Conheça a UTE Ribeirões Caeté-Sabará e seu vasto patrimônio histórico, cultural e ambiental
A Serra da Piedade é testemunha de uma história que mistura guerra pela posse do ouro e domínio da região das minas, igrejas barrocas com peças atribuídas a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, distritos com farta tradição cultural, vasto potencial turístico-religioso e importantes áreas de preservação ambiental. Caeté e Sabará são os municípios que formam uma porção especial da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas: a Unidade Territorial Estratégica (UTE) Ribeirões Caeté-Sabará. Localizada no Alto Rio das Velhas, a região é de destaque na formação histórica do estado de Minas Gerais e guarda importantes áreas de conservação para a bacia.
Uma das cidades mais antigas de Minas Gerais, Sabará guarda riquezas do Ciclo do Ouro que podem ser visitadas por turistas que chegam à Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) à procura de atrativos históricos. Entre eles, estão a Capela da Nossa Senhora do Ó, representante do Barroco no estado com arquitetura de influência chinesa; a Casa da Ópera, mais conhecida por Teatrinho, segundo teatro mais antigo no Brasil em funcionamento, e o Museu do Ouro, antiga Casa de Intendência e Fundição, que cunhava e taxava o metal, principal moeda de troca do período setecentista.
O reconhecimento como município só veio em 1838. Hoje, abriga uma população de 129 mil pessoas e tem Índice de Desenvolvimento Humano de 0,731, considerado alto.
Sabará
A palavra Sabarabuçu vem do termo tupi itá’berab’uçú, “pedra grande brilhante”, que designava a Serra das Esmeraldas, o Eldorado: um local repleto de prata e pedras preciosas procurado por colonizadores que vieram para o interior do Brasil.
A bandeira organizada por Fernão Dias partiu de São Paulo em 1674 e tinha como finalidade alcançar Sabarabuçu. O bandeirante morreu em 1681, nas proximidades de Caeté, cidade vizinha, mas seu genro, Borba Gato, continuou seu trabalho e se tornou uma das figuras mais importantes da história de Sabará e da descoberta do ouro em Minas Gerais.
A região de Sabará havia sido identificada pelo bandeirante Matias de Albuquerque, que sondou o terreno e identificou que ele era favorável para implantar roças, além de ter água, e um ponto de travessia do Rio das Velhas para o sertão, que poderia ser feito a pé. Já em 1702, o arraial era um movimentado centro de comércio de gado, cavalos, escravos e mantimentos, além de ser o mais populoso de Minas Gerais. A prosperidade fez com que o povoado fosse elevado a Villa Real, absorvendo muitos arraiais vizinhos. A Comarca do Rio das Velhas foi instalada em 1714, com sede no local. A posição estratégica fez da Villa Real do Sabará o mais importante empório comercial de Minas Gerais no século XVIII e em mais da metade do século XIX. Além disso, era o maior centro de ourivesaria do Brasil. Até hoje, a cidade explora economicamente o ouro, além do ferro, que também foi central no desenvolvimento do município, com a chegada da Ferrovia Central.
Uma das cidades mais antigas de Minas Gerais, Sabará guarda riquezas do Ciclo do Ouro. Acima, estátua relembra passagem pela região do bandeirante Borba Gato, genro de Fernão Dias.
A gastronomia também merece destaque: Sabará é conhecida por realizar o Festival da Jabuticaba, no mês de novembro, com licores, geleias e vinhos, e, em maio, o Festival do Ora-pro-nobis, verdura típica da culinária local. Outro segmento que tem atraído visitantes é o ecoturismo, praticado no Arraial Velho e no bairro Pompéu, que são pequenos vilarejos às margens da Estrada Real.
Parte da história de Sabará está preservada. O Centro reúne chafarizes, igrejas do século XVIII e casarões do século XIX. A Rua Dom Pedro II, antiga Rua Direita, constitui conjunto arquitetônico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O local abriga o Solar do Padre Correia, um rico e influente padre que foi dono do edifício colonial que, atualmente, é a sede da prefeitura.
A Matriz de Nossa Senhora da Conceição, inaugurada em 1710, é uma das mais ricas do século XVIII, com características de três períodos da arte barroca. Outro monumento marcante da cidade é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, uma construção inacabada feita por escravos, que decidiram erguer seu próprio templo religioso. Tocada pela Irmandade dos Homens Pretos da Barra do Sabará, a obra foi abandonada com a abolição da escravatura. As ruínas, em paredes de pedra sem reboco, atualmente guardam o Museu de Arte Sacra, com imagens e crucifixos dos séculos XVIII e XIX.
