Solicitada pelo Grupo de Trabalho (GT) de Barragens do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), a visita em campo ocorreu na última sexta-feira (13). Na ocasião, membros do GT puderam conferir de perto as obras de descaracterização da barragem B3/B4 em São Sebastião das Águas Claras, no município de Nova Lima, além de verificar a Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ). O cronograma da empresa prevê o término das ações em 2027.
São Sebastião das Águas Claras, também conhecido como Macacos, é um local muito procurado por turistas em virtude de sua natureza e gastronomia. No entanto, a região também está inserida numa área de intensa atividade mineradora, o que exige atenção e acompanhamento. Algumas dessas estruturas já estão em processo de descaracterização, que consiste em retirar o rejeito de minério e reintegrar a área ao meio ambiente local através do processo de revegetação. A descaracterização de barragens a montante, mesmo tipo de alteamento das estruturas que se romperam em Brumadinho e Mariana, foi determinada por meio da Lei 23.291/19. A ordem é derivada do Projeto de Lei 3.676/16, conhecido como “Mar de Lama Nunca Mais”, e aprovado em 22 de fevereiro de 2019 pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Esse é o caso da barragem B3/B4, da empresa multinacional Vale, objeto da visita do GT de Barragens do CBH Rio das Velhas. Essa estrutura, que não recebe rejeitos desde 2001, desperta maior preocupação uma vez que está em nível 3 de emergência desde fevereiro de 2019 – ou seja, poucos dias depois do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Em caso de colapso, os rejeitos da B3/B4 encontrariam, em seu caminho, o Rio das Velhas, as casas que foram evacuadas na aérea de possível inundação e a Estação de Tratamento de Água (ETA) Bela Fama, a principal da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
A visita foi liderada pelo engenheiro da Vale Cleto Andrade, que acompanha o processo de descaracterização desde o princípio. Segundo ele, cerca de 1,1 milhão de m3 de material já foram retirados da barragem, o que corresponde a um terço do volume total a ser removido. Todo esse material está sendo depositado em cavas de minério exauridas da região. Para essa operação, a empresa utiliza caminhões e escavadeiras não tripuladas que são comandadas à distância, no intuito de evitar perdas humanas caso a barragem se rompa.
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Nesse caso, o rejeito liberado encontraria a ECJ, estrutura que possui 33 metros de altura e 190 metros de comprimento, projetada para contenção de 100% do material, poupando o Rio das Velhas e a ETA Bela Fama, além de toda a Zona de Segurança Secundária (Honório Bicalho, Rio Acima, Raposos e Nova Lima). Essa estrutura foi a protagonista do alagamento que isolou parcialmente Macacos no início deste ano após as fortes chuvas em janeiro.
De acordo com Cleto, o alagamento ocorreu porque a ECJ está localizada acima do nível da ponte que dá acesso ao distrito. Como a estrutura é de contenção, a vazão das comportas não foi bastante para escoar a água, o que gerou o alagamento. No entanto, já estão previstas obras para que a água possa ser escoada abaixo do nível da ponte, a serem finalizadas até o próximo período de chuvas. A ECJ será totalmente desfeita assim que a descaracterização for concluída.
O conselheiro do GT de Barragens, Eric Machado, ressaltou a importância da visita. Para ele, a leitura apenas de documentos não permite uma visão completa da situação real dessas barragens. “Ir a campo é muito importante. A visita técnica nos auxilia a entender toda a estrutura da barragem e o motivo de certos eventos, como o da inundação do início do ano, já recebendo a informação de que modificações serão feitas na ECJ. Além disso, é importante também ouvir o empreendedor, uma vez que, infelizmente, existe uma ruptura entre nós, ambientalistas, e essas grandes empresas. Por tudo isso, deixo o incentivo aos conselheiros do CBH Rio das Velhas a participarem de GTs e Câmaras Técnicas para poderem contribuir mais de perto na formatação de ideias e nas ações diárias do Comitê”, diz.
Pedro Lima, presidente da ONG Promutuca, avalia que a visita foi satisfatória, uma vez que as informações passadas foram acessíveis mesmo a quem não possui um conhecimento técnico sobre mineração. “Ficamos sabendo sobre o caminho do rejeito em caso de rompimento e da função exata da ECJ. Para o Comitê e a população da RMBH, é tranquilizador saber que a estrutura impede que os rejeitos cheguem até o Rio das Velhas ou à ETA Bela Fama, além de podermos verificar presencialmente as condições da barragem, que nem sempre é retratada corretamente pelos veículos de imprensa”, destacou.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Leonardo Ramos
Fotos: Leonardo Ramos