A volta da pesca no Rio das Velhas: em meio à pandemia, condições da água estão melhores em Sete Lagoas e região

13/05/2020 - 18:05

A pandemia da Covid-19 provocou a redução de diversas atividades industriais em diferentes cidades. O isolamento social e a restrição de funcionamento de uma série de segmentos, a fim de se evitar a propagação da doença, aparentemente estão provocando um efeito positivo na qualidade das águas do Rio das Velhas. Um indicador desta melhora é o retorno da pesca em municípios como Jequitibá e Sete Lagoas, em trechos normalmente muitos contaminados por receberem toda a carga de poluentes de Belo Horizonte.

A secretária-adjunta do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Poliana Valgas, que também é secretária de Meio Ambiente e Saneamento de Jequitibá, confirma que visualmente as águas do Rio das Velhas estão melhores e que, por conta disso, a pesca está sendo uma constante na cidade. “Segundo relatos de vários pescadores, as águas do rio estão mais limpas, menos poluídas. Durante visita ao local [no dia 06 de maio] percebemos nitidamente que a turbidez está menor, assim como a carga de poluentes. A preocupação fica pela aglomeração de pescadores às margens do rio, o risco da infecção por Covid-19 está aí e devemos estar atentos aos cuidados relativos à prevenção”.



A melhoria das condições do Rio das Velhas ocasiona a vinda de mais pescadores a Jequitibá. É o caso de Carlos Alberto Silva Goulart, que veio de São José da Lapa para pescar no município – apesar das recomendações de quarentena e isolamento social. “Pertenço ao grupo ‘Pescadores da Lapa’ e fiquei sabendo que em Jequitibá, no Rio das Velhas, estava tendo bastante peixe e resolvi tentar. Além de mim, estão aqui minha esposa e amigos. Graças a Deus estamos pescando e divertindo um pouco também. A água está boa, limpa”, afirma.

Warley Machado Pereira, pescador e morador de Dr. Campolina, distrito de Jequitibá, ressalta que os peixes voltaram. “Tinha muita espécie de peixe que estava sumida do Rio das Velhas e que agora está aparecendo, como piaba e lambari. A redução de atividades de indústrias impacta positivamente na melhoria das águas do rio. Antes a água estava suja, com mau cheiro e turva, agora não tem mais mau cheiro e o volume aumentou”, conta.


Warley Machado Pereira é um dos voluntários do projeto ‘Amigos do Rio’

A exemplo do colega, o também pescador Geraldo Francisco Costa está surpreso com a quantidade de peixes que “apareceram” no Rio das Velhas em meio à pandemia da Covid-19. “A quantidade de peixes aumentou demais, perto da ponte tem sempre muita gente pescando. Quando acontecia qualquer chuva em Belo Horizonte, chegavam somente peixes mortos aqui na região de Jequitibá. Tivemos algumas chuvas no início da pandemia, duas mais fortes, e o rio encheu. Mas, ao contrário do que sempre ocorre, não teve morte de peixes desta vez”, relata o pescador.

Água que abastece Sete Lagoas também apresenta melhoria

A melhoria das condições da água também é notada em Sete Lagoas. No local onde a água é captada e enviada para a Estação de Tratamento de Água (ETA) – Sistema Rio das Velhas, a percepção é de um rio mais limpo. De acordo com Fernando Nogueira, gerente da unidade que pertence ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), a água tem apresentado mais facilidade de tratamento devido a menor carga de poluição do rio.

“Visivelmente tem-se notado o rio mais limpo. Antes era percebido muito lixo no local da captação. A última paralisação da ETA foi no dia 3 de abril, devido a uma grande descarga de esgoto que foi despejada no rio, impossibilitando o tratamento”, conta Fernando. Hoje, 32 bairros de Sete Lagoas são abastecidos pela ETA, o que representa cerca de 40% da população do município – um universo de aproximadamente 60 mil pessoas.

Segundo Bruna Machado, supervisora de tratamento e controle de qualidade da ETA – Sistema Rio das Velhas, os testes físicos e químicos não mostraram alterações significativas se comparado ao ano anterior, mas houve uma economia de Cloreto Férrico (coagulante), um dos produtos utilizados no tratamento da água.“Mesmo tendo produzido mais água esse ano, houve um consumo menor de Cloreto Férrico. Em abril do ano passado tratamos 415.413 m³ de água com quase 27 mil litros da substância. No mesmo período, em 2020, após a pandemia e decretos restritivos de diversas atividades econômicas e industriais, tratamos 516.198m³ [de água] utilizando apenas 22.356 litros do mesmo produto. Isso foi possível porque a qualidade da água que chega à captação melhorou”, conta Bruna.


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Paralisações

A poluição do rio é um grave problema que interfere diretamente na operação da estação. Segundo assessoria do SAAE, o Rio das Velhas ocasionalmente apresenta águas aparentemente contaminadas com esgoto vindo da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), não sendo possível o seu tratamento. Somente em 2019, a ETA sofreu cinco paralisações por descarga de poluentes, voltando somente após o rio apresentar – naturalmente – condição de tratamento de suas águas. Foram lavrados e encaminhados aos órgãos competentes boletins de ocorrência, relatórios e registros fotográficos. No entanto, o SAAE não obteve retorno quanto a providências.

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Celso Martinelli
*Foto: Celso Martinelli