25 anos do CBH Rio das Velhas sob a ótica de quem ajudou a formar este colegiado
Um quarto de século do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, colegiado sólido, exemplo para o país inteiro de uma gestão hídrica descentralizada e atenta às demandas e especificidades de cada território que compõe sua bacia. Bacia esta que abarca uma capital como Belo Horizonte e sua região metropolitana, mas também municípios interioranos, rurais, cujas atividades econômicas diferem em gênero, número e grau. Um território diverso, espelhado no CBH Rio das Velhas.
Um Comitê se faz com pessoas, atuantes, atentas e dispostas a defender pautas relevantes para sua localidade e para a bacia. No CBH Rio das Velhas não é e nem nunca foi diferente. Ao longo destes 25 anos, pessoas dos quatro cantos da bacia, representantes de poderes público, privado e da sociedade civil, ajudaram a erguer este Comitê, com dificuldades, alegrias, debates e momentos históricos.
Aqui, passaremos, como um rio, por momentos importantes da história do Comitê, mas sob uma ótica diferente. Quatro destas pessoas nos contam aqui sobre esses anos do CBH Rio das Velhas, partindo da perspectiva particular até a coletiva, com destaque para suas trajetórias dentro do colegiado. Assim, a história é contada de dentro, por aquelas e aqueles que presenciaram momentos singulares do CBH.
Entre conversas, histórias, trabalho e representatividade, a palavra de ordem foi “orgulho”.
Sr. Ademir
Origens, legado e agradecimento
‘Gratidão’. Esse foi o termo que Ademir Martins Bento utilizou para descrever sua relação e trajetória de, como ele mesmo diz, “vinte e poucos anos dentro do Comitê”. Membro histórico, Sr. Ademir se prepara para se aposentar das atividades no Comitê, justamente quando o colegiado completa 25 anos.
Conselheiro titular nesse período, ora pelo poder público de Caeté, ora pela sociedade civil, Sr. Ademir chegou ao Comitê por meio do Projeto Manuelzão, a convite do professor e ex-presidente do CBH, Apolo Heringer. “Pouco tempo depois passei a integrar também o CBH Rio das Velhas, que era presidido na época pelo Paulo Maciel. Esse fato valeu como o início de um longo aprendizado que tive no Comitê, muito mais que um curso profissionalizante”, ressaltou.
Nesse período, Sr. Ademir presenciou e protagonizou alguns momentos marcantes na história do colegiado. Isso porque, participou ativamente da criação de três dos atuais 19 Subcomitês que compõem a estrutura do CBH Rio das Velhas: Ribeirões Caeté-Sabará, Rio Taquaraçu e Águas do Gandarela.
Sr. Ademir destaca a criação dos Subcomitês como um dos momentos mais marcantes em sua trajetória. “Foram diversos momentos, mas vou enumerar três mais importantes. O primeiro, a criação dos Subcomitês, como ferramentas descentralizadoras das ações do Comitê. Depois, a defesa da Serra do Gandarela como Unidade de Conservação Nacional. E, finalmente, o envolvimento, em corrente de oração, por parte de toda esta família maravilhosa, no período de recuperação do nosso amigo Marcus Vinícius Polignano ex-presidente do CBH Rio das Velhas, que enfrentou a Covid e se recuperou, durante o período mais agudo da pandemia]”, acrescentou.
Completando sua trajetória no CBH Rio das Velhas neste ano, Sr. Ademir falou, emocionado, dos sentimentos desta despedida.
“Agora que estou me desligando do Comitê, os sentimentos são de satisfação e, ao mesmo tempo, de orgulho por ter contribuído para o fortalecimento dessas ações em defesa das águas de nosso estado. CBH Rio das Velhas em uma palavra? ‘Gratidão’! Por compartilhar de todos os sonhos, de todas as lutas e, principalmente, pelo legado que deixo para todos que seguem nesta missão”.