Pontilhão da Ferrovia Central atravessa o Rio das Velhas, marcando a paisagem de Sabará.
Caeté
A cidade de Caeté também tem sua história de ocupação ligada a descoberta de jazidas de ouro em seus cursos d’água. A exploração minerária começou ao longo do Córrego Caeté, que teve suas margens escavadas para abertura de canais e desvios. A descoberta das primeiras minas na região aonde viria a se chamar Caeté é datada de 1701.
O significado do nome Caeté não é consenso, originário do tupi-guarani significa “mato virgem” ou “matos” ou “silva primitiva” – o naturalista e viajante Saint-Hilaire aponta que a tradução seria “montanha coberta por grossas árvores”. Sempre em busca de ouro, prata e metais preciosos, os bandeirantes e escravos peregrinavam pelas Minas Gerais do século XVII. É nesse cenário que surge a cidade de Caeté.
Em 26 de Janeiro de 1714, o governador Dom Braz Balthazar da Silveira decretou a criação da Vila Nova de Caeté, nome que anos mais tarde se resumiria a apenas Caeté. No contexto histórico, um dos períodos mais marcantes do município é o da Guerra dos Emboabas. Por volta de 1708, Caeté se tornou o berço do conflito. A origem do movimento, de caráter basicamente econômico, partiu de um incidente entre bandeirantes e moradores locais.
Em 1840, a cidade foi emancipada e se desmembrou do município de Sabará. O núcleo se desenvolveu próximo do vale do córrego Caeté, em traçado longitudinal e orgânico. Preservando ainda características urbanas e arquitetônicas da ocupação setecentista, resguarda também exemplares que retratam o declínio da mineração no século XIX e o crescimento industrial com grande expansão da cidade no século XX, acarretando a busca pela modernização do município.
Caeté também é reconhecida pelo turismo religioso. No pequeno centro histórico fica a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Bela, imponente e super bem conservada é considerada a primeira de Minas construída em alvenaria. Há ainda relatos do século XVIII que contam que a planta da matriz teria sido feita e doada por Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho.
Caeté é reconhecida pelo turismo religioso. Em destaque: o Santuário de Nossa Senhora da Piedade. Na foto acima a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Seja para reforçar a fé, para fazer um pedido, agradecer ou apenas para observar uma incrível vista da região, a subida até o Santuário de Nossa Senhora da Piedade vale a pena. As construções do santuário estão a 1.783 m de altitude e lá de cima é possível avistar cinco cidades: Belo Horizonte, Caeté, Lagoa Santa, Raposos e Sabará, além de poder conhecer atrativos como a Igreja Nova das Romarias, o Cruzeiro, o Observatório Astronômico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Ermida da Padroeira.
A Ermida da Padroeira abriga uma imagem de Nossa Senhora da Piedade, atribuída a Aleijadinho – importante escultor, entalhador e arquiteto da era do Brasil colonial. A santa é a padroeira do estado. A Ermida é o cartão-postal do santuário, construída em 1797 e desde essa data leva inúmeros peregrinos até lá. Além da nave central que abriga essa imagem, há duas capelas laterais, uma de cada lado, uma dedicada ao Sagrado Coração de Jesus e a outra é a capela do Santíssimo Sacramento. O Cruzeiro fica de frente para a igreja, no outro lado do grande pátio, e é uma escultura em ferro que representa Maria, São João e Cristo crucificado.
O Observatório Astronômico Frei Rosário, mantido pela UFMG, oferece aos visitantes equipamentos especiais para conhecer mais de perto a astronomia. Inaugurado em 1972, tem localização privilegiada para observação de corpos celestes no topo da Serra da Piedade.
Exemplo de luta
O município de Caeté, de fundamental destaque na história e na formação do estado de Minas Gerais, é morada de Ademir Bento. Formado em contabilidade, Sr. Ademir é natural de Caeté e reconhecido há anos pelos trabalhos voluntários na área social, cultural e ambiental, especialmente na associação do Bairro São Geraldo, Seresta da Lua Cheia, Carnacatu, Conselhos Municipais, ONGs e em movimentos socioambientais.
