A poucos quilômetros de suas nascentes, Rio das Velhas sofre com esgoto sem tratamento

10/08/2020 - 22:26

Em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) está inativa. Inaugurada em 2008, a primeira ETE da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas é ativada manualmente, mas, desde janeiro deste ano, quando a empresa Saneouro assumiu a concessão de tratamento de água e esgoto de Ouro Preto, a estação não tem sido acionada. Dessa forma, todo o esgoto produzido pelo distrito, que é a vila urbana às margens do Rio das Velhas, está sendo lançado in natura no curso d’água.

É importante salientar que São Bartolomeu é um dos poucos distritos de Ouro Preto que possuem tratamento de esgoto. Segundo informações do site da própria Saneouro, apenas 0,7% do esgoto da antiga capital mineira é tratado atualmente, dos quais – conforme registrado num estudo de 2018 da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) – 0,4% correspondiam ao esgoto tratado de São Bartolomeu. O distrito fica a cerca de 12 km das nascentes do Rio das Velhas, onde a água ainda é cristalina e própria para a balneabilidade.

“A construção da ETE São Bartolomeu foi possível graças ao empenho do Projeto Manuelzão e o apoio da Copasa [Companhia de Saneamento de Minas Gerais]. Uma vez que o tratamento de esgoto na região é precário, penso que a estação possui também uma simbologia importante por estar localizada no primeiro distrito à margem do Rio das Velhas. No entanto, há sete meses, desde que houve a transição do tratamento da SEMAE [Serviço Municipal de Água e Esgoto], da prefeitura de Ouro Preto, para a Saneouro, a estação não opera. Eu fiz uma denúncia no Conselho de Meio Ambiente, mas nenhuma ação foi tomada ainda”, afirma Ronald Guerra, conselheiro dos Subcomitês Nascentes e Rio Itabirito e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas).

Esgoto também na nascente do Velhas

Já no bairro São Sebastião, em Ouro Preto, vizinho ao Parque Natural Municipal das Andorinhas, a falta de coleta de esgoto atinge a cabeceira do Rio das Velhas. Embora haja no Morro de São Sebastião uma estação de bombeamento de esgoto com rede coletora, alguns moradias que vertem para a Bacia do Rio das Velhas não estão ligadas à rede, e os efluentes vão desaguar em cinco cursos d’água que formam as nascentes do rio.

Os problemas de tratamento de esgoto na região não são novidade. Desde os tempos em que era chamada de “Vila Rica”, Ouro Preto e seus distritos não possuem tratamento de esgoto adequado e lançam quase a totalidade de seus efluentes diretamente nos rios da região. Ainda segundo Ronald Guerra, a situação impacta não só o Rio das Velhas, mas também a Bacia do Rio Doce no caso do centro histórico de Ouro Preto. A questão, no entanto, parece estar longe de uma solução que efetivamente proteja os cursos d’água naquele local, uma vez que mesmo as informações sobre a real situação do tratamento de esgoto são escassas.

A equipe de Comunicação do CBH Rio das Velhas entrou em contato com a Saneouro – empresa que assumiu a concessão do tratamento de água e esgoto de Ouro Preto em janeiro deste ano, após a extinção da SEMAE – pedindo informações sobre a situação da ETE São Bartolomeu mas, até o fechamento desta matéria, não obteve resposta.


Confira as fotos da nascente do Rio das Velhas: 


Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Leonardo Ramos
*Fotos: Bianca Aun/Léo Boi/Ohana Padilha