Valter Vilela
Participação ativa desde a criação até os dias atuais
Engenheiro civil e sanitarista de longa carreira dentro da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Valter Vilela Cunha participa do CBH Rio das Velhas desde sua instituição, por meio do Decreto Estadual 39.692, de 29 de junho de 1998. Até setembro coordenava o Grupo de Acompanhamento do Contrato de Gestão (GACG). “Desde a sua criação participei, como representante da Copasa, de todos os mandatos. Após minha aposentadoria da Companhia em 2016, continuei no CBH Rio das Velhas como representante da Abes [Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental]. Entre 2000 e 2015, participei de todos os mandatos, como secretário ou vice-presidente”, confirma.
Segundo Valter, sua história está diretamente ligada à criação do próprio CBH Rio das Velhas, uma vez que coordenou, pela Copasa, o Programa de Saneamento Ambiental da RMBH (Prosam). Financiado pelo Banco Mundial, o programa deu origem às Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) dos Ribeirões Arrudas e Onça. “Em uma reunião de avaliação no final do Prosam, foi solicitado, pelo Banco Mundial, que o Governo do Estado fizesse uma avaliação qualitativa das águas do Rio das Velhas, visando avaliar os impactos do programa. Para tanto foi avaliada e proposta a criação de um ‘Comitê da Bacia’, o que foi feito por meio do decreto”.
Nessa longa trajetória, Valter presenciou momentos importantes de evolução deste Comitê, exemplo de pioneirismo no que tange os Comitês de Bacia no Brasil. Dentre eles, Valter cita, assim como Sr. Ademir, a criação dos Subcomitês, em agosto de 2004, como um dos pontos altos. “Além deste, destaco também a elaboração do Plano Diretor em 2004, a Criação da Agência de Bacias Peixe Vivo, entidade que funciona como secretaria executiva do Comitê, em setembro de 2006, e também a estruturação da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, em março de 2009”, completa.
Participação, comprometimento e orgulho. Essas foram as palavras de ordem de Valter ao falar sobre o CBH Rio das Velhas. O coordenador do GACC aproveitou para citar nominalmente os presidentes com os quais trabalhou. “Tenho orgulho de participar do Comitê e de ter convivido com inúmeras pessoas que dedicaram parte de sua vida para sua consolidação. Destaco ter colaborado com todos os presidentes do Comitê: Paulo Maciel Junior, Apolo Heringer Lisboa, Rogério Sepúlveda, Marcus Vinicius Polignano e Poliana Valgas”.
“Essa participação, para mim, foi muito importante. Aprendi muito e fiz uma rede de contatos preciosa. Tenho orgulho de ter dedicado uma parcela do meu tempo à criação e consolidação do CBH Rio das Velhas. Vi nascer este Comitê, acompanhei seu crescimento e vi sua consolidação, o que nos dá orgulho e satisfação de vê-lo, hoje, como o mais representativo e melhor Comitê de Bacias do Brasil”, finaliza.
Cecília Rute
Luta, aprendizado e participação
Cecília Rute de Andrade Silva: um nome muito presente na história do CBH Rio das Velhas. Atualmente como suplente, Cecília já integrou as Câmaras Técnicas Institucional e Legal (CTIL) e a de Outorga e Cobrança (CTOC), além do GACG. Empresária e ambientalista, Cecília foi conselheira titular por “muitos anos” no CBH Rio das Velhas e é também conselheira no Subcomitê Ribeirão Arrudas.
Inicialmente ligada ao Projeto Manuelzão, Cecília Rute entrou no CBH Rio das Velhas em 2002, com atuação intensa no enfrentamento à canalização de córregos urbanos. “Nessa época tínhamos muitos córregos sendo canalizados em Contagem e Belo Horizonte, e esses córregos já estavam poluídos. Então, encapei também a luta pela qualidade dessas águas”, completa.
