Revista Velhas nº 19: Uma escola a céu aberto

02/07/2024 - 10:00

Bacia do Rio das Velhas é palco de múltiplas iniciativas de Educação Ambiental que visam a transformação rumo à sustentabilidade


Com câmeras ou celulares em mãos, alunos do Ensino Médio de três municípios do Baixo Velhas dirigiram o olhar, em 2023, para as belezas naturais, riquezas culturais e históricas do território onde vivem, mas também para o preço da intervenção humana e das atividades econômicas sobre a paisagem, o meio ambiente e os recursos hídricos.

O espaço registrado por meio da fotografia foi a sub-bacia do Rio Curimataí, região que compreende a famosa Serra do Cabral, berço de incontáveis nascentes, cachoeiras e veredas, além de fauna e flora exuberantes, com algumas espécies endêmicas.

Foi isso que propôs o projeto ‘Mergulho na paisagem da sub-bacia do Rio Curimataí’, realizado com 45 alunos das cidades de Augusto de Lima, Joaquim Felício e Buenópolis. A iniciativa partiu do Subcomitê Rio Curimataí, ligado ao CBH Rio das Velhas, e contou com a participação de vários parceiros locais.

Entre agosto e outubro, as 27 fotografias previamente selecionadas passaram a integrar uma exposição itinerante que percorreu os três municípios. Na exposição – e nas redes sociais do projeto – as fotografias receberam votos populares e a premiação das 12 mais bem ranqueadas, que vão integrar o calendário 2024 do Subcomitê e das instituições parceiras, aconteceu em novembro de 2023. Na ocasião, as três mais votadas receberam prêmios de destaque.

“Participar desse projeto foi simplesmente algo incrível, levarei para minha vida! Percebi que a fotografia vai muito além de uma simples foto, precisamos entender a história por trás das imagens, dos lugares retratados, perceber as formas de novos ângulos”, resumiu o aluno Pedro Henrique dos Santos, da Escola Estadual Nossa Senhora das Dores, de Joaquim Felício, que ficou em 1º lugar ao final do concurso.


Projeto fotográfico na UTE Rio Curimataí dirigiu olhar dos alunos para problemas e virtudes ambientais locais. Em destaque, o registro do aluno Pedro Almeida, de Joaquim Felício


Longe de parar por aí

O projeto ‘Mergulho na paisagem da sub-bacia do Rio Curimataí’ foi uma das quase 300 iniciativas de Educação Ambiental mapeadas e diagnosticadas na bacia do Rio das Velhas, a partir do Plano de Educação Ambiental (PEA) que o Comitê vem desenvolvendo. Com um horizonte de planejamento de quatro anos, o Plano se propõe a indicar como o CBH Rio das Velhas pode inserir e potencializar iniciativas de Educação Ambiental de alto impacto já em desenvolvimento na bacia, bem como caminhos para a execução direta de ações educativas ao longo do território.

“O Comitê já realiza práticas de Educação Ambiental ao longo de toda a bacia, sempre de forma espontânea, atendendo solicitações da comunidade local. A falta de um Plano estruturado e coeso era, de fato, um gargalo na organização das ações. Assim, o PEA terá, a partir de agora, a importante função de nortear essas ações”, contou a coordenadora-geral do Programa de Mobilização Social e Educação Ambiental do CBH, Karen Castelli.

Para o desenvolvimento de um PEA de forma participativa, em um processo que procurou ouvir as bases do CBH Rio das Velhas, como conselheiros e Subcomitês, um longo caminho foi traçado. Para mapeamento de ações já existentes, a primeira fase de desenvolvimento do Plano voltou-se ao diagnóstico do atual cenário da Educação Ambiental na bacia. Nesta fase, 292 principais iniciativas já existentes na bacia foram identificadas. “Este é outro fator interessante: a realização de um mapeamento das ações que já vêm sendo realizadas. Isso contribui de forma definitiva para a construção de pontes e parcerias entre o Comitê e os entes que já encampam ações de Educação Ambiental”, destaca Castelli.

Para a presidenta do Comitê, Poliana Valgas, a Educação Ambiental é um caminho estratégico na gestão dos recursos hídricos do território. “O Plano de Educação Ambiental representará um novo momento para o Comitê e a bacia. Com este Plano, poderemos coordenar, de forma estratégica e bem direcionada, o desenvolvimento de ações e o apoio a tantas outras. Acreditamos na Educação Ambiental como ferramenta transformadora, capaz de fomentar o interesse pela preservação e pelo cuidado do nosso rio nos quatro cantos da bacia”, completou.

A previsão é que o PEA seja apresentado ao Plenário do Comitê ainda no primeiro semestre de 2024.


Educação itinerante

Mesmo ainda sem um Plano, algumas ações de educação ambiental promovidas pelo Comitê se destacaram em 2023. Uma delas foi a exposição educativa “Rio das Velhas, Eu Faço Parte”, composta por um conjunto de totens com informações diversas sobre a bacia hidrográfica, o ciclo da água, a importância da preservação, os múltiplos usos, a fauna e flora, dentre outros.