Apaixonado pelo meio ambiente e por sua preservação, foi ao longo de mais de duas décadas conselheiro do CBH Rio das Velhas e dos Subcomitês Caeté-Sabará, Rio Taquaraçu e Águas do Gandarela, como representante do Movimento Artístico Cultural e Ambiental de Caeté (Macaca). Exerceu, nesse período, papel fundamental na luta pela preservação da bacia hidrográfica e, em especial, pela Serra do Gandarela. “Minha paixão pela Serra do Gandarela começou há muitos anos. Meu mestre em assuntos ambientais foi o meu pai, um homem de pouquíssimo estudo, mas de um coração enorme. Foi ele quem me ensinou desde pequeno a importância da natureza e que devemos sempre preservá-la. Tenho seguido esse caminho e tentado mobilizar cada vez mais pessoas nessa luta”, afirma Sr. Ademir.
A Serra do Gandarela é um grande reservatório natural de águas, que serve às bacias dos Rios das Velhas, São Francisco, Piracicaba e Doce. É o mais importante manancial a abastecer o Rio das Velhas acima da captação de água da Copasa em Bela Fama, região que fornece mais de 60% da água consumida por Belo Horizonte e 50% da água que abastece a Região Metropolitana. As águas dessa Serra servem também aos municípios de Caeté, Barão de Cocais, Santa Bárbara e outros mais populosos, como João Monlevade e Ipatinga.
Para Ademir Bento, a intensa exploração dos recursos naturais gera diversas consequências, que, se não forem revertidas o mais breve possível, se tornarão permanentes para toda a população. “O consumo deve ser realizado de forma consciente, levando em conta a regeneração de cada um deles. Se não mudarmos agora a nossa postura, as gerações futuras é que sofrerão. Acredito que somente mudando de forma drástica a cabeça de nossos governantes e com muita educação ambiental é que conseguiremos mudar de forma positiva o mundo em que vivemos”, declarou.
Subcomitê Ribeirões Caeté-Sabará foi formado em 2006 como forma de promover a gestão compartilhada e participativa dos recursos hídricos.
Ocupação desordenada e a qualidade das águas
Caeté e Sabará se encontram na RMBH e apresentam um crescimento desordenado. Com isso, diversos problemas surgem em consequência dos vários anos de falta de planejamento, e o meio ambiente e a população periférica são os mais afetados. A qualidade das águas da UTE Ribeirões Caeté-Sabará encontra-se prejudicada pelo lançamento de esgotos e efluentes industriais na região. A mineração é uma das atividades econômicas que mais pressiona a sub-bacia, bem como o controle de focos erosivos.
Uma vez que nos deparamos com um crescimento populacional acelerado, com o que cresce também a ocupação do solo, é possível prever a problemática da qualidade de água, no que condiz ao desmatamento florestal, pois além dos impactos gerados pelo próprio ecossistema, essa ação adiciona também os impactos antrópicos. “Por outro lado, a ocupação desregulada das terras através de usos múltiplos indica a falta da aplicação da educação ambiental na região, como também a complexidade e dificuldade na elaboração de propostas para a gestão dos corpos hídricos, tanto em nível local como regional, conforme o CBH Rio das Velhas vem trabalhando”, afirma o coordenador do Subcomitê Ribeirão Caeté-Sabará, Jéferson Paes dos Santos.
Para ele, uma possível solução para os problemas ambientais da UTE está no investimento em saneamento básico, na educação ambiental e no melhor aproveitamento das áreas já urbanizadas que apresentam diversos imóveis e terrenos desocupados.
Coordenador do Subcomitê Ribeirões Caeté-Sabará, Jéferson Santos aponta o saneamento, a educação ambiental e um melhor uso e ocupação do solo como soluções para a UTE.
Criação da Unidade de Conservação Pedra Rachada
O conjunto paisagístico Pedra Rachada, em Sabará, pode virar unidade de conservação. A proposta foi feita pelo CBH Rio das Velhas, Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e prefeitura municipal. Em novembro de 2022, foi discutido entre as instituições qual seria o papel de cada uma com a unidade de conservação.
Uma unidade de conservação pode ser entendida como espaço com natureza e paisagem de grande importância para a sociedade, definido formalmente pelo governo como área de proteção. A Pedra Rachada permite atividades como caminhadas, ciclismo e jipe. Além disso, é considerada pelos esportistas um dos melhores locais da América Latina para a prática do Boulder, um tipo de escalada sem equipamentos de segurança.
