Medidas têm permitido à Copasa manter níveis de captação necessários ao abastecimento de milhões da Grande BH
Atravessando o que tem sido, senão a mais longa, certamente uma das piores secas da história do Alto Rio das Velhas, com regiões onde não chovia há algo como 170 dias, um dos colegiados do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) tem sido fundamental para evitar que Belo Horizonte e a Região Metropolitana (RMBH) entrem em severo regime de racionamento de água.
Na rigorosa estiagem de 2024, o Grupo Gestor de Vazão do Alto Rio das Velhas (Convazão) acompanha com lupa a crise hídrica e passou a adotar, desde o final de agosto, medidas assertivas para permitir que a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) mantivesse os níveis de captação necessários ao abastecimento. Entre as providências, uma especialmente decisiva contou com o indispensável suporte da AngloGold Ashanti e consistiu no aumento da defluência [água que sai] do Sistema Rio de Peixe, complexo hidrelétrico da mineradora que reúne as lagoas Grande, Miguelão e das Codornas, em Nova Lima, para até 2,8 m3/s – cerca de 30% do volume captado na Estação de Bela Fama, no Sistema Rio das Velhas, da Copasa, em Nova Lima.
“O trabalho do Convazão”, observa Nelson Guimarães, superintendente de Desenvolvimento Ambiental da Copasa, conselheiro do CBH Rio das Velhas e presença permanente nas reuniões do Grupo, “foi ainda mais essencial neste momento, pelas ondas de calor e escassez de chuvas”.
Veja mais fotos do Sistema Rio de Peixe:
Para que se possa entender a dimensão do problema, um mês após as primeiras manobras decididas no Convazão, a vazão do Rio das Velhas em 20 de setembro era de apenas 10,76 m3/s à altura de Rio Acima, pouco antes de Bela Fama, informava o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM).
Um dia antes, a Copasa retirara do rio 8,19 m³/s, enquanto sua outorga determina que a vazão residual mínima [quantidade de água que deve permanecer no rio após a retirada] seja de 3,04 m³/s. A conta só fechou por obra da gestão realizada dentro do Convazão que incrementou a contribuição do Sistema da AngloGold.
Estação de Tratamento de Água de Bela Fama, no Sistema Rio das Velhas, em Nova Lima
O abastecimento da RMBH, Guimarães explica, “vem do Sistema integrado que busca água nas bacias do Rio Paraopeba – captação direta mais três reservatórios, hoje com média de 50% do volume útil – e do Rio das Velhas, de onde vem 46% do total da água, toda ela retirada diretamente do rio, sem reservação, e que, por isso, precisa contar com os reservatórios existentes a montante [como os da AngloGold Ashanti] para equilibrar a vazão disponível e garantir o abastecimento público em períodos de seca”.
Exemplo
Liderado pelo Comitê e composto ainda por Copasa, IGAM e Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), além de representantes dos usuários de água com reservatórios a montante da captação da empresa estadual de saneamento em Bela Fama, como a AngloGold Ashanti, o Convazão foi criado pelo CBH Rio das Velhas em 2013 e formalmente instituído dois anos depois com a missão de gerir os recursos hídricos nessa porção do rio para assegurar, em tempos de escassez, o abastecimento público da RMBH e a vazão ecossistêmica do Rio das Velhas.
Renato Constâncio (esq.) e Nelson Guimarães (dir.) representam, respectivamente, a Cemig e a Copasa, no Convazão
Renato Constâncio, engenheiro de Planejamento Energético da Cemig Geração e Transmissão, secretário do CBH Rio das Velhas e coordenador do Convazão, destaca: “O Grupo articula o aporte de água por meio do monitoramento das vazões afluentes e defluentes nos reservatórios da região, num processo de gestão compartilhada e integrada entre os usuários e a Copasa, principal captador de águas no Alto Velhas”. Com orgulho, ele vê esse trabalho como “exemplo de governança na gestão dos recursos hídricos”.
Weider de Oliveira, engenheiro de planejamento da Gerência de Energia da AngloGold Ashanti, considera que a “iniciativa do grupo tem grande valia, principalmente em períodos críticos como o que vivemos nesses últimos meses. A interação com o CBH e órgãos públicos com os usuários, o monitoramento periódico e o planejamento integrado são extremamente positivos e o resultado é coerente com os valores da empresa”.
O diretor-geral do IGAM, Marcelo da Fonseca, também reconhece o papel do Convazão nesse momento crítico. “A bacia do Rio das Velhas como um todo tem registrado redução significativa de vazão, mas é um pouco melhor a montante da RMBH do que no restante da bacia em função da atuação muito proativa do Convazão, que tem trabalhado a gestão no território, juntamente com os usuários, garantindo uma vazão mínima nessa porção”.
Marcelo da Fonseca também destaca a importância do Convazão para a segurança hídrica da RMBH
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Paulo Barcala
*Fotos: Robson de Oliveira; Bianca Aun; Acervo/TantoExpresso; Ohana Padilha; Alexandre Alves; Paulo Vilela