Sistema de fossa comunitária gera água que pode ser usada em plantações

29/06/2021 - 19:48

A falta de tratamento de esgoto é comum na zona rural e as consequências são graves – tanto para o meio ambiente como para a saúde dos agricultores. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolveu um sistema prático e barato com a criação de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) coletiva. A nova tecnologia foi apresentada aos membros da Câmara Técnica de Planejamento e Controle (CTPC) do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), em reunião online, realizada no dia 28 de junho.

A ideia é que uma única estação atenda a cerca de 500 habitantes, ou seja, uma ETE vai tratar o esgoto de uma comunidade inteira. O modelo é uma alternativa para a fossa séptica, em que cada casa deve ter a sua. A primeira vantagem do sistema coletivo é o preço. A ETE de baixo custo, em torno de R$ 60 a R$ 80 mil e de dimensões compactas, pode não somente originar uma nova fonte de água para a irrigação de hortaliças em locais em que há escassez hídrica, como também evitar que o esgoto não tratado seja direcionado para corpos d’água e cause contaminação ambiental.

No protótipo de ETE construído pela Embrapa, o tratamento do efluente ocorre nos níveis primário, secundário e terciário. Ao todo, são nove tanques, sendo três caixas de concreto e seis tanques de PVC, que desempenham diferentes processos até resultarem no efluente final.

Para funcionar, o sistema tem que ser instalado na parte mais baixa do terreno, para que a gravidade transporte os dejetos das casas até a estação. “O tratamento inicia com a remoção de materiais mais densos como areia, terra, gordura, papel higiênico, entre outros, seguida da degradação da matéria orgânica a partir de processos anaeróbicos (sem a presença de oxigênio) pela ação de biomassa microbiana que gera biogás. Na sequência, ocorrem os processos de filtração em quatro etapas para remoção de ovos e cistos de vermes parasitas e, por fim, há a desinfecção por cloro”, explicou o pesquisador da Embrapa Hortaliças, Carlos Eduardo Pacheco.

A qualidade da água residual tratada está diretamente relacionada ao cumprimento de todas essas etapas anteriores, visto que isoladamente não é possível atender aos parâmetros de segurança da água. A cloração sozinha pode ser bastante eficaz na eliminação de bactérias e vírus, por exemplo, mas não afetaria parasitas nocivos como lombrigas e tênias, que estariam presentes na água de irrigação. “O tratamento dos efluentes sanitários foi configurado para entregar um alto nível de qualidade da água tratada, uma vez que a maior parte das hortaliças, como a alface, é sensível à contaminação microbiológica pela água”, comenta Pacheco.

Nas análises realizadas, todos os indicadores ficaram dentro dos parâmetros de qualidade estabelecidos pelas normas e legislações internacionais mais rigorosas como as dos Estados Unidos, Israel, Austrália e União Europeia. Em relação à demanda bioquímica de oxigênio (DBO), o efluente de entrada partiu de 290 mg/L para menos de 3 mg/L após o tratamento, sendo que os padrões determinam valores abaixo de 10 mg/L. As medições da água residual após o tratamento na ETE, incluindo a etapa de cloração, constataram a ausência total de quaisquer microrganismos nocivos, o que atende aos padrões rigorosos de regulamentações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o reuso agrícola irrestrito.

Além de diminuir os malefícios à saúde e ao meio ambiente, Carlos Eduardo Pacheco demonstrou que a água tratada também pode ser útil na produção de alimentos. O sistema foi testado em uma plantação de alfaces, onde a água foi usada em irrigação por gotejamento, assim ela não entra em contato direto com as folhas. Foram geradas hortaliças verdes, grandes e com folhas bem formadas, relataram os pesquisadores.

Para garantir a segurança do consumidor, a água usada na irrigação é testada em laboratório, para verificar a presença de coliformes, ou seja, se há ou não resíduos de fezes nela. Até o momento, todas as amostras deram negativo para salmonela, outros tipos de contaminação tiveram parâmetros dentro do permitido pela legislação brasileira, portanto sem risco à saúde.

O coordenador da CTPC, Ronald Guerra, afirmou que a falta de saneamento básico é uma realidade da zona rural na bacia do Rio das Velhas. “Apenas 4% da população brasileira em áreas rurais possuem saneamento básico e a realidade da bacia do Rio das Velhas não é diferente. A tecnologia desenvolvida pela Embrapa é muito interessante e devemos divulgá-la para toda a bacia”, disse.

Programa de Conservação Ambiental e Produção Ambiental

O Programa de Conservação e Produção de Água para a bacia hidrográfica do Rio das Velhas também foi discutido pelos membros da CTPC do CBH Rio das Velhas. O programa foi lançado no dia 16 de junho e pretende implementar ações visando maximizar o potencial de produção de água de uma determinada bacia hidrográfica a partir da ótica de delimitação em uma escala de microbacia, a partir do planejamento e execução de soluções baseadas na natureza.

A coordenadora técnica da Agência Peixe Vivo, Paula Procópio, informou que o lançamento foi um sucesso. “A reunião de lançamento do programa foi muito positiva e já começamos a receber propostas. O prazo para os Subcomitê se manifestarem foi prorrogado para o dia 10 de agosto”, explicou.

 


Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Luiza Baggio
Fotos: Carlos Eduardo Pacheco