No ano de 2021, o CBH Rio das Velhas contratou um estudo para a criação da UC na região da Pedra Rachada com proposições de ações para a conservação da área, incluindo a definição de um território para constituir uma UC e sua categoria de manejo.
A secretária de Meio Ambiente de Sabará, Andrea Saraiva, esclarece que a criação da UC dará um novo significado ao potencial que a região da Pedra Rachada já possui. “Será fomentado o turismo ecológico que vem sendo cada vez mais praticado na cidade. O projeto trará inúmeras melhorias e benefícios para o nosso município, como a proteção de área verdes, maior conscientização da população sobre a necessidade de preservação e conservação do local, bem como auxiliar a coibir e combater a especulação imobiliária e ocupação irregular no entorno da Pedra Rachada e adjacências”, explicou.
O MPMG dará apoio financeiro, jurídico e institucional para que o local se torne uma unidade de conservação. “O Ministério Público dispõe de recursos a serem investidos na região de Sabará proveniente do Termo de Compromisso assinado com a mineradora AngloGold Ashanti, em razão do carreamento de materiais, ocorrido no dia 12 de março de 2022”, de acordo com Rodrigo Marciano, da 2ª Promotoria de Justiça de Sabará.
Conjunto paisagístico Pedra Rachada, em Sabará: articulação busca proteção à área.
Recuperação Florestal
Um projeto de recuperação florestal será executado nas microbacias dos Ribeirões Caeté e Sabará. A ação foi viabilizada pela assinatura de um Termo de Compromisso firmado entre o CBH Rio das Velhas, o MPMG, o Probiomas Produtos e Serviços Ambientais e a Prefeitura de Sabará. O documento foi assinado em março deste ano e prevê o investimento de mais de R$ 3 milhões de recursos de compensação ambiental.
O projeto de recuperação florestal dos Ribeirões Caeté e Sabará vai realizar a recomposição florestal em várias sub-bacias contribuintes da UTE, através de plantios de mudas nativas, manutenção e combate a incêndios florestais nas áreas abordadas, monitoramento da qualidade das águas e construção de terraços, barraginhas e curvas de nível.
Para isso, serão realizados estudos, pesquisas, reuniões, mobilizações, planejamento e levantamento de dados e de campo para execução das atividades de diagnóstico socioambiental e de qualidade das águas dos principais afluentes e dos Ribeirões Caeté e Sabará. Também será ampliada a capacidade de produzir mudas de espécies florestais nativas e frutíferas do viveiro Probiomas e realizada a mobilização e capacitação dos produtores rurais e colaboradores para realizar a recomposição florestal da região.
Articulação prevê mais de R$ 3 milhões de recursos de compensação ambiental para recomposição florestal dos Ribeirões Caeté e Sabará. Viveiro do Probiomas produz mudas nativas para série de projetos de reflorestamento e produção de frutas.
Fernando Antônio Madeira, idealizador do Probiomas, explica que Caeté e Sabará convivem com a redução da disponibilidade de água e da cobertura florestal, próximo às nascentes e cursos d ́água, devido ao crescimento dos empreendimentos rurais (sítios, chácaras e condomínios) e minerais (ampliação das áreas exploradas e das áreas de despejo de resíduos minerais). Além dos incêndios florestais, contaminação do solo, da água e outros agravantes.
“As microbacias dos Ribeirões Caeté e Sabará são responsáveis pelo abastecimento de água de mais de 150 mil pessoas nos dois municípios, além de contribuir com seu excedente para a bacia do Rio das Velhas. Atualmente, as bacias dos Ribeirões Caeté e Sabará apresentam redução da disponibilidade de água e da cobertura florestal. O projeto é de grande importância ambiental, pois além de fazer a recomposição florestal de nascentes e áreas ciliares no entorno dos cursos d´água tem o objetivo de melhorar a quantidade e qualidade das águas da sub-bacia dos Ribeirões”, afirmou.
Importante destacar que todas essas iniciativas e articulações foram gestadas no âmbito do Subcomitê Ribeirões Caeté-Sabará. “A UTE Ribeirões Caeté-Sabará possui um Subcomitê instituído e bem articulado que há anos luta por melhorias em prol do meio ambiente e pela revitalização dos cursos d´água da região. Apesar de ser um grupo pequeno, já avançamos em muitos projetos e conquistas para os municípios de Caeté e Sabará”, concluiu Jéferson Paes dos Santos, coordenador do colegiado.
Encontro do Rio Sabará com o Rio das Velhas. Setembro/2023.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Luiza Baggio