Parque Ciliar do Ribeirão Onça pode transformar a região com menor índice de qualidade de vida em BH

06/07/2021 - 16:35

Um compromisso feito pelo prefeito Alexandre Kalil. Um sonho para as famílias que vivem na região. Planejado para ser um dos maiores parques de Belo Horizonte, a implantação do Parque Ciliar Comunitário do Ribeirão Onça, há 10 minutos do centro da capital, vai ganhando forma com a ajuda dos próprios moradores.

O Ribeirão Onça é um dos mais importantes e impactados afluentes do Rio das Velhas – e com maior concentração populacional. O resultado disso é um leito castigado. Das suas nove praias, 21 corredeiras, três ilhas e três cachoeiras, ao longo de toda sua extensão, a beleza é sufocada pela falta de mata ciliar, pelo aporte de sedimentos para o seu leito, pelo descarte clandestino de resíduos sólidos, pelo lançamento de efluentes domésticos, pela presença de ocupações irregulares no seu entorno e pela canalização e impermeabilização do solo.

Em uma das regiões de Belo Horizonte com a pior qualidade de vida, o cotidiano difícil dos moradores que vivem na parte baixa do ribeirão não tirou deles a vontade de acreditar que essa realidade pode ser diferente. “É muito importante que a gente reconheça as belezas naturais do Onça e que a gente não permita que no Baixo Onça aconteça o que aconteceu no restante da cidade. Não é por causa da pobreza que os moradores se rebaixam ou que eles não se mobilizam para um mundo melhor. Muito pelo contrário! Isso demonstra a potência de um povo que está comprometido com a melhora da sua qualidade de vida”, explica Carla Wstane, colaboradora do Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (Comupra), do Movimento Deixem o Onça Beber Água Limpa, integrante do Projeto Manuelzão e Subcomitê Ribeirão Onça e coordenadora geral do Instituto Guaicuy.

A necessidade por mais segurança e qualidade de vida na região levou os moradores a pressionarem a prefeitura de Belo Horizonte para retirada das famílias às margens do Ribeirão Onça e que pedissem pela implantação de um parque no lugar. Em 2015, os moradores elaboraram com apoio do Comupra, do Movimento Deixa o Onça Beber Água Limpa e prefeitura uma proposta de parque para atender essa população. No projeto do Parque Ciliar Comunitário do Ribeirão Onça foram pensadas áreas de preservação e conservação; agricultura urbana; prática esportiva; preservação e interação com a natureza; parque equestre; atividades terapêuticas; espaço cultural e Centro de Referência Ambiental; e gestão participativa.

Com extensão de 5,5 quilômetros, o parque será um dos maiores da cidade, passando pelos bairros São Gabriel, Vila São Gabriel, Ouro Minas, Vila Fazendinha, Novo Aarão Reis, Belmonte, Ribeiro de Abreu, Conjunto CBTU (Novo Tupi), Conjunto Ribeiro de Abreu, Casas Populares (Ribeiro de Abreu) e Monte Azul.

Incluído na Meta 2025: nadar, pescar e brincar no ribeirão Onça, o projeto será uma forma de proteger e recuperar o meio ambiente da região, contribuir para o bem-estar da população destes bairros e proteger áreas críticas vulneráveis às inundações e recuperar a mata ciliar com o plantio de árvores. Discutir um parque no baixo curso de um rio obriga a discutir também toda a cidade que está a montante dessa região. Se o ribeirão chega na sua parte baixa poluído é porque a montante ele está sendo tampado e invisibilizado, sofrendo as consequências do lançamento de esgoto. Carla explica que “a criação do parque colabora com a saúde do Ribeirão Onça e do seu entorno porque exige uma despoluição. Se você tira o esgoto do rio você está promovendo a saúde do Ribeirão Onça e do entorno dele.”

Essa capacidade do projeto de enfrentar problemas complexos urbanos e ambientais, conectando poder público e comunidade, foi reconhecida a ponto de ganhar menção honrosa no IV Concurso Internacional de Projetos de Desenvolvimento Urbano e Inclusão Social do Banco de Desenvolvimento da América Latina.

Mas mais do que ter um projeto reconhecido, para a população o parque já começou a sair do papel a partir dos mutirões, da construção de espaços coletivos e o início da realocação das pessoas. Até o momento, 700 famílias foram retiradas das áreas de risco às margens do Onça pela Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel).

A Nascente Fundamental do Onça, cuidada pelos próprios moradores desde os anos 1980, faz parte do processo de construção do parque. Nos últimos anos ela recebeu mutirões e algumas ações de preservação e melhorias, como cercamento, contenção de encosta, paisagismo e plantio de pomar para uso da comunidade.

A construção do campinho também faz parte da concretização do parque. “Com a retirada das famílias das áreas de riscos, que se transformarão nas áreas do parque, as pessoas construíram um campinho de futebol. Um lugar visto como vulnerável e violento se tornou um ponto de encontro, espaço de lazer e contemplação”, explica Carla.

A agrofloresta e horta comunitária são outras formas de ocupação coletiva que desenham o parque ciliar. Elas promovem a produção de alimentos, permitem que as pessoas plantem árvores e elas mesmas acabam cuidando daquele espaço. Nessas ações a comunidade tem apoio da Copasa, do Urbel, da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional e as comunidades, principalmente.

Para Itamar de Paula, presidente do Comupra e morador do baixo Onça, o que foi feito até agora foi graças a quebra de paradigmas e a coragem de avançar para conquistar resultados práticos. “Mudar aqui também é mudar um pedaço do Brasil. E nós queremos mudar isso daqui”, conta.

Algumas dessas ações tiveram a participação do CBH Rio das Velhas, principalmente do Subcomitê Ribeirão Onça. Carla explica que “todos os projetos hidroambientais das fases 1, 2 e 3 passaram pelo baixo Onça com o intuito de mobilizar as pessoas para proteção das nascentes e para o reconhecimento dos cuidadores de nascentes. O CBH Rio das Velhas também sempre esteve presente nos mutirões e plantios de agroflorestas. As pessoas do baixo Onça, do Ribeiro de Abreu e do Comupra participam do Subcomitê e das plenárias do Velhas e sempre pautam a região e o parque. Elas ajudam a mostrar que por ali existem muitas possibilidades.”

Durante a Semana do Rio das Velhas de 2021, o Parque Ciliar Comunitário do Ribeirão Onça foi apresentado e discutido com o poder público, integrantes dos Subcomitês do CBH Rio das Velhas, ambientalistas, sociedade civil e moradores das regiões que serão atendidas. Na oportunidade, as moradoras do baixo Onça e integrantes do Comupra, Roneide Dutra, Simone, Simone Fidelis, Rosemar Aparecida Dutra e Cecília Marina fizeram a leitura coletiva do documento de Reafirmação do Compromisso pelo parque ciliar.

 

Assista ao Webinário Parque Ciliar do Ribeirão Onça Meta 2025:
nadar, pescar e brincar no Onça

 

O que queremos para o futuro?
Queremos uma outra cultura de água possível, a gente quer nadar, pescar e brincar no Onça, queremos mais um novo ponto turístico de Belo Horizonte e a gestão compartilhada das águas. Recomeçar a implantação do Parque Ciliar do Onça, junto com a realocação das famílias, é uma forma da gente seguir rumo a alcançar esse horizonte que é a Meta 2025”
,
conclui Carla Wstane.

 

 

 


Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Michele Parron
Foto: Bianca Aun e Ohana Padilha