Exemplo que vem do Brejo

29/11/2021 - 11:18

Na última sexta-feira (26), uma luta de mais de 20 anos enfim ganhou. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), o Subcomitê Ribeirão Onça e o Núcleo Manuelzão do Brejinho, em parceria com a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica de Belo Horizonte, celebraram a consolidação do Parque Ecológico do Brejinho, fruto da perseverança da comunidade.

No bairro São Francisco, a meio caminho da Lagoa, em Belo Horizonte, uma turma de professoras e estudantes começou, em 1998, a reivindicar a área para o uso público. Pouco depois o Projeto Manuelzão abraçou a causa. Mãos dadas ajudam e fortalecem.

Dalva Lara e Jane Boaventura, professoras da Escola Municipal Aurélio Pires, puxavam as turmas e davam aulas lá, Ciências e pré-escola, no mesmo bom tom.  “Passamos por sete prefeitos. Ao final, vencemos o OP [Orçamento Participativo]. Saiu a verba para desapropriação, começaram a cercar, fazer guarita… Foram 20 e tantos anos de espera. Estou muito feliz e grata à comunidade”, diz Dalva, que se aposentou na escola e relembra: “Quando começamos não existia nada aqui, só mato, nascentes, girinos, um curral com vacas. Ninguém usava esse espaço para o lazer. Para a escola, para a Educação, como campo de pesquisa, era um prato cheio”.

A nascente revitalizada faz parte da microbacia do Córrego São Francisco, que dá no Engenho Nogueira, que vai ao Pampulha, que cai no Onça. “A cidade vive brigando com as águas, canaliza, impermeabiliza e depois sofre com as inundações”, alerta Marcus Vinícius Polignano, secretário do CBH Rio das Velhas. “Aqui é um exemplo de como a cidade, área verde, população e água convivem. Socializar não é no meio da avenida, com carros a mil por hora. É em áreas como essa.”, reflete Polignano. E ensina: “Com o isolamento, aprendemos mais do que nunca que somos seres sociais”.

Elisa Coelho, vizinha do Parque, confirma, desfrutando ao lado do filho. “É um presente para a gente. Eu venho quase todos os dias, é só atravessar a rua. As crianças brincam, andam de bicicleta. Nesse tempo de pandemia foi um respiro, a gente só saía de casa para vir aqui”.

Lindaura Santos, ativista comunitária do Projeto Manuelzão, Núcleo do Brejinho e Subcomitê Ribeirão Onça, diz que não tem palavras: “Isso é fruto do esforço. O mais gratificante é ver que nós vencemos e hoje estamos aqui comemorando, não tem coisa que paga”. Mas adverte: “A luta continua. O parque ainda não está todo implantado. O próximo passo é fazer os banheiros, os bebedouros. O parque é da comunidade, um parque aberto. Ninguém quer um parque fechado”.

Ela tem razão. Só nas bacias de Arrudas e Onça são mais de 300 tributários. O Projeto de Valorização de Nascentes Urbanas, do CBH Velhas, que abraçou o Brejinho, sabe que há muito a fazer. Polignano define a conquista e dá bússola: “A gente não existe sem biodiversidade. Estamos falando aqui de uma área de quase 67 campos de futebol. Na época da chuva, serão 67 campos de futebol para absorver a água e evitar inundação, uma água que vai alimentar toda essa vegetação. Essa é uma luta que temos que travar. Estamos numa mudança climática e temos que mudar modelos de cabeça e de cidade”. Que os deuses da chuva nos ouçam por tanto.


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Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Paulo Barcala
Fotos: Bianca Aun