Um dos momentos mais marcantes citados por Cecília foi a conquista da sede do Comitê e da consolidação da equipe de mobilização social do colegiado. “Lutamos muito para conseguir uma sede. As reuniões aconteciam cada dia em um local diferente e, com muita luta, conseguimos a sede e a manutenção da equipe de mobilização. Como faríamos o Comitê, como ele é hoje, sem uma sede e sem uma equipe de mobilização? Então, foi um momento de muito orgulho para mim”, afirmou.
Ainda sobre a satisfação de fazer parte, Cecília destaca a união, que sempre presenciou, entre os integrantes do colegiado. “Olha, o CBH Rio das Velhas é exemplar, principalmente porque nós, conselheiros e conselheiras, somos unidos. É uma grande família. Este Comitê, hoje, é um exemplo de administração em nível nacional e, até mesmo, internacional, por que não? Ele é um modelo para outros Comitês de Bacia no Brasil inteiro”.
Cecília define o CBH Rio das Velhas em uma palavra: aprendizado. “Eu fiz uma faculdade nestes 23 anos. Nenhuma escola ou faculdade vai conseguir me proporcionar a sabedoria que este Comitê me proporcionou. As pessoas, os ensinamentos, aprendi muito sobre a natureza, então tenho sobre o Comitê muito orgulho. Sou muito feliz e amo de paixão o CBH Rio das Velhas”, finalizou.
Heloísa França
Preservação e respeito
“Trabalhar pela preservação”. Nessa frase está a importância do CBH Rio das Velhas para Heloísa Cristina França Cavallieri, conselheira titular do Comitê, atual secretária-adjunta e e membro dos dos Subcomitês Rio Itabirito, Nascentes e Águas da Moeda.
Heloísa, representante do Serviço Autônomo de Saneamento Básico (SAAE) de Itabirito, entrou em contato com o CBH Rio das Velhas pela primeira vez no início dos anos 2010. “Eu fui conhecer o Comitê em abril de 2011, quando iniciei minhas atividades aqui no SAAE e o órgão já fazia parte do CBH Rio das Velhas e do Subcomitê Itabirito”, acrescenta.
Heloísa conta que não conhecia o Comitê anteriormente, mas que a identificação foi instantânea. “Me identifiquei. Desde a faculdade, me desdobrava sobre a questão do saneamento e dos recursos hídricos, então criei logo esse laço com o Comitê”.
“Eu costumo falar que todo momento acaba sendo marcante, seja um processo na CTOC, no qual eu conheço outras sub-bacias, por exemplo, mas toda Plenária é muito marcante. É um momento ímpar, a forma com que os conselheiros colocam suas defesas, seus comentários, são formas diferentes de enxergar a bacia, o território, mas isso acontece de forma muito respeitosa e nunca pessoal, mesmo em discussões bem acirradas”, destacou.
Sobre a composição do CBH Rio das Velhas, Heloísa reconhece a importância de todos os agentes que compõem o colegiado e que trabalham pela constante melhoria do Rio das Velhas e de sua bacia, mas destacou, em especial, a participação da sociedade civil neste processo. “Essa força de vontade é muito bonita, essa relação é por amor. Elas representam uma associação, mas as pessoas estão ali por gostarem do rio, do que elas fazem e pela vontade de trabalhar pelo rio”.
“O CBH Rio das Velhas em uma palavra? Para a minha representação, usuária do saneamento, seria ‘respeito’. Isso porque, precisamos respeitar o território, respeitar as águas, e no meu setor de saneamento não se vive sem água. A água é meu produto, se não existe nada em matéria de preservação, de volume de água disponível, o SAAE não tem nem de onde tirar a matéria prima para nosso trabalho”. Ela completa. “Tenho muito orgulho da minha relação com o Comitê, da credibilidade, da aceitação com que os colegas me tratam, como o plenário tem esse respeito por mim, que represento uma entidade usuária, de saneamento municipal”, finaliza.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Arthur de Viveiros
Ilustração: Clermont Cintra