Grupo Gestor analisa vazão no Alto Velhas e conhece ferramenta de gestão hidrológica

31/08/2023 - 9:15

O Convazão, instância do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) que se dedica a monitorar e agir diante de eventual escassez hídrica no alto curso do rio, reuniu-se, por videoconferência, no última dia 25 de agosto, e discutiu o panorama de medições da vazão nesse trecho de um dos mais importantes afluentes do Rio São Francisco, vital para o abastecimento de milhões de habitantes da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).


O assunto foi levado à pauta após questionamentos apresentados pelo engenheiro Euler Cruz, integrante do Fórum Permanente do Rio São Francisco e do Gabinete de Crise – Sociedade Civil. Um deles diz respeito à diferença acentuada de quase 6 m3 entre os números aferidos em Rio Acima e Honório Bicalho, distrito de Nova Lima, situado pouco abaixo do primeiro, já que entre ambos não há nenhum tributário com volume que justificasse a variação.

Outro aspecto levantado pelo engenheiro trata da Estação de Raposos, abaixo do ponto de captação da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) em Bela fama, cuja vazão estaria abaixo da Q 7,10 [vazão mínima de 7 dias consecutivos com período de recorrência de 10 anos, adotada como referência para definir a situação hídrica e para a concessão das outorgas].

Breno Guerreiro, técnico do Serviço Geológico do Brasil (SGB)/Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), convidado para a reunião, deu uma visão geral da situação. Segundo ele, os números disponíveis atualmente são “dados brutos”, já que a “a CPRM não faz hoje a consistência de dados”, feita “de tempos em tempos pela ANA” (Agência Nacional de Águas).

Sobre as três estações de medição em questão [Rio Acima, Honório Bicalho e Raposos], Guerreiro informou que “Honório Bicalho é uma estação velha conhecida nossa aqui da CPRM por ser uma estação instável. Ela é de 1971 e, de lá pra cá, já teve 42 mudanças de curva-chave [que relaciona a altura da lâmina d’água com sua vazão correspondente]”.

O técnico do SCG complementa: “Essas estações, principalmente a de Raposos, são muito recentes, e a gente não consegue traçar a curva-chave de forma muito precisa”. A “análise de dados tão refinada é algo que só vai acontecer daqui a alguns anos, quando uma equipe parar para fazer análise volumétrica do rio, de volumes de hidrogramas afluentes e defluentes de cada estação”.

Dificuldades de dimensão da equipe do SGB/CPRM e a própria força natural são empecilhos a essa precisão: “As últimas duas cheias destruíram os equipamentos. Teve a cheia de 2021 para 2022 e agora essa de 2022 para 2023, que comprometeu de novo a estação que a gente tinha acabado de arrumar”.



Conforto provisório

Marcus Vinícius Polignano, secretário do CBH Rio das Velhas, pondera que a vazão em “Raposos normalmente vai ser menor, pelo consumo de Bela Fama, mas a Copasa tem que deixar pelo menos 30% de vazão residual”.

Para Polignano, no entanto, “a divergência de Rio Acima com Bela Fama tem que ser mais bem explicada” porque “não é muito consistente que uma vazão a montante seja tão diversa da jusante, visto que não tem nenhum rio que contribua a mais, nenhum consumo nesse trecho”.

“As analogias que eu conheço são da área médica”, diz o professor da Escola de Medicina da UFMG. “Você pega um aparelho de pressão, dá 18 por 10, e outro dá 15 por 9. Um aparelho está errado”. E ressalta: “a gente precisa ter essa informação com consistência, para estarmos seguros de que estamos tomando a decisão certa, baseada no que realmente está se passando no rio, porque a imagem que nos mandam de lá é a de um rio que se atravessa andando”.

O secretário ainda observa: “Se for pela vazão de hoje, confortável, não tem necessidade de fazer nenhum represamento no Velhas”, referindo-se à polêmica possível barragem na região conhecida como Ponte de Arame, em Itabirito.

Nelson Guimarães, Superintendente de Desenvolvimento Ambiental da Copasa, concorda: “Realmente parece que existe um problema na estação de Rio Acima, a montante da captação” de Bela Fama.

Sobre a situação atual, lembra “que estamos com dois anos de bom ciclo hidrológico na RMBH, mas são ciclos” e “pode vir o momento, como aconteceu, de um ciclo que durou anos e que foi dos mais críticos dos últimos 100 anos”.

Guimarães afirma que “dentro dos Planos de Segurança Hídrica já era prevista, desde os planos diretores para a RMBH, a questão do barramento, que é a forma de mitigar esses efeitos”, que agravados “com a própria mudança climática, tendem a ser mais frequentes, em ciclos extremos, tanto de muita chuva como de pouca chuva”.

Breno Guerreiro ficou “levar a questão para a gerência” para “encaixar no cronograma” novas medições que permitam avaliar com mais precisão o problema.

Por sugestão de Polignano, será encaminhado ofício à ANA citando as anomalias e solicitando uma medição atualizada com dados consistidos: “Nós queremos exatamente, e cada vez mais, que esse sistema seja seguro, que todo mundo respalde. É num trecho pequeno, não é? Mas é extremamente importante. Nós estamos tratando da Região Metropolitana de Belo Horizonte”.

Tecnologia



A empresa HidroBR apresentou, a convite, sua nova ferramenta HIDROLogic, plataforma automatizada de estudos hidrológicos com múltiplas aplicações.

Vítor Lages e equipe levaram informações sobre a tecnologia que “pode incorporar dados telemétricos de vazão de diferentes reservatórios [como os que já existem na região do Alto Rio das Velhas] para automatizar alertas, permitindo decisões mais informadas e rápidas de qual vazão liberar ou controlar”.

Renato Constâncio, vice-presidente do CBH Rio das Velhas, explicou que “a Diretoria vai conversar com a HidroBR, Convazão e outras instâncias do Comitê” para avaliar a contratação da ferramenta.

Polignano comparou: “O Convazão faz um pouco isso, mas manualmente. A riqueza que vocês têm é um sistematizar isso de forma mais ampla”.

Constâncio, ao considerar que a “ferramenta daria uma luz maior, mais profissional e com outras vertentes que a gente poderia utilizar”, planeja “conversar também com a CTOC {Câmara Técnica de Outorga e Cobrança], fazer as tratativas internas, identificando como a ferramenta pode ajudar na gestão do Comitê”.

Outros pontos previstos para a ordem do dia, como os retornos sobre a intervenção na Ponte de Arame, após reunião com o Ministério Público de Minas Gerais, e sobre dúvidas a respeito do vazamento ocorrido na Mina do Fernandinho, de propriedade da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), ficaram para a próxima reunião do Convazão, agendada para 31 de agosto.


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Paulo Barcala
*Foto: Bianca Aun