O Grupo Gestor de Vazão do Alto Rio das Velhas (Convazão) teve nova reunião na manhã desta quarta-feira (24), apenas uma semana após a anterior. O curto intervalo é normalmente adotado na época da estiagem, de modo a conferir agilidade à análise de cenários e à adoção de medidas emergenciais que assegurem vazões minimamente suficientes à segurança hídrica da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Liderado pelo Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), o colegiado é composto ainda por Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) e Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), além de Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) e das mineradoras Vale e AngloGold Ashanti, que possuem barramentos no alto curso do rio.
Entre as ações de mitigação estão, por exemplo, o aumento da defluência (água que sai) das barragens Rio de Pedras, de propriedade da Cemig, em Itabirito, e do sistema Rio de Peixe, da AngloGold, em Nova Lima, e a redução, para patamares inferiores a 7 m3/s, do volume captado pela Copasa em Bela Fama, no distrito de Honório Bicalho, em Nova Lima, de onde vem quase metade da água que abastece a RMBH.
Calibre técnico
Logo na abertura, apresentação de Arthur Chaves de Paiva, do Serviço de Meteorologia da Cemig, trouxe os prognósticos pluviométricos para a bacia do Rio das Velhas.
Paiva demonstrou que, após uma década de precipitação abaixo da média, desde a virada de 2021 para 2022, quando choveu até 40% acima dos valores históricos, a situação se inverteu e tende a se manter na próxima estação das águas, com destaque para os meses de novembro e fevereiro.
O meteorologista comemorou a fugacidade das massas de ar seco deste ano, o que evitou o bloqueio de frentes frias e manteve as temperaturas em patamares mais baixos. As chuvas devem cair regularmente a partir da primeira quinzena de um outubro mais chuvoso do que o normal, embora desde setembro precipitações esparsas já tragam alívio.
Outra contribuição à qualidade técnica do encontro veio da participação do engenheiro hidrólogo José Alexandre Pinto Coelho, do Serviço Geológico do Brasil/CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, vinculada ao Ministério de Minas e Energia), que opera duas estações fluviométricas a montante da captação de Bela Fama, em Rio Acima e Nova Lima (Estação Honório Bicalho, inaugurada em 1971).
Segundo Coelho, empregando recursos como sensores de pressão, radares e telemetria, além dos meios mais tradicionais, como as réguas milimétricas, a CPRM converte leituras diárias em séries históricas nas chamadas curva-chave de estimativa de vazão.
A Estação de Rio Acima, instalada bem mais recentemente, em 2017, está 10 km acima da captação da Copasa e recebe seis visitas técnicas anuais. Os dados lá captados apontaram, diz Coelho, vazão de 13,75 m3/s na cota de 155 cm (nível da água) em 19 de agosto.
Josiene Perdigão, engenheira da Copasa, ficou “esperançosa” com as medições da CPRM, indicativas de “que estamos trabalhando com números abaixo dos reais. Seria um alívio”. “Visualmente a situação é melhor” do que mostram os instrumentos, diz Perdigão, com a experiência de quem trabalha às margens do Rio das Velhas há quase 10 anos.
Próximos passos
Nelson Guimarães, representante da Copasa no Convazão, anunciou que a companhia fará medição também a jusante de Bela Fama, outro recurso para aferir a realidade ainda com mais precisão.
Kênia Guerra, da AngloGold, garantiu que a nova curva-chave de Rio de Peixe será compartilhada antes mesmo da próxima reunião do coletivo, agendada para 2 de setembro, quando será analisada a possibilidade de a mineradora retomar a defluência de seu barramento para algo em torno dos 3 m3/s (atualmente abaixo de 1,3 m3/s). Informes atualizados sobre as outorgas da Vale no Alto Velhas também serão ponto de pauta do encontro.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
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*Texto: Paulo Barcala
*Fotos: Leo Boi