluções sustentáveis. Já avançamos bastante nesse sentido, mas ainda é preciso fortalecer a articulação entre essas esferas. O Comitê tem um papel estratégico nesse processo, atuando como um espaço de construção coletiva, onde diferentes interesses se encontram em prol de um objetivo comum: garantir água em quantidade e qualidade para as gerações presentes e futuras, sem comprometer o desenvolvimento do território.
Seu ciclo à frente do Comitê se encerra ao mesmo tempo em que você se prepara para iniciar um novo ciclo pessoal, com a chegada de um filho. De que forma essa coincidência de transições influencia sua forma de olhar para o futuro — tanto pessoal quanto profissional?
Essa coincidência me trouxe uma nova e mais profunda perspectiva sobre temas que sempre me moveram: o cuidado, o legado e o futuro. Assim como no Comitê, onde trabalhamos com foco nas próximas gerações, a maternidade tem ampliado ainda mais minha reflexão sobre o mundo que desejo construir e o tipo de ambiente que quero deixar para o meu filho. Essa vivência pessoal se entrelaça com minha trajetória profissional, reforçando a convicção de que cada uma das nossas ações, por menores que pareçam, tem o potencial de contribuir para um futuro mais justo, equilibrado e sustentável. Tanto para o meu filho, quanto para todas as crianças que ainda virão. Deixo a presidência poucos dias antes do nascimento do meu filho, e faço isso com serenidade e clareza do propósito que irei manter.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Henrique Ribeiro
*Fotos: Acervo TantoExpresso