Exposição ‘Estuários’, da artista belo-horizontina Isaura Pena, se baseia no traçado das bacias do Rio das Velhas e Velho Chico, além de árvores, raízes e outros elementos da natureza
“O desenho que o rio constrói, que a gente percebe em um sobrevoo ou na cartografia, é uma ornamentação que guarda semelhança muito grande com as raízes das árvores e até com o nosso sistema circulatório”. Como explica a própria artista plástica Isaura Pena, é o traçado da bacia hidrográfica, sua sinuosidade e a teia que conecta vários diferentes cursos d’água que inspirou os 35 desenhos em nanquim da exposição ‘Estuários’ – que pôde ser conferida pelo público entre novembro de 2019 e janeiro de 2020 na Celma Albuquerque Galeria de Arte, em Belo Horizonte.
A mostra, cujo título remete à formação geográfica originada do encontro entre rio e mar, trata tanto daquilo que se refere à ação do elemento água, quanto de seu uso como ferramenta poética.
“O enfoque maior tem a ver com a bacia hidrográfica do São Francisco e do Rio das Velhas. É uma exposição sobre água, rios, árvores e raízes. O próprio título, Estuários, remete ao lugar onde o rio se encontra com o mar, onde a água doce se mistura com a água salgada. É onde tudo deságua, tudo se transforma e uma vida se soma a outras”.
De volta ao Brasil após temporada em Portugal, Isaura permitiu-se revisitar e aprofundar questões há muito presentes em sua trajetória. Os trabalhos trazem também um pouco do olhar de fora sobre a sua terra natal, que nesse período viu dois importantes rios serem destroçados por tragédias ambientais. “Desde Mariana e novamente em Brumadinho, lidamos com muitas tomadas aéreas, aquele desenho sinuoso do rio. As imagens que chegavam eram sempre aéreas, do desenho sinuoso do rio. Todo aquele repertório de imagens foi ficando na minha cabeça e me perseguindo.
Às vezes, as imagens nos perseguem”.
A imersão em códigos de uma terra que não é a sua permitiu à artista uma nova interlocução com o que era familiar: desenho, representação, realidade, impressões. O que é referência – a árvore nativa do Brasil – passa a ser subversão. Raízes em destaque, expostas e vibrantes, no topo; a copa tangencia o chão.
Obras e referências que carregam a marca do gigantismo, físico ou simbólico, são reveladoras de sua consciência do mundo e das possibilidades de seu desenho que, generosamente, Isaura compartilha conosco.
Confira mais registros da exposição ‘Estuários’:
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiz Ribeiro / Celma Albuquerque Galeria de Arte
*Fotos: Bianca Aun