No dia em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, vamos contar a história da jovem Adeliane Margarida Silva. Nascida e criada na comunidade quilombola do Espinho, em Gouveia, Adeliane se destaca pela sua vivacidade, paixão e luta no território. “Fui criada no quilombo em meio à natureza e, desde pequena, sempre fui muito curiosa. Gosto de me envolver em questões sociais, culturais e ambientais”.
As vistas do quilombo do Espinho dão para uma paisagem encantadora que agrada a todos que por lá passam: o planalto do Rio Paraúna. Além da exuberante área verde do local, o quilombo também é fonte de tradição cultural e religiosa com a perpetuação de memórias e troca de saberes entre idosos e jovens. “A parte cultural é forte e, juntamente com incentivos do governo e ONGs [Organizações Não-Governamentais], desenvolvemos projetos voltados para a cultura”.
Adeliane conta que conheceu a atuação do Subcomitê da Bacia Hidrográfica (SCBH) Rio Paraúna em uma comunidade vizinha, onde foram abordados os impactos da erosão na localidade. Interessada pelo tema, que também assola a sua comunidade, Adeliane foi logo participando do debate e contando como o quilombo sofria com essas erosões. Assim foi convidada a participar do Subcomitê Rio Paraúna e hoje assume a coordenação do segmento da sociedade civil.
Graças a sua mobilização e luta, conseguiu levar o projeto hidroambiental da Unidade Territorial Estratégica (UTE) Rio Paraúna para a sua comunidade, o qual visa promover a preservação e recuperação ambiental na microbacia do Córrego Engenho da Bilia – curso d’água situado na região do quilombo do Espinho e contribuinte da sub-bacia do Rio Paraúna. “Pela situação do quilombo, conseguimos sensibilizar o Subcomitê a desenvolver o projeto hidroambiental na comunidade”, explica.
Adeliane fala que, juntamente com a ONG Caminhos da Serra – integrante no Subcomitê da UTE – são desenvolvidos conhecimentos e consciência ambiental com crianças, adultos e idosos do quilombo. Os principais assuntos discutidos são sobre a coleta de lixo e os impactos dele no plantio e no abastecimento público de água. “A comunidade é simples, formada por pessoas simples, de uma grandiosidade infinita, que sempre tentam fazer o melhor para melhorar a sobrevivência, a exemplo do lixo. O lixo é um problema? Sim, então vamos trabalhar nisso”.
Com um tom de esperança e fé, Adeliane conta como conheceu o Rio Paraúna. “Através das ações de educação e mobilização social da região, sempre ouvia falar sobre o rio e sobre a sua sobrevivência. Fui ao encontro do [Rio] Paraúna com o [Rio das] Velhas e vi o desmatamento, a degradação e o descaso. Nesse dia voltei para casa com um olhar diferente sobre as águas”.
Apesar da sua pouca idade, 28 anos, Adeliane já conta com um currículo de trajetória e luta. Desde a sua infância, participa das atividades da Associação Comunitária do Espinho. Em 2009, quando assumiu a presidência, a associação recebeu o certificado de quilombola e passou a se chamar Associação Comunitária Quilombola da Comunidade do Espinho – integrante do Subcomitê Rio Paraúna. Adeliane também é Diretora Cultural da Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais (N’Golo), trabalha como agente comunitária de saúde do município de Gouveia há 8 anos e é estudante do curso superior de História.
Símbolo da mulher guerreira do campo, Adeliane Margarida Silva conta o que é ser mulher e batalhar nas causas ambientais e de bem estar. “As mulheres não devem se subestimar, pois somos tão capazes quanto aos homens. Em minha comunidade somos mulheres guerreiras, que cuidam da comunidade, da família e do território”.
Veja fotos de Adeliane em ação na bacia do Rio Paraúna:
Na luta pelo território
08 de março é o Dia Internacional da Mulher. A data remete a uma série de fatos, lutas e reivindicações das mulheres em todo o mundo – especialmente entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX – por direitos sociais e políticos e melhores condições de trabalho.
Com um propósito maior do que meramente comemorar a data, e, sim, de discutir o papel da mulher na sociedade atual, o CBH Rio das Velhas irá apresentar, ao longo dessa semana, o perfil de cinco personagens mulheres que, em meio a tantas outras por essa Bacia Hidrográfica, trabalham e batalham por um território melhor.
Tratam-se de personagens aleatórios, do Alto ao Baixo Rio das Velhas, mas que simbolizam e representam o todo na luta feminina por um ambiente justo e equilibrado.
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Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
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