Do social ao ambiental: projeto de agroecologia dissemina boas práticas em Sabará

24/07/2017 - 16:58

Nem tanta gente conhece, mas em Belo Horizonte é possível adquirir alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos e com preços até cinco vezes mais baratos do que nas prateleiras dos mercados e sacolões convencionais. E mais: remunerar mensalmente produtores rurais que adotam práticas sustentáveis na agricultura, com maior cuidado com o solo e com as águas.

Essa iniciativa existe e tem nome. Trata-se da CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura), projeto de agroecologia e agricultura familiar localizado em Sabará, na Unidade Territorial Estratégica (UTE) Poderoso Vermelho, que elimina o intermediário entre produtor e consumidor, viabilizando preços mais em conta por alimentos orgânicos.

Nesse projeto, os consumidores são chamados de coprodutores e dividem lucros e eventuais prejuízos com o agricultor. “Como não usamos agrotóxicos e adubos químicos na produção, em uma semana a cesta poder vir repleta de alimentos, mas em outra por vir com menos variedade. A gente depende da condição climática, por isso não é uma produção uniforme e em série como a do agronegócio”, afirma o gestor da CSA Minas, Júlio Bernardes.

Cada coprodutor contribui mensalmente com R$ 180, para cestas familiares, ou R$ 90, para cestas individuais, e tudo que é colhido é dividido e entregue semanalmente em pontos fixos da capital, ou mesmo em casa, mediante taxa extra. Hoje são mais de 80 investidores que financiam o cultivo de cinco famílias de produtores rurais na CSA Minas. “A gente busca coprodutores que tenham essa visão social, justamente porque a preocupação principal da CSA é com o social. Aqui valorizamos o trabalho do agricultor porque funcionamos num tripé, que é alimentação saudável, agricultura sustentável e transformação social”, conta Júlio.

José Mateus é um dos produtores rurais do projeto. Ele, que trabalha na terra desde os tempos de criança, lista os benefícios de integrar a equipe da CSA. “Trabalhando aqui a gente estabiliza, sabe o quanto vai ganhar ao final do mês. A relação com o coprodutor também é diferente. A gente se sente muito valorizado pelo trabalho que faz. É algo muito gratificante”, afirma.

Na outra ponta do processo está Thiago Mattos, professor, que há um ano e meio é um dos coprodutores da CSA. Segundo ele, o zelo pela qualidade dos alimentos que são consumidos em casa foi o que motivou a aderir à iniciativa. “É fato notório, e isso não é de hoje, que a produção agrícola no Brasil é extremamente tolerante com relação ao uso de agrotóxicos. Por isso, quando trazemos para nossa casa alimentos orgânicos que são produzidos com a transparência que caracteriza o CSA, entendemos que estamos cuidando da nossa saúde”, conta.

Ainda segundo Thiago, os benefícios mais justos estendidos aos produtores rurais também o convenceram. “Os produtores são profissionais que se opõem ao um opressor sistema de produção em larga escala que está mais preocupado com o lucro do que com a saúde dos consumidores. Quando nos tornamos coprodutores, estamos nos tornando cúmplices nessa luta, e isso me faz pensar que estamos fazendo algo bom para o coletivo, para a sociedade, para o mundo”, conclui.

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Esq. p/ dir.: O produtor rural, José Mateus na produção e o coprodutor, Thiago Mattos com a cesta. 

CSA e o Subcomitê Poderoso Vermelho

A CSA é uma das entidades que representa a sociedade civil no Subcomitê de Bacia Hidrográfica Poderoso Vermelho (SCBH Poderoso Vermelho). Júlio Bernardes, que até pouco tempo era o coordenador-geral do SCBH, conta que a relação entre a atuação de ambas as instituições é muito próxima. “A CSA depende de água limpa e de qualidade para irrigar a plantação. Por isso, temos um trabalho de fiscalização, de zelar pela qualidade dessa água. O produtor, além de fazer a sua parte e não usar nenhum tipo de agrotóxico e insumo químico, passa a ser um verdadeiro guardião da água”, conta.

Em 2015, o SCBH teve o projeto ‘Diagnóstico da qualidade e disponibilidade das águas de toda a UTE Poderoso Vermelho’ aprovado pelo chamamento público realizado pelo CBH Rio das Velhas. Em vias de iniciar, o projeto é dividido em duas etapas. A primeira prevê um diagnóstico hidrológico de toda a UTE, de forma a conhecer a disponibilidade e qualidade das águas, visando a identificação de mananciais, de cursos d’água que precisam de recuperação e dos agentes poluidores. A segunda fase está vinculada aos resultados encontrados na primeira, fazendo com que os agricultores que estão às margens de mananciais produzam alimentos de forma agroecológica no distrito de Ravena, em Sabará.

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Iniciativa importada do Japão

CSA é a sigla internacional de Community Supported Agriculture. As bases do sistema foram criadas no Japão no final dos anos 1960, por Teruo Ichiraku, filósofo e líder de cooperativas agrícolas. Em 1974, donas de casa japonesas, insatisfeitas com a contaminação dos alimentos por mercúrio, inspiraram-se nas ideias de Ichiraku para financiar pequenos agricultores que se comprometiam a plantar sem uso de agrotóxicos.

A partir da década de 1980, a CSA começou a se espalhar pelo mundo, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, a pioneira a trabalhar com o sistema foi a Associação para o Desenvolvimento da Agropecuária Orgânica (ADAO), com sede em Fortaleza, em 1997. Foi somente a partir de 2011, quando o alemão Hermann Pohlmann criou a CSA Brasil em Botucatu-SP, que a CSA passou a ter um crescimento expressivo no país, totalizando hoje mais de 30 grupos.

Para se tornar um coprodutor da CSA Minas, entre em contato com: gestao@csaminasoficial.com.br / (31) 98606-0639

Mais informações:

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
comunicacao@cbhvelhas.org.br