Vale apresenta projeto de descaracterização de duas barragens em reunião do Subcomitê Águas da Moeda

29/05/2019 - 14:35

UQuatro meses após a elevação do risco de segurança das barragens B3/B4 da Mina Mar Azul, da Vale, no distrito de São Sebastião das Águas Claras (mais conhecido como Macacos), os moradores permanecem em estado de alerta e apreensão. Por isso, a pedido da população local, a mineradora apresentou o projeto de descaracterização das estruturas, durante reunião do Subcomitê Águas da Moeda, realizada na terça-feira (28) na Associação Comunitária de Macacos.

O presidente da Associação de Moradores de Macacos, Raul Franco, conta que o vilarejo perdeu os turistas. “Muita gente evita Macacos desde o dia 16 de março, quando a população foi retirada, às pressas, diante da elevação do nível de risco da barragem B3/B4, que passou para o nível 3 [que indica risco iminente de ruptura]. Os donos de pousada têm feito de tudo para que o turismo volte a aquecer a economia local. Hoje estamos aqui para ouvir da Vale a real situação das barragens”, comenta.

O engenheiro da Vale responsável pelo projeto de descaracterização das barragens B3 e B4 da Mina Mar Azul, Marcel Pacheco, afirma que, desde o ocorrido na Mina Córrego Feijão, em Brumadinho, a empresa vem trabalhando no projeto de descaracterização das barragens com alto risco (nível de alerta 3), dentre elas a B3/B4, e que, nesse sentido, toda a área de possível inundação já foi evacuada e vem sendo monitorada permanentemente.

De acordo com Marcel Pacheco, a Mina Mar Azul está paralisada. “Instalada em 1999 pela Mineração Rio Verde, a B3/B4, que possui um volume de 2,7 milhões de m³ de rejeitos do beneficiamento da mineração, não vem recebendo rejeitos desde 2001 e seu reservatório está com pouca água. Apesar disso, em 2018, depois de sondagens realizadas por uma consultoria técnica, ficou constatado que a barragem possuía alto nível de alerta, uma vez que teria sido construída de maneira menos segura que as demais”, explica o engenheiro.

Marcel Pacheco esclareceu ainda que a descaracterização das barragens em Macacos será realizado em etapas. “A primeira fase será a implantação de três poços profundos para depressurização do lençol freático; construção de canal para drenagem da água superficial; reforço da estrutura onde há menor fator de segurança e recuo da pilha de rejeitos para preparar início da sua remoção para uma pilha estéril ou uma cava. A expectativa é que o alcance do fator de risco 1.3, abaixo do limite determinado de 1.5, ocorra apenas em 2021”, afirmou.

A descaracterização de barragens a montante, mesmo tipo de alteamento das estruturas que se romperam em Brumadinho e Mariana, foi determinada por meio da Lei 23.291/19. A ordem é derivada do Projeto de Lei 3.676/16, conhecido como “Mar de Lama Nunca Mais”, e aprovado em 22 de fevereiro pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Nessa segunda-feira (27), encerrou-se o prazo estipulado para que as mineradoras que possuem barragens com esse tipo de alteamento entreguem o plano de descaracterização das estruturas. Na prática, o processo significa a mudança de tecnologia de alteamento das barragens.

No caso da barragem B3/B4, a Vale já informou que a ideia é eliminá-la definitivamente e reintegrá-la ao meio ambiente, que é o processo denominado de descaracterização.

Veja as fotos da Reunião do Subcomitê Águas da Moeda:

Obras de contenção em caso de rompimento de barragem

A Vale iniciou um estudo de sondagem na região de Macacos para a viabilização de obras que possam conter o avanço da lama em caso de rompimento da barragem B/B4 da Mina Mar Azul. Em 16 de fevereiro, moradores da região tiveram que sair de suas casas, após a mineradora detectar um aumento de risco de colapso da estrutura, que no mês seguinte foi classificada como nível máximo de alerta.

Conforme explicado pelo engenheiro da Vale Marcel Pacheco, estão sendo avaliados nove pontos ao longo de oito quilômetros de distância a partir da barragem, incluindo a entrada de Macacos. A sondagem tem como objetivo analisar qual o melhor projeto para conter o avanço, levando em consideração a topografia da área.

O relatório começou a ser feito no dia 20 de maio e sua conclusão está prevista para o final de julho. Ao todo, 20 profissionais terceirizados pela Vale atuam na elaboração do estudo. As obras devem começar no segundo semestre e devem durar aproximadamente um ano.

Estrada de Macacos

Os moradores de Macacos reivindicam da Vale obras de melhorias na estrada conhecida como Campo do Costa que serve como uma rota de fuga segura em caso de rompimento das barragens da região, entre elas a B3/B4, que está em risco de rompimento.

De acordo com o morador de Macacos, Leonardo Tolentino, a estrada ficou fechada durante muitos anos pela mineradora, pois passa praticamente dentro da Mina Tamanduá. “Desde 2010 estamos reivindicando da Vale a abertura da estrada Campo do Costa que é a única via que não está na zona de risco em caso de rompimento das barragens da região.”, diz.

Leonardo Tolentino esclarece que a Estrada foi aberta mas em condições precárias. “A Campo Costa é uma Estrada pública. Não podemos deixar que a mineradora a feche novamente. Queremos a garantia de que ela não será fechada novamente e que a Vale faça as melhorias conforme prometido, como alargamento, sinalização, pavimentação ou asfaltamento”, afirma.

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Fotos: Luiza Baggio