Chuva deve vir mais cedo, mas momento é de alerta na vazão do Velhas

19/08/2022 - 17:40

Dados meteorológicos da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) preveem que a chuva deve chegar mais cedo – e mais forte – do que em 2021 à bacia do Rio das Velhas, a montante da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A probabilidade é de que os índices pluviométricos superem a média de anos anteriores em 20% no mês de setembro, 50% em outubro, 30% em novembro e 20% em dezembro. Os números foram compartilhados na última reunião do Grupo Gestor de Vazão do Alto Rio das Velhas (Convazão), realizada por videoconferência no último dia 16.


Como, porém, foto de comida não enche barriga, o momento ainda é de estiagem pronunciada, que derruba a umidade relativa do ar a níveis inferiores aos de regiões desérticas e encolheu a vazão medida em Bela Fama – na captação da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), no Sistema Rio das Velhas, em Nova Lima – para menos de 10 m3/s nos primeiros dias de agosto.

Esse cenário levou o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), que lidera o Convazão, a declarar estado de alerta desde o dia 9. Uma semana depois, pouco havia mudado.

Recursos paliativos vão sendo empregados pelo Convazão, que tem também a participação da Copasa, do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) e do SAAE de Itabirito, além de Cemig e das mineradoras Vale e Anglogold Ashanti, que possuem barramentos fluviais na região do alto curso do rio.

Entre as medidas de emergência estão o aumento da defluência (água que sai) das barragens de Rio de Pedras, de propriedade da Cemig, em Itabirito, e da AngloGold, no sistema Rio de Peixe, em Nova Lima, e a redução do volume captado pela Copasa para patamares inferiores a 7 m3/s.

Brusca oscilação

Josiene Perdigão, da Copasa, que estuda as vazões do Velhas desde 2014, acrescentou outra pulga na orelha da seca: “tenho visto variações muito abruptas, precisamos entender melhor o que é. Sinto que falta até 1 m3 (por segundo). Consigo detectar se a água de reforço chegou ou não chegou. No dia 15, às 11 h, tínhamos 11,3 m3/s, às 7 da manhã de hoje (16/8), 10,48 m3/s, e às 9 da manhã, 10,08/s. Tem algum lugar que está consumindo intermitentemente”.

Renato Constâncio, vice-presidente do CBH Rio das Velhas, questiona: “Será que aí pra cima tem algum uso irregular, flutuante?”, revelando preocupação com potenciais usuários sem outorga. Admite ainda “algum erro nos dados”, já que “a bacia passou por stress de excesso de água no começo do ano. Na Anglo deu erro. Quem garante que nossos números dos postos hidrométricos estejam certos? Talvez tenhamos que recalibrar”.

Nelson Guimarães, representante da Copasa no Convazão, concorda: “Importantíssimo aferir a precisão, como a Anglo está fazendo em Rio de Peixe, pra gente poder conhece melhor e tomar as decisões mais acertadas”.



Encaminhamentos

O CBH Rio das Velhas vai requerer do IGAM a atualização das outorgas no Alto Velhas. Além disso, convidará a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), que promove medições anuais e esteve em julho na região de Honório Bicalho (onde fica a captação de Bela Fama), a compartilhar seus números. Cemig e Copasa ficaram de reforçar o convite.

Constâncio prometeu levar o setor de meteorologia da Cemig na próxima reunião do Convazão, em 24 de agosto, e solicitou a Mauro Lobo, representante da Vale, que a mineradora apresente dados atuais de captação no mesmo encontro.

O Convazão vai pedir ainda dados dos últimos 30 dias sobre a vazão do Rio Itabirito, hoje na casa de 1,5 m³/s, cujo monitoramento foi sugerido por Jeam Alcântara, da equipe de mobilização do CBH Rio das Velhas.

O Comitê vai divulgar nota relatando o estado de alerta, informando as medidas adotadas e exortando a população ao uso racional da água.


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Paulo Barcala
Fotos: Bianca Aun