Desde então, a exposição tem percorrido vários municípios da bacia hidrográfica, do Alto ao Baixo Velhas, seja em museus, parques, escolas, seja em grandes eventos, representando um recurso importante na mobilização de alunos, educadores, coletivos, poder público e demais moradores para o contexto de proteção do rio, de suas águas e da biodiversidade.

Felipe Mancini, morador de São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, foi um dos visitantes: “A exposição do CBH Rio das Velhas foi ótima! Foi muito legal entender melhor o percurso do rio, tal como a presença da fauna e da flora ao longo de sua trajetória, mas sinto que o mais importante foi trazer a reflexão do quão importante é preservar nosso rio e assegurar a utilização de seus recursos de forma consciente. Conscientizar é o caminho e a exposição fez isso muito bem”.

Em Nova Lima, a Exposição integrou as atividades da Semana da Árvore, em parceria com a prefeitura. Segundo Gabriela Araújo, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, mais de 300 pessoas haviam passado pela exposição, somente nos três primeiros dias: “É de vital importância, principalmente pela falta de informação sobre o assunto. O Velhas está numa área mais rural aqui em Nova Lima, poucas pessoas veem o rio. Quem esteve aqui agora sabe do rio, por onde ele passa e a sua importância”, disse.


Exposição itinerante passou por dezenas de cidades da bacia, mobilizando centenas de alunos. Em destaque, a passagem da iniciativa por Curvelo e Acuruí, distrito de Itabirito


Quer saber mais sobre a exposição itinerante e tudo o que rolou na Semana Rio das Velhas 2023? Assista!


Biomonitoramento a serviço da educação

Desde 2000, o Monitoramento Ambiental Participativo (MAP), projeto desenvolvido no âmbito do CBH Rio das Velhas, em parceria com o Projeto Manuelzão e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem levado às escolas municipais da bacia técnicas de biomonitoramento e de avaliação da qualidade das águas de diversas localidades.

A iniciativa possui duas linhas de abordagem: o monitoramento da ictiofauna, que compreende as amostragens de peixes na calha, afluentes, lagoas marginais e riachos de cabeceiras da bacia do Rio das Velhas, análises de distribuição, riqueza, diversidade e análises para determinar a incorporação de compostos orgânicos nos tecidos de peixes; e o Monitoramento Ambiental Participativo, com atividades educacionais e de mobilização com a participação dos Subcomitês e das escolas.

A ação também conta com os “Amigos do Rio”, programa que envolve ribeirinhos, da nascente à foz, que se prontificam a comunicar eventos de mortandade de peixes e coletar informações da água e do ambiente, conforme treinamento prévio.

“O MAP atua levando informações sobre recursos hídricos, sobre a bacia e sobre as práticas de biomonitoramento, por meio da realização de atividades e oficinas em 23 escolas espalhadas pelo território, indicadas em reuniões realizadas junto aos Subcomitês”, explica Katiene Santiago, bióloga que integra a equipe do projeto.

Ela detalha o caminho. “Primeiro, treinamos os professores. Na sequência, agendamos uma visita à escola, na qual trabalhamos a parte teórica do projeto, realizamos a primeira coleta de água, de organismos aquáticos e fazemos a análise química. Após esse primeiro contato, os professores e alunos passam a realizar esse trabalho de forma mensal. Ao final do ano, retornamos à escola já com os resultados para apresentação”, explica Santiago.


Ações do MAP combinam técnicas de biomonitoramento e avaliação da qualidade da água a ações educacionais e de mobilização, como na escola municipal Washington de Araújo Dias, em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto


Mãos na água

Com tantos anos de estrada, o MAP recebe também o reconhecimento de quem está na outra ponta do processo, como é o caso de Pia Chaves Guerra, professora na Escola Municipal Washington de Araújo Dias, em São Bartolomeu. “Fundamentalmente, esse projeto faz nascer nas pessoas o cuidado e o amor pelo Rio das Velhas. Moro aqui há mais de 40 anos e, desde que cheguei, sou amiga desse rio, sendo que participo do MAP há quatro anos”, disse.

Para a também professora Fabiana Torres, ações como essas solidificam a noção de pertencimento a um território. “Todos os meses, os meninos vão até a beira do rio, colhem amostras de água, e nós, professoras, pedimos para que eles observem a coloração da água, se há alguma alteração. Depois disso, voltamos à sala e os alunos fazem as análises e montam um relatório, o que contribui com a escrita, com a leitura; fora que esse contato com o rio é fundamental. O rio para eles é tudo”.

A aluna Stefany Reis concorda. “Aqui no projeto, a gente faz os experimentos com a água, fazemos os relatórios sobre como o rio está, e, normalmente, ele está sempre muito bom”. Ela finaliza. “Eu acho esse projeto muito legal e importante, para a gente ter uma água limpa e saudável, onde a gente possa tomar banho no rio, beber a água, sem se preocupar com a sujeira e com a poluição”.


Assista ao vídeo do CBH Rio das Velhas e saiba mais sobre o MAP:


Iniciado pelo Projeto Manuelzão, programa de biomonitoramento já tem mais de duas décadas de atuação


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Arthur De Viveiros