A chegada do período chuvoso, que vai de outubro a março, coloca a população da capital mineira em um estado permanente de medo e tensão com a segurança de quem mora, transita ou trabalha perto de áreas que comumente sofrem com alagamento. Belo Horizonte possui 89 áreas com risco de inundação, de acordo com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). Os pontos estão mapeados em um documento chamado Carta de Inundação, onde é possível ver o traçado das regiões da cidade cortadas por córregos.
Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, com base em estudos de modelagem hidrológica e hidráulica, o estudo permite maior conhecimento das bacias hidrográficas e a identificação de trechos críticos. Veja no site da PBH a Carta de inundações e as áreas com risco de enchentes.
A Regional Venda Nova tem o maior número, com 20 pontos de risco, seguida pelo Barreiro e Pampulha, com 13. É só chover que a atenção também se volta para o Ribeirão do Onça, na Região Nordeste, e para o Arrudas, na Oeste. A inundação ocorre quando o rio sai da calha, como quando o Arrudas transborda. Na Avenida Tereza Cristina o Córrego Ferrugem, que pertence à Bacia do Arrudas, requer intervenções em Contagem para evitar enchentes.
A equipe de Comunicação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) percorreu os pontos mais críticos de inundações de Belo Horizonte, locais que colecionam histórias dramáticas e são tidos por muitos como armadilhas mortais. Um dos locais críticos para inundações se situa bem na área onde o Córrego Vilarinho é formado, no Bairro Piratininga, Região de Venda Nova. O Vilarinho não tem uma nascente, se forma pela junção dos córregos Piratininga, que passa pela Rua Barra Bonita, com o da Rua dos Navegantes e o Olga Pimenta Guimarães – o nome só passa a constar após a Rua Padre Pedro Pinto.
Em cima, à esquerda, Ribeirão Onça na Avenida Cristiano Machado, próximo ao bairro São Gabriel. À direita, a vendedora de doces Rute Miranda, que trabalha na Avenida Vilarinho. Em baixo, trecho do Córrego Sarandi, na região da Pampulha. (Créditos: Fernando Piancastelli).
A regional com mais áreas de risco de inundação é Venda Nova, com 20 pontos. A Avenida Vilarinho é um desses trechos. A via é uma das principais áreas de inundação da cidade e, no feriado de 15 de novembro, causou a morte de pelo menos quatro pessoas em uma enchente.
“A Vilarinho está entre as cinco principais áreas de inundação, além da Avenida Francisco Sá, Tereza Cristina, Bernardo Vasconcelos e Cristiano Machado, na altura do Primeiro de Maio e Suzana”, disse o coordenador Municipal da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas.
A vendedora de doces, Rute Miranda, trabalha na Avenida Vilarinho e conta que é só chover que as pessoas começam a entrar em pânico. “Quando chove aqui vira quase um rio. A água sobe muito rápido. No temporal que aconteceu em novembro, graças a Deus eu não estava trabalhando, mas fiquei muito triste com as mortes que aconteceram aqui”, comenta.
Já a região do Barreiro tem 13 áreas que merecem atenção. Nascentes e córregos como Olaria, do Túnel, do Barreiro, Jatobá e Cafezal cortam bairros que ficam suscetíveis à chuva forte. Na Pampulha, é a mesma quantidade. São dez na Região Nordeste e Norte, oito na Oeste, seis pontos na Leste e três na Centro-Sul.
A primeira grande inundação de Belo Horizonte ocorreu em 1923, provocada pelo transbordamento do Ribeirão Arrudas, informa o engenheiro sanitarista José Roberto Champs, ex-diretor da Sudecap e responsável por um levantamento sobre as enchentes e seus efeitos desastrosos. “De 1928 até agora, houve mais de 200 inundações”, afirma Champs, destacando que a situação não é culpa simplesmente do período de chuvas ou dos 1.003 cursos d’água que cortam a cidade. “As inundações são fenômenos naturais, mas aqui houve uma ocupação urbana desfavorável à forma como a capital foi concebida. Não temos um sistema de drenagem eficiente”, afirmou o engenheiro.
Com o crescimento da população, problemas de alto risco para a drenagem foram surgindo e gerando impactos, como a canalização dos córregos e a impermeabilização do solo. Nesse segundo aspecto, estão incluídos o asfalto das ruas, piso de cimento de quintais, telhado das casas etc., o que aumenta o volume do escoamento superficial e provoca o transbordamento dos córregos. “Falta uma política de gestão integrada, formada por órgãos municipais e estaduais, para fazer a gestão do sistema de drenagem”, adverte o especialista, lembrando que as cheias se tornam realmente significativas quando há risco para a vida humana, perdas patrimoniais, alagamento de vias públicas de grande volume de tráfego e de equipamentos urbanos.
Confira alguns dos principais pontos de inundações de BH:
Proibição de canalização
Para o presidente do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, as canalizações devem ser proibidas na capital mineira. “Nos últimos anos temos percebido que a canalização de ribeirões e córregos tem sido alternativas para solucionar o problema das enchentes na capital, o que é um erro. Estamos na contramão da maioria dos países desenvolvidos que estão recuperando o leito de seus rios e aprendendo a conviver com eles. Com a canalização a cidade perde a oportunidade de incorporar em sua paisagem urbana os cursos naturais, tornando-a ambientalmente correta. As canalizações devem ser proibidas em Belo Horizonte e, por isso, precisamos buscar soluções que permitam à cidade conviver com as chuvas”, explicou Polignano, que defende que nas margens dos rios devem existir parques, campos esportivos e equipamentos para o lazer da população em vez de asfalto e concreto.
Nesse sentido, tramita na Câmara dos Vereadores o Projeto de Lei 119/2017, de autoria do vereador Arnaldo Godoy (PT), que proíbe canalização nos cursos d’água em Belo Horizonte. O PL foi criado em prol da melhoria social e ambiental da cidade, visando sanar os problemas advindos das chuvas, que geram enchentes e alagamentos, além de alterar o microclima da região.
Ao justificar o projeto, o vereador afirma que “transformar um leito de água em uma ‘caixa de concreto’, além de significar uma intervenção brutal na natureza, não ataca as causas do problema, já que as cidades devem ser responsáveis pelo manejo – e tratamento – de seus resíduos sólidos e das fontes poluidoras, não cabendo a elas dispersá-los pela natureza, como é o caso do despejo de esgoto nos córregos e riachos”.
Vereador Arnaldo Godoy (à esquerda) e presidente do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano (à direita), defendem proibição da canalização de cursos d’água em Belo Horizonte. (Créditos: Divulgação e Amanda Eduarda).
Em 2016, a Câmara de Vereadores aprovou o PL contra a canalização. No entanto, a expectativa de que a situação de vários quilômetros de córregos em Belo Horizonte pudesse ter um caminho diferente foi por água abaixo. O então prefeito da capital mineira, Marcio Lacerda vetou integralmente o PL que proibia o fechamento de córregos na capital. As justificativas do então prefeito foram muitas. Primeiro, o Executivo alegou que o projeto era inconstitucional por diversas razões, baseado em artigos da Constituição Federal e Estadual.
Agora o Projeto de Lei 119/2017 voltou a tramitar na Câmara de Vereadores e está em fase de apreciação pelo Plenário.
DRENURBS
Criado com a proposta de despoluir os cursos d’água, reduzir risco de inundação e integrar os recursos hídricos naturais ao cenário urbano de Belo Horizonte, o Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte (DRENURBS) é apontado por ambientalistas e pesquisadores como alternativa à canalização dos córregos.
O DRENURBS tem como objetivo principal minimizar as intervenções nas calhas dos cursos d’água em leito aberto na malha urbana, sempre que possível buscando a preservação das suas condições naturais, saneando-os e desocupando suas margens e as áreas de inundação. Nesse contexto, prevê a recuperação e integração ao meio ambiente urbano de 48 bacias hidrográficas, totalizando 73 córregos, com a despoluição de 140 quilômetros de cursos d’água, incluindo obras de esgotamento sanitário, drenagem e sistema viário, remoção e reassentamento de população em área de risco e implantação de áreas verdes e de uso público.
De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, o programa DRENURBS viabilizou a segunda etapa do Plano Diretor de Drenagem Urbana, que incluíram a elaboração de Diagnósticos Sanitários e Ambientais e Projetos Básicos de 47 bacias elementares do município, a implantação, operação e manutenção de todos os componentes do SIG-Drenagem, Modelagem Matemática Hidrológica e Hidráulica do Sistema de Macrodrenagem das Bacias Hidrográficas dos Ribeirões da Onça e Arrudas, a implantação do Sistema de Monitoramento Hidrológico e Alerta contra Inundações, a implementação do Plano de Contingência para Enfrentamento de Desastres e a elaboração da Carta de Inundações.
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Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas
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