Em reunião realizada na tarde de terça-feira (29), o Subcomitê Águas da Moeda (SCBH), ligado ao Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), recebeu os primeiros resultados das análises de águas superficiais e solo coletadas logo após as enchentes de janeiro.
O Subcomitê atua na Unidade Territorial Estratégica (UTE) Águas da Moeda, localizada no Alto Rio das Velhas e composta pelos municípios de Itabirito, Nova Lima, Raposos, Rio Acima e Sabará, alguns dos principais atingidos pelas inundações de janeiro, vitimados por uma lama espessa, viscosa e brilhante que causou inúmeros prejuízos e despertou forte preocupação quanto a possíveis contaminações.
Rede de Monitoramento Voluntário
Os cientistas Paulo Rodrigues, pesquisador titular do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), e Dulce Pereira, professora do Departamento de Engenharia de Produção na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), apresentaram aos conselheiros do Subcomitê os primeiros resultados das análises levadas a cabo pela autodenominada Rede de Monitoramento Voluntário Geoparticipativo, integrada por pesquisadores de diversas instituições e agentes coletores da equipe da professora (amostras de água) e também de residentes nas cidades atingidas (solo e lama).
Em 83 pontos de coleta foram reunidas amostras de águas superficiais – o que exigiu, de acordo com Rodrigues, “um protocolo bastante complexo para evitar contaminações” –, solo e lama. A professora Pereira afirma que “nunca tinha visto tanta destruição e, também, essa destruição invisível”.
Na análise das águas, os elementos Arsênio, Ferro, Manganês e Chumbo foram encontrados em proporções muito acima dos limites legais. Segundo Rodrigues, “a região do Subcomitê foi ‘brindada’ com os piores valores de águas superficiais”, com destaque negativo para o arsênio, 21,1 vezes acima do aceitável na região de Nova Lima que sofreu com o transbordamento de um dique da Mina Pau Branco, da mineradora Vallourec, atingindo um centro do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), unidades de conservação, inundando a BR-040 e chegando aos cursos d’água da Bacia do Rio das Velhas (aqui o estudo completo).
Rodrigues esclarece: “Existem, sim, elementos tóxicos no minério de ferro ou no minério de ouro, nas rochas intocadas do Quadrilátero, assim como em qualquer outro território. Só que são inertes por conta da baixa reatividade. A partir do momento que esse material é moído, o que ocorre no processo de beneficiamento, a reatividade aumenta assustadoramente. Isso vai ser uma coisa que nós vamos com certeza abordar num momento futuro”. E finaliza: “Trata-se não apenas de uma investigação acadêmica, que pode ter desdobramentos até criminais, mas sobretudo de uma ação social”.
Pereira completa: “Não tem achismo, estamos investigando o DNA desses elementos. É preciso pensar no impacto cotidiano do que vem sendo depositado na bacia. Interações entre elementos químicos criam outras composições. Os princípios da precaução e da prevenção exigem que sua liberação no ambiente seja estancada”.
Diversos conselheiros parabenizaram o estudo apresentado por sua qualidade e seriedade.
Reunião Virtual contou com apresentação de primeiros resultados do estudo realizado com água e solo após as chuvas de janeiro
Vallourec apresenta ações adotadas
Após as exposições dos pesquisadores, o gerente de Operação da Mina Pau Branco, Paulo Costa, e equipe da Vallourec apresentaram aos conselheiros um resumo das ações adotadas pela empresa após o transbordamento do dique Lisa, em 8 de janeiro.
A mineradora informou que um comunicado foi expedido imediatamente a todos os segmentos de algum modo relacionados ao assunto, como moradores do entono, prefeitura, órgãos ambientais, Polícia Militar e Bombeiros.
Outras iniciativas foram ações para mitigação de sedimentos, resgate de fauna e flora, monitoramento espeleológico, análise de impactos ambientais e criação de um canal de relacionamento 0800 e de hotsite.
A Vallourec assegura que o impacto na Lagoa Miguelão “não foi tão significante”, e que os “metais acima dos limites legais” são “ferro e manganês”. A “intervenção direta para retirada dos sedimentos da Lagoa ainda está em análise juntamente com os órgãos competentes”, disse o gerente de Meio Ambiente, Leonardo Maldonado, pois “os impactos podem ser maiores do que manter os sedimentos lá”.
A apresentação foi seguida por vários questionamentos dos conselheiros sobre aspectos do ocorrido e as providências adotadas e a adotar, principalmente tendo vista as mudanças climáticas.
A Vallourec comprometeu-se a disponibilizar os relatórios de monitoramento e informou que está preparando investimentos para o próximo período, redimensionando os cálculos de segurança em níveis superiores ao que estipula a legislação: “No dia 8/1, as chuvas foram mais intensas do que o normal e do que é preconizado pela lei, que é o TR de 100 anos (Tempo de Recorrência, intervalo para que uma dada chuva de intensidade e duração definidas seja igualada ou superada). “Houve chuvas superiores a 250 anos”, disseram os representantes da empresa, que pretende “elevar os Tempos de Recorrência para 500 anos”.
Sob nova coordenação
Na reunião, Júnia Borges, representante do Instituto Cresce, anunciou que está deixando a coordenação do Subcomitê. Em seu lugar, na coordenação geral e também da Sociedade Civil, assume o conselheiro Daniel Becho, da Ecoavis.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Paulo Barcala
Fotos: Leo Boi; Paulo Barcala