Pesquisadores propõem estratégias para diminuir os impactos das enchentes em BH

05/02/2024 - 16:30

Pesquisadores e arquitetos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) lançaram, na última quinta-feira (01), o estudo “Como transformar o cenário de inundações em Belo Horizonte?”, um documento que apresenta alternativas para lidar e conviver com as chuvas na capital mineira. Além do lançamento, uma caminhada pela bacia hidrográfica do Córrego do Capão, organizada pelo projeto de extensão Lembra: isto é rio, foi realizada a fim de discutir possibilidades de manejo das águas das chuvas na região.


O processo de urbanização precarizado, a falta de esgotamento sanitário, mudanças climáticas e a gradual exclusão dos cursos d’água são as principais causas das inundações e enxurradas. Portanto, como parte de um projeto de saneamento básico, obras e políticas de manejo das águas pluviais precisam estar previstas nesses processos. E como alternativa às grandes obras de retenção de inundações, pesquisadores da UFMG propõem redes multifuncionais com elementos naturais, como infraestruturas verdes e azuis, para aumentar a permeabilidade e diminuir a velocidade de escoamento das águas das chuvas.

“O aumento das enchentes está relacionado à mudança no uso do solo e às mudanças climáticas. Buscamos promover uma ampla discussão sobre o tema no município, considerando as recorrentes inundações e enchentes nas temporadas de chuva dos últimos anos. O poder público precisa agir, mas algumas das técnicas propostas podem ser aplicadas também pelos moradores da capital”, conta Isabela Izidoro, pesquisadora do projeto de extensão Lembra: isto é rio.

Estruturas verdes e azuis como pavimento permeável, trincheira de infiltração, telhado verde, reservatórios individuais e jardim de chuva são apontados como técnicas para implementação. O jardim de chuva, por exemplo, envolve a descompactação do solo de jardins que já existem nas casas, calçadas e canteiros centrais da cidade, além da inclusão de material drenante e da plantação de outras vegetações que auxiliam na retenção e na infiltração das águas das chuva. Essa medida já ajudaria a diminuir as enchentes, uma vez que existem muitos fragmentos de grama espalhados pela capital.

O estudo foi desenvolvido a partir da dissertação “Resposta hidrológica de uma bacia hidrográfica urbana à implantação de técnicas compensatórias de drenagem urbana”, defendida em 2017 pelo pesquisador Deyvid Wavel Barreto Rosa. Por meio de modelos computacionais e da análise de dados fornecidos pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Deyvid construiu um modelo hidrológico para a Bacia Hidrográfica do Córrego do Leitão, na capital.

“Fiz uma simulação de como a Bacia do Córrego do Leitão é e propus cenários que simulavam usos alternativos do solo. Entre esses cenários, testei a implementação parcial das técnicas que integram o material que estamos lançando agora. O estudo mostrou que, se implementarmos as técnicas propostas em 50% das áreas disponíveis, isso já reduziria quase por completo as inundações das regiões que integram a bacia. Assim, as técnicas apresentadas foram capazes de armazenar, filtrar e reter um volume muito grande de água das chuvas”, explica Deyvid. Entre as técnicas propostas na cartilha estão o jardim de chuva, o telhado verde, o pavimento permeável, o reservatório individual de água das chuvas e as trincheiras de infiltração.


Confira mais fotos:


O material lançado pelo grupo também propõe soluções viáveis que podem ser aplicadas em áreas residenciais, ou então, dentro da própria residência. Acesse o site do projeto Manuelzão e conheça.

Visita ao Córrego do Capão

Como parte da programação de lançamento do estudo, integrantes do Lembra: isto é rio realizaram uma caminhada pela bacia hidrográfica do Córrego do Capão para conversar sobre histórias e possibilidades de manejo das águas das chuvas na região. A caminhada passou por cinco locais estratégicos, nas quais foram instaladas placas em áreas que acumulam ou dispersam água.

Fernanda Costa, mobilizadora social do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), explica que esse tipo de discussão, das alternativas às bacias de contenção, tem ganhado força na universidade, na sociedade civil e no próprio Comitê e Subcomitês. “Hoje foi uma oportunidade de ter diversas pessoas, tanto moradores da Bacia do Onça, como do Arrudas, sendo que o Arrudas também vive esse conflito com as propostas de diversas bacias de detenção e contenção, principalmente envolvendo o Córrego do Cercadinho. Então percebo que as discussões dentro do Subcomitê extrapolaram as barreiras, tanto que estamos aqui discutindo e realizando uma visita de campo, algo que é muito importante”.

Fernanda ainda vê a parceria entre o CBH Rio das Velhas e a UFMG como um diferencial frente aos problemas crônicos da capital mineira. “Essa parceria também do Subcomitê e a universidade considero essencial, pois só assim conseguimos ter esse intercâmbio de ideias e possibilidades para resolver um problema crônico como as inundações e enchentes de Belo Horizonte”, destacou a mobilizadora.

O pesquisador e membro do projeto de extensão, André Siqueira, vê na mobilização com diversos atores e na realização de ações como essa a possibilidade de fomentar o debate público a respeito das águas e vida nas cidades. “Esse trabalho só foi possível de ser feito por conta do Núcleo Capão, que é um grupo que articula há muitos anos discussões acerca da questão das águas urbanas, e nós do projeto de extensão buscamos trabalhar com esses grupos. Então, acho que tem uma importância no sentido de fomentar o debate público acerca das águas na cidade”, disse.


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: João Alves; com texto de Luana Macieira, Agência de Notícias UFMG
Fotos: